sábado, 30 de maio de 2009

Diane Arbus / Walt Whitman





Identical Twins, Roselle NY 1967, Diane Arbus



I am the poet of slaves,and of the masters of slavesI am the poet of the bodyAnd I am[Entire passage struck through]
I am the poet of the bodyAnd I am the poet of the soulThe I go with the slaves of the earth are mine andThe equally with the masters are equally [illegible]And I will stand betweenthe masters and the slaves, And I Entering into both, andso that both shall understand me alike.

Walt Whitman, Leaves of Grass, Notebook, 1857

Diane Arbus, fotógrafa Norte-Americana. Nasceu a 14 de Março de 1923 na cidade de Nova Iorque e morreu a 26 de Julho de 1971.
Conhecida pelos seus retratos, ganha destaque na história da fotografia por ter sido a primeira fotógrafa americana a ser escolhida para a Bienal de Veneza de 1972.
Arbus rompe com a representação realista da escola documental dos anos 30/40.
Segundo John Szarkowski, fotógrafo norte-americano (1925-2007), "a sua obra afastou-se das principais preocupações da geração anterior, valorizando a precisão psicológica acima da frontal, o particular acima do social, aquilo que era permanente e protótipo acima do efémero do fortuito e a coragem acima da subtileza."
A “verdade” da obra está na integridade pessoal do fotógrafo.
A sua opção, de fotografar pessoas incomuns, assina os seus trabalhos, mostrando ao mundo um outro olhar sobre os “freaks”.
Com o objectivo de realçar os objectos em relação ao fundo, Arbus utiliza o flash durante o dia esta dupla exposição à luz sublinha o essencial.

Período histórico; Segunda Grande Guerra, Guerra do Vietname, Guerra-fria.

Walt Whitman, poeta norte-americano. Nasce a 31 de Maio de 1819 em Long Island, e morre a 26 de Março de 1892.
Considerado um dos maiores poetas norte-americanos, rompe a ideia de imitação da arte europeia através do seu patriotismo.
Poeta democrata, marca os seus textos com referências à igualdade e, constrói, também ele, a história do país.
“He was the poet who dared to claim poetry for America as well as America for poetry”[1]
A sua principal obra, Leaves of Grass, foi editada pela primeira vez em 1855, continha apenas doze poemas e não era assinada. Ao longo da sua vida foi reeditando Leaves of Grass, construindo uma visão histórica da América baseada nas suas próprias experiências, como por exemplo” Drum-Taps”, que tem por base a sua vivência da Guerra da Secessão. Leaves of Grass foi reeditado oito vezes.
A utilização do verso livre marcou toda a literatura posterior como o caso do poeta e ensaísta português Fernando Pessoa.

Período Histórico; Expansão do território americano, crise económica de 1837, Guerra da Secessão, 1861-1865, Abolição da escravatura, 1863.

Numa leitura transversal ao retrato de Diana Arbus e ao poema de Walt Whitman, é clara a ideia de identidade.

O retrato, uma forma linear de imortalizar o momento, um congelamento do tempo, a questão dos gémeos, uma duplicidade da própria natureza como um sublinhar de que todos somos iguais. A utilização de roupas iguais, transformando dois indivíduos numa cópia fiel do outro. Contudo Arbus tenta mostrar que a identidade é marcada por muito mais do que simples marcas, como num jogo das diferenças. Aqui reside a verdadeira arte de Arbus. Perante o que parece ser um retrato simples de duas irmãs, neste caso gémeas, uma imagem que poderia ser um retrato inocente de família, é sublinhada a mensagem de que cada indivíduo tem a sua própria identidade. Ao observarmos o retrato vemos a diferença no sorriso, a diferença do olhar, que numa primeira leitura parece ser idêntico, referência ao título, Identical Twins.
A descentralização da fotografia é também uma marca dessa identidade, embora a gémea que se encontra à esquerda do enquadramento esteja mais centrada é na luminosidade da identidade, da singularidade, que somos imediatamente atraídos para a gémea à direita.
A frontalidade, conseguida através da utilização do ângulo recto, posição da câmara face ao objecto, torna o retrato, de alguma forma, num Raio X psicológico, em que não há subterfúgios, esta frontalidade, linearidade confere humildade à obra de Arbus. Salientando, para um olhar mais atento, democracia, igualdade, humanidade.

No poema de Walt Whitman, é na utilização do pronome pessoal “I”, utilizado pelo poeta que, como o Professor Mário Jorge Torres diz, Whitman utiliza como um pseudónimo que por acaso é o seu próprio nome, que encontro a primeira marca de identidade. É nesta familiaridade, nesta exposição, que Whitman se aproxima do leitor. De alguma forma, com a mesma humildade que Arbus imprime nos seus retratos, sublinhando a individualidade em relação ao colectivo. Por outras palavras, distingue o indivíduo dentro da sociedade, atribuindo-lhe ou salientando as marcas do seu carácter visíveis através da fotografia.
Ainda em relação ao poema, palavras como equally, between, alike, transcrevem a ideia de um plano único. Um mesmo mundo para pessoas diferentes onde todos podem e devem ser aceites. À parte da identidade, papel de cada um, uma democracia que promove igualdade” entering into both // so that both shall understand me alike”.
É neste paralelo que encontro o verdadeiro elo entre o retrato de Arbus e o poema de Whitman. A forma como ambos retratam uma América pessoal, uma América visitada por Americanos, que não apenas vêem, mas sentem as diferenças, as desigualdades, os esquecidos.
Assim como Walt Whitman resgatou para a poesia problemas como o da escravatura, Arbus trouxe a imagem dos que, na sua diferença, são os verdadeiros escolhidos.


Bibliografia / Sitiografia
Alves, Teresa, Teresa Cid (coord), Walt Whitman “Not only summer, but all seasons”, Ed Colibri
http://www.poets.org/
http://whitmanarchive.org/
http://bailiwick.lib.uiowa.ed/
http://www.youtube.com/
http://www.wikipedia.org/
http://www.americanpoems.com/
http://www.masters-of-photography.com/
http://www.artphotogallery.org/
www.ldesign.wordpress.com


Marisa Vieira
Nº 35663
[1] Walt Whitman “ Not only summer, but all seasons”, pag, 11

terça-feira, 26 de maio de 2009

Jasper Johns / Hart Crane

Jasper Johns/Hart Crane



JASPER JOHNS (1930- )

Jasper Johns nasceu em 1930 em Augusta, Geórgia. Após o divórcio dos pais, em 1932 ou 1933, foi educado pelo seu avô paterno que vivia na Carolina do Sul. No inicio dos anos 60, Johns afirmou numa entrevista que começara a desenhar aos três e tinha parado.


Segundo Alan Solomon, o trabalho maduro de Johns começa com a primeira Bandeira, pintada em 1955. O título Bandeira era uma ilusão, pois a bandeira não era real, mas apenas uma representação,um objecto, plano, imóvel e bidimensional. A sua imagem da bandeira americana tornou-se o motivo que mais se identifica com Johns, porque pegou nela, tal como em várias das suas imagens e levou-a através de variações ao longo das décadas que se seguiram.


A confluência da imagem com o campo pictórico ,muito rara na época, intrigou os críticos. Para os observadores contemporâneos, a bandeira parecia juntar dois conceitos e abordagens opostos -original e reprodução, a pintura gestual do Expressionismo Abstracto e a ideia de Marcel Duchamp do ready-made. Os primeiros objectos de Johns -bandeira, alvos, letras e números- eram bidimensionais; para os retratar bastava reproduzi-los. A técnica da encáustica – uma mistura de tinta de óleo e papel de jornal com cera derretida, aplicados sobre a tela – era pouco comum e tornou-se a sua imagem de marca. Usada pela primeira vez na Bandeira, permitia-lhe tornar visível cada pincelada separada e assim, o próprio processo de pintar.


Ao nível dos temas, as bandeiras e os alvos cumpriam ainda uma outra pré- condição básica do seu trabalho. Não só eram “concretos”, como eram “coisas que se vêem mas para as quais não se olha, não são examinadas, e ambas têm áreas definidas que podem ser medidas e transferidas para a tela” explicou Johns a Walter Hopps em 1965. Claro que a bandeira não era um objecto neutro. Em meados da década de 1950, os EUA tinham-se tornado uma potência mundial a nível político e económico. Em Dezembro de 1942, o congresso elaborou estipulações legais detalhadas sobre a utilização pública da bandeira; em 1954, o Dia da Bandeira (a comemoração anual da introdução da bandeira nacional americana a 14 de Julho de 1777), foi celebrado com entusiasmo. No clima político da Guerra-fria, proliferavam as tendências patrióticas; ao longo dos anos, as Bandeiras de Johns foram arrastadas para o contexto político.

Flag,1954,1955


Harold Hart Crane (1899-1932)

Nascido a 21 de Julho de 1899, este poeta inspirou-se nos poemas de T.S. Eliot e as suas obras eram tradicionais na forma e arcaicos a nível de linguagem. Harold Hart Crane nasceu em Garrettsville, (Ohio) , em 1899 e cometeu suicídio ao atirar-se do convés do navio S. S. Orizaba junto à costa da Florida, em 26 Abril de 1932.
A sua educação foi informal. Não acabou o secundário, aos 17 anos convenceu os pais (que se tinham acabado de se divorciar) a deixá-lo ir para Nova Iorque. A maioria dos seus poemas em The Bridge (1930) foi escrita nas Isle of Pines ao largo da costa de Cuba onde a família possuía uma casa de campo para passar férias.
Na poesia de Crane a visão épica da história americana centra-se nos diversos avanços tecnológicos (comboio, metro, avião) que criam a ilusão de conquista do espaço devido á aceleração do consumo do tempo. Crane era também homossexual numa cultura homofóbica e é esse factor que possivelmente torna a suas obras mais complicadas de interpretar pois possivelmente utilizava um estilo mais complexo para codificar questões relativas à sua identidade sexual. Crane assume a importância e qualidade da obra de T.S.Eliot mas não apoia o seu modo escrita, tornando-se o seu objectivo ultrapassar o pessimismo do modernismo com a escrita de Walt Whitman. Em The Bridge (1930), está incluído o poema “Cape Hatteras”, nome de um cabo situado na costa atlântica da América do Norte. Este poema refere a história da América num movimento de expansão decadente, com a perda dos valores tradicionais e o aumento e procura incessante do capitalismo.

The captured fume of space foams in our ears--


What whisperings of far watches on the main


Relapsing into silence, while time clears


Our lenses, lifts a focus, resurrects


A periscope to glimpse what joys or pains


Our eyes can share or answer--then deflects


Us, shunting the labyrinth submersed


Where each sees only his dim past reverse


excerto de "Cape Hatteras" de (1930)


Este excerto do poema de Crane inspirou a obra , Periscope (Hart Crane) de 1963. Neste quadro a composição é dividida horizontalmente em três partes. Sobreposta a estas divisões e localizada no lado direito da tela, existe uma área de tinta, neste caso, uma meia circunferência que começa no canto superior direito e que termina um pouco mais de meio caminho abaixo de cor cinzenta, onde existe uma impressão da mão e braço do artista em tinta preta, sugerindo que as mãos do artista foram as ferramentas para a raspagem. A secção superior é rotulada "RED" com letras de Stencil preto no centro do painel. Há também porções da palavra em cores cinza ao longo da secção. O painel central é tratado de maneira similar, excepto com o rótulo cinza escuro "YELLOW", e a ligeira inclusão do que parece ser manchas vermelhas e laranja pintadas sobre a letra "E." A porção extra visível da palavra é "EY", que resulta da palavra "YELLOW" no revertida, estabelecido ao lado da palavra correctamente ordenada e invertida no lado esquerdo da tela. O último painel é semelhante aos outros dois a nível de estilo e de tratamento, exceptuando o uso da etiqueta "BLUE em cinza claro. O fundo das áreas de cada uma das três secções é totalmente coberto com uma pincelagem rápida e gotejada envolvendo a área de preto, cinzas, branco e com uma distribuição visualmente equilibrada.
Afoot again, and onward without halt,-
Not soon, nor suddenly,-no, never to let go
My hand
In yours,
Walt Whitman----
So----
Nesta última estrofe do poema é possível que Crane quando refere “My hand in yours, Walt Whitman, so , esteja metaforicamente a dar o seu apoio a Whitman. Jasper Johns também pode ter essa intenção: o braço estendido pode ser visto como se Johns estivesse a dar a mão a Crane que admirava e por sua vez Crane dá a mão a Whitman numa união entre artistas que se apoiam.


Sitografia:

www.en.wikipedia.org/wiki/Jasper_Johns
www.artchive.com/artchive/J/johnsbio.html
www.nga.gov/exhibitions/johnsinfo.shtm

Cátia Almeida Nº 37329

domingo, 24 de maio de 2009

Cindy Sherman - Al Berto

Cindy Sherman
Untitled Film Still # 48, 1979
Black-and-white photograph
8 x 10 inches

O LUGAR é agreste
manchado de mil amarelos em expansão vermelhos
as veredas abrem-se húmidas
quando o sol está a pique e fere tudo o que se move

eles caminham na direcção das ruínas lado a lado
de costas para o olho da câmara
descrevem um longo movimento circular
por hoje chega
basta-nos filmar o crepúsculo

quando chegados ao cimo da colina
as ruínas da casa desaparecem na fulguração campestre do calor
o sal envolve-os despem-se
e as urtigas fustigam os sexos
estamos muito próximos de um mar

apesar do mau tempo não choverá
ficamos com a certeza de um pouco de sémen derramado
durante o dia com inocência

mais tarde
a solidão evadir-se-á da cumplicidade muda da ave pousada sobre a pedra

Al Berto
de «Trabalhos do Olhar», 1976/82: Filmagens, 1980/81


Cindy Sherman nasceu em New Jersey, mas passou toda a sua infância e parte da adolescência em Long Island. Ainda jovem, decide frequentar as aulas da Satate University College, de Buffalo, onde conhece Robert Longo. Juntos criam um espaço de exposições independente, Hallwalls. Em 1977, começa a servir-se de si mesma como modelo na série Untitled Film Stills, onde interpreta várias personagens femininas, estereotipadas, de filmes de série B, de clássicos de Hollywood, de film noirs ou de filmes estrangeiros (principalmente os filmes da Nouvelle Vague francesa e do Neorealismo italiano). Em 1980, realiza com esta série uma exposição individual num dos berços da avant-gard do final do século XX, The Kitchen. Este evento granjeia-lhe o reconhecimento do público e dos críticos e faz com que entre numa brilhante ascensão.

A série Untitled Film Stills foi inspirada nas fotografias que eram usadas para fazer publicidade aos filmes nos cinemas – as film stills. Estas representavam um momento chave do filme, contendo todo o seu espírito e atmosfera. Quando se tratava de filmes mais antigos, eram impressas a preto e branco e tinham muitas vezes o formato de 8x10''.
Nesta fase, Sherman representa “the most artificial-looking kinds of women” - mulheres carregadas de maquilhagem, que usam saltos altos, soutiens pontiagudos, etc. Aqui, são retratadas personagens-tipo, desde a mulher de carreira, passando pela rapariga inocente da “small town” até à fulgurante bibliotecária. Untitled Film Stills têm uma enorme carga dramática, sendo a acção subentendida pelo observador. Cindy Sherman não nos diz do que é que falam as suas fotografias, nós é que as temos que interpretar. Tal como os film stills, estas fotografias obrigam-nos a levantar questões sobre a personagem retratada, a acção em que está envolvida, o tipo de filme representado, a identidade da actriz, etc; as respostas que são obtidas vão variar consoante o observador e depender do nível de conhecimento cultural/cinematográfico de cada um.


Al Berto nasceu em Coimbra, mas foi em Sines que cresceu, até à sua adolescência. Frequentou dois cursos de artes plásticas, um em Portugal e outro em Bruxelas (em 1967). A partir de 1971 dedicou-se exclusivamente à literatura. Os seus textos são caracterizados por apresentarem, muitas vezes, um carácter fragmentário, numa ambiguidade entre a poesia e a prosa. A sua obra poética, de certo modo, recupera uma herança surrealista, que junta o real ao imaginário. Nela é representada, frequentemente, um quotidiano de objectos e de pessoas, passado e presente, que liga um tempo histórico a um tempo individual.
Al Berto tinha um estilo auditivo, durante o seu processo criativo lia os seus poemas em voz alta e era em voz alta que mais gostava de expressar a sua obra, segundo ele “os poemas precisam de uma voz”. Participou em várias leituras públicas. Tal como Sherman foi actriz nas suas fotografias, Al Berto poderá ter sido actor da sua própria escrita ao interpretar a sua obra em frente a um público.

Ao observarmos a imagem Untitled Film Still # 48 de Cindy Sherman e o poema [O lugar...] de Al Berto encontramos logo um ponto em comum, ambos pretendem ilustrar um ambiente cinematográfico, um ambiente que, mesmo não pertencendo a um filme real, conseguimos identificar, é-nos familiar. Tanto num como no outro existe uma linha ténue a separar o real do imaginário.
Para além disso, ambos apontam para o tema da solidão. Em Sherman, essa solidão é visível na forma como a figura feminina está retratada, a olhar para o horizonte, de costas para a câmara, à espera que alguém apareça ou que alguma coisa aconteça naquela paisagem deserta. Já em Al Berto, a solidão é ilustrada de duas formas através do último verso: “a solidão evadir-se-á da cumplicidade muda da ave pousada sobre a pedra”, aqui a solidão tanto pode ser alusiva às ruínas da casa, que depois do anoitecer ficam desertas, sem nenhum habitante, a não ser a ave que lá pousa, como pode ser uma metáfora dos actores, que inicialmente, mesmo que acompanhados durante as filmagens e de terem tido uma relação, ainda que fictícia, sentem-se sozinhos, no entanto, à medida que o tempo passa essa solidão vai-se evadindo da “cumplicidade muda” entre os dois.
Uma das muitas diferenças entre estes dois artistas reside no facto de Al Berto transpor para a sua obra as principais problemáticas da sua vida pessoal, tais como o exílio, a homossexualidade, a vida errante, a doença (Sida) e a noção de morte próxima, enquanto que Cindy Sherman apenas representa personagens-tipo que, aparentemente, não têm qualquer ligação com a sua própria vida.

Bibliografia Convencional

OWENS, Craig, Cindy Sherman, London, October Press, 2006
DANTO, Arthur Coleman, Cindy Sherman: Untitled Film Stills, New York, 1990, p. 8 - 14
MORRIS, Catherine, Cindy Sherman, New York, Harry N. Abrams, Inc, 1999, p. 5 - 54
RUHRBERG, Karl, SCHNECKENBURGER, Manfred, FRICKE, Christiane, HONNEF, Klaus. Arte do Século XX: Pintura, Escultura, Novos Media, Fotografia. Colónia, Taschen, 2005, p. 676, 677
GROSENICK, Uta, RIEMSCHNEIDER, Burkhard, Art Now, Colónia, Taschen, 2005, p. 288 – 291
CHOUGNET, Jean-François, DEMPSEY, Amy, CORNE, Eric, ALMEIDA, Bernardo Pinto de, Museu Berardo: Um Roteiro, Londres, Thames & Hudson Ltd., 2007, p.130
Al Berto, Vigílias, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004, p.47
Al Berto, O Último Coração do Sonho, Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2006, p. 15 – 31
DUNCA, Paul, Alfred Hichcock: A Filmografia Completa, Colónia, Taschen, 2003


Bibliografia Virtual

http://www.tate.org.uk/servlet/ViewWork?workid=26065
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2003000100004&script=sci_arttext
http://en.wikipedia.org/wiki/French_New_Wave
http://en.wikipedia.org/wiki/Italian_Neorealism
http://en.wikipedia.org/wiki/Classical_Hollywood_cinema
http://www.astormentas.com/alberto.htm
http://www.assirio.com/autor.php?id=973&i=Q
http://nescritas.com/homenagemalberto/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Berto
http://www.theslideprojector.com/art6/art6lecturepresentations/art6lecture13.html


Cinematografia

SHERMAN, Cindy, Doll Clothes, 1975
Hitchcock, Alfred, Vertigo, 1958
Hitchcock, Alfred, Os Pássaros, 1960
Hitchcok, Alfred, Psico, 1960
Godard, Jean-Luc, Á Bout de Souffle, 1960


Inês Oliveira Carvalho, nº 37101


Berenice Abbott + Donald Justice

Huts and unemployed, West Houston and Mercer Street, Manhattan - 25 de Outubro de 1935

Berenice Abbott -Fotógrafa americana nascida em 1898. Conhecida pelo seu trabalho fotográfico Changing New York, Abbott fotografou a arquitectura da cidade de Nova Iorque durante os anos 30 ao mesmo tempo que nos mostrava os momentos conturbados que se vivia nos EUA durante a Grande Depressão. Os objectos fotográficos de Berenice Abbott eram muitas vezes de pessoas do mundo artístico e literário, tendo inclusive fotografado o escritor James Joyce. O seu trabalho mais conhecido intitulou-se, Changing New York e foi subsidiado pelo governo americano através do programa FAP (Federal Art Project).

Donald Justice - Poeta americano nasceu a 12 de Agosto de 1925 em Miami. Era para além de poeta e escritor, professor. Em 1980 ganhou o Pulitzer Prize. Foi membro da Academia de Artes e Letras e Presidente da Academia de Poetas Americanos desde 1997 a 2003. Donald Justice é conhecido pela importância que dá à rima na sua poesia.

Excerto do poema Pantoum of the Great Depression de Donald Justice:

Our lives avoided tragedy
Simply by going on and on,
Without end and with little apparent meaning.
Oh, there were storms and small catastrophes.

Simply by going on and on
We managed. No need for the heroic.
Oh, there were storms and small catastrophes.
I don't remember all the particulars.

We managed. No need for the heroic.
There were the usual celebrations,
the usual sorrows. I don't remember all the particulars.
Across the fence, the neighbors were our chorus (...)

Os anos 30 nos EUA, foram marcados pela Grande Depressão que alterou não só a economia do país como também todas as formas de arte . O New Deal veio ajudar os artistas, quando também eles estavam a passar por muitas dificuldades. O presidente Roosevelt criou assim o FAP (Federal Arts Program) à qual Abbott pertencia. O principal objectivo de Berenice Abbott com o seu trabalho Changing New York era fazer um estudo sociológico relacionado com as alterações do início do século XX em Nova Iorque nomeadamente a Grande Depressão, a construção e arquitectura que de dia para dia preenchia Nova Iorque. A cidade estava a mudar e Abbott quis testemunhar essa mudança.

Os homens que observamos na fotografia a tentar acender um cigarro são os chamados Forgotten Men(expressão utilizada pela primeira vez por Roosevelt num dos seus discursos) que são todos aqueles que o New Deal não conseguiu ajudar. Afinal, o sistema de recuperação económica não foi infalível. Estes dois homens são apenas dois exemplos dos milhares de homens e mulheres que viviam nas ruas de Nova Iorque nomeadamente perto da Brooklin Bridge e no Central Park. Ao observarmos esta fotografia ficamos com a ideia de que estes homens estavam a tentar construir o seu “home away from home”, pois as barracas que construíram assemelham-se muito à construção de uma casa. Os quadros pendurados do lado de fora da casa recriam o lar que desejam ter. Estes homens procuram continuar a ser dignos e “civilizados” não permitindo que a pobreza extrema a que muitos chegaram lhes afecte a sua“humanidade”.

Ao observarmos as janelas por cima das barracas podemos dizer que estes homens estão presos no sistema que lhes roubou tudo o que têm. Estão “afastados” do mundo. O beco onde vivem, pode ser interpretado como o pátio de uma prisão. Quando olhamos pela primeira vez para esta fotografia, apenas vemos dois homens e podemos até assumir que só eles vivem naquele lugar. Contudo, se olharmos bem a fotografia, verificamos que as barracas continuam e que não se sabe ao certo quantas pessoas vivem naquelas condições.

O poema de Donald Justice espelha muito bem a luta de todos os homens e mulheres que durante aqueles tempos conturbados lutavam por um futuro melhor. Mesmo com o desespero que se vive nas ruas, há sempre o amanhã. A Grande Depressão pode-lhes ter levado as suas casas, mas não lhes leva a vida e a esperança.“we managed” diz Justice no seu poema. E foi exactamente isso que estes homens e mulheres fizeram para conseguirem sobreviver.

Sitografia:

http://en.wikipedia.org/wiki/Donald_Justice ( última consulta: 21/05/09)
http://www.washingtonpost.com/wp-srv/style/books/features/19980920.htm
( última consulta: 21/05/09)
http://www.flickr.com/photos/nypl/sets/72157610903925533/ ( última consulta: 21/05/09)
http://www.mcny.org/museum-collections/berenice-abbott/passion.htm ( última consulta: 21/05/09)
http://jessica.teicher.googlepages.com/lifeofbereniceabbott ( última consulta: 21/05/09) http://xroads.virginia.edu/~UG99/vizzuso/photos.html ( última consulta: 21/05/09)
http://thestrangedeathofliberalamerica.com/fdrs-forgotten-man-speech-the-reaction.html ( última consulta: 24/05/09)

Foto: http://farm4.static.flickr.com/3061/3109787453_727c6b58f5.jpg ( última consulta: 21/05/09)

Liliana Matias nº 36261

2º ano de LLC- Estudos Norte-Americanos

sábado, 23 de maio de 2009

Carrie Mae Weems + Harper Lee

Carrie Mae Weems - 'Mirror, Mirror' - 1986


“ ‘(...) What was the evidence of her offence? Tom Robinson, a human being. She must put Tom Robinson away from her. Tom Robinson was her daily reminder of what she did. What did she do? She tempted a Negro.
‘She was white, and she tempted a Negro. She did something that in our society is unspeakable: She kissed a black man. Not an old uncle, but a strong young Negro man. No code mattered to her before she broke it, but it came crashing down on her afterwards.
‘Her father saw it, and the defendant has testified as to his remarks. What did her father do? We don’t know, but there is circumstancial evidence to indicate that Mayella was beaten savagely. (...) We do know in part what Mr. Ewell did: he did what any God-fearing, persevering, respectable white man would do under the circumstances – he swore out a warrant. (...)
‘And so a quiet, respectable, humble Negro who had the unmitigated temerity to “feel sorry” for a white woman has had to put his word against two white people’s. (...) The witnesses for the state (...) have presented themselves to you gentlemen in the cynical confidence that their testimony would not be doubted, confident that you gentlemen would go along with them on the assumption that all Negroes lie, that all Negroes are basically immoral beings, that all Negro men are not to be trusted around our women, an assumption one associates with minds of their calibre”

Excerto das alegações finais de Atticus Finch enquanto advogado de defesa de Tom Robinson. Retirado do livro To Kill A Mockingbird de Harper Lee, capítulo 20, p.225.


Carrie Mae Weems nasceu em Portland, Oregon em 1953. As suas primeiras fotografias foram tiradas em contextos políticos, visto que estava bastante envolvida na luta dos trabalhadores pela igualdade de direitos. Só começou a tirar fotografias de cariz artístico quando teve acesso ao livro The Black Photography Annual, um livro de imagens captadas por fotógrafos afro-americanos. Isto levou-a a mudar-se para Nova Iorque e ao Studio Museum no Harlem, onde conheceu um sem número de artistas e fotógrafos, tais como Frank Stewart e Coreen Simpson.
As suas fotografias, filmes e vídeos, que já foram exibidos mais de 50 vezes nos Estados Unidos e pelo resto do mundo, focam-se, maioritariamente, em questões como o racismo, as relações entre géneros, política e a sua própria identidade.

“Let me say that my primary concern in art, as in politics, is with the status and place of Afro-Americans in our country.” Carrie Mae Weems


To Kill A Mockingbird (Não Matem A Cotovia) foi escrito por Harper Lee em 1960.
O livro apresenta um retrato humano de uma pequena comunidade sulista norte-americana, Maycomb, nos anos 30, altura da grande depressão. Através dos olhos sinceros de uma criança, Scout Finch, observamos o por vezes lento, por vezes explosivo, despertar de um ódio racial colectivo quando um jovem negro é acusado de violar e espancar uma rapariga branca.Atticus Finch, advogado do ministério público, homem de valores morais acima de qualquer suspeita, é apontado para a defesa do réu. A partir desse momento todas as suas acções pessoais e profissionais serão colocadas em causa perante uma comunidade preconceituosa.


Algo que salta logo à vista após a leitura do texto e a visualização da fotografia é a questão da forma como se percepciona aquilo que não se conhece e como muitas vezes tomamos a parte pelo todo. No texto, é referido que aqueles que acusam Tom Robinson, acreditam que todos os negros são iguais, todos mentem, todos são imorais. Já no quadro olhamos para aquela mulher e não sabemos nada sobre ela, mas à partida é uma mulher como qualquer outra, que se vê ao espelho e a quem as opiniões externas interessam, mesmo que sejam negativas. O seu ‘reflexo’ é de uma grande ambiguidade, não conseguimos perceber ao certo se é um homem ou uma mulher. No entanto, faz-nos pensar em todas as imposições que nos são colocadas pela sociedade e que são consideradas ‘normais’.
A legenda da fotografia foi baseada numa piada que os indivíduos ‘brancos’ costumavam contar sobre os negros. É curioso pensar no porquê de se usar uma história infantil de forma tão violenta, suponho que se deve principalmente ao facto de estas histórias serem uma parte importante do crescimento e processo de socialização das crianças. Que melhor forma de enraizar na mente das crianças o acto de desprezar alguém do que usar algo que lhes é tão familiar? É interessante ainda a mudança que Weems fez ao texto da história da Branca de Neve. No original a frase é a seguinte: “Mirror, Mirror on the wall who’s the fairest of them all?” e na fotografia a palavra “fairest” aparece trocada por “finest”. A palavra “fair” aparece no dicionário como “louro; bom; razoável; justo”, das quatro palavras nenhuma se coadunava com a imagem, nem em termos do aspecto físico da mulher, nem em termos da forma como os indivíduos negros eram percepcionados pela sociedade. No entanto, “fine” aparece como “fino; belo; lindo”, ou seja, os negros podiam ser bonitos, mas bons e virtuosos nunca seriam. Tanto na fotografia como no texto estamos perante uma recriação de algo, seja uma história ou um acontecimento.
É de referir, ainda, a disposição da fotografia. À mulher é retirada quase toda a sua sexualidade. Apesar de percebermos que é uma mulher, a sua posição e a forma como a fotografia foi tirada ‘escondem’ todas as suas formas mais femininas, quase como se ela fosse a representação de toda uma raça.
Tanto no texto como na fotografia, ainda que nesta última isso seja mais visível, somos quase colocados como voyeurs. Em ambos lemos/vemos aquilo que se passa num ambiente ao qual não pertencemos. A fotografia representa um momento de intimidade e nós estamos a assistir a ele.
Bibliografia:

Mariana Cordeiro 35165

quinta-feira, 21 de maio de 2009

James Nachtwey




Afghanistan, 1996 - Mourning a brother killed by a Taliban rocket





James Nachtwey é um influente e famoso fotógrafo de guerras norte-americano. Nascido em Syracuse Nova Yorque 1948 e criado em Massachusetts, formou-se na Dartmouth College, onde estudou História da Arte e Ciências Políticas (1966-70).
Desde cedo a fotografia exerceu um fascínio na sua vida. Marcado por um forte espírito aventureiro (autodidacta na arte de fotografar ) trabalhou a bordo de navios da Marinha Mercante, foi motorista de camião e estagiário de edição de filmes documentários.
A descoberta da sua vocação emerge do impacto causado pelas imagens da Guerra do Vietname. A famosa foto de Nick Ut pungente e poderosa, foi a mais gritante denúncia de guerra, da crueldade e da injustiça (menina vietnamita correndo nua e com a pele queimada após um ataque americano), foi preponderante e determinante na sua decisão como fotógrafo.
A sua actividade como fotógrafo, teve o seguinte trajecto; Em 1976 trabalha como fotógrafo de jornais no Novo México. Em 1980 mudou-se para Nova Iorque e inicia a carreira como fotógrafo freelancer para revistas. Neste âmbito, o seu primeiro trabalho como fotógrafo internacional foi a cobertura do movimento civil na Irlanda do Norte em 1981, durante a greve de fome do IRA (Exército Republicano Irlandês).
Desde então, James Nachtwey tem-se dedicado a documentar guerras, conflitos e situações sociais precárias. Fotógrafo da Revista Time desde 1984, esteve no período de 1980 a 1985 associado a Black Star, e foi membro da agência Magnum de 1986 a 2001. Ainda em 2001, foi um dos membros fundadores da agência de fotografia VII Photo. Como corolário da sua actividade realizou várias exposições individuais nos mais importantes centros históricos e culturais.
Não obstante reconhecer que perseguir a dor, a morte e a desgraça alheia pode ser considerado por muitos uma forma de exploração e sensacionalismo, a alternativa do silêncio e o não fazer nada é muito pior. Homem de grande carácter, tido por muitos como o mais corajoso fotojornalista da actualidade é por vezes comparado com a Robert Capa, por ser um fotógrafo de guerra, Por isso coloca constantemente a sua vida em perigo, trazendo à colação a denúncia de todo o tipo de crueldade documentando a desigualdade e conflitos sociais para que a miséria humana não permaneça clandestina.
Na década de 90, cobriu os massacres de Ruanda e a intervenção humanitária na Somália. Em 1989, tinha reunido no livro Deeds of War as suas fotos da guerra da Nicarágua, da luta do IRA, acções dos esquadrões de morte na América Central e da Guerra Civil do Líbano.
Realizou extensos trabalhos fotográficos em lugares tão diversos como El Salvador, Nicarágua, Guatemala, Líbano, a Margem Ocidental e Gaza, Israel, Indonésia, Tailândia, Índia,entre outros. Em 2003, actuava como correspondente da revista Time em Bagdá e foi ferido por uma granada quando acompanhava uma patrulha dos Estados Unidos.
O seu trabalho já correu o mundo e foi reconhecido mundialmente, tendo sido actividade galardoado com os prémios: (Common Wealth Award, Martin Luther King Award, Dr. Jean Mayer Global Citizenship Award, Henry Luce Award, Robert Capa Gold Medal (cinco vezes), World Press Photo Award (duas vezes), Magazine Photographer of the Year (sete vezes), International Center of Photography Infinity Award (três vezes), Leica Award (duas vezes), Bayeaux Award for War Correspondents (duas vezes), Alfred Eisenstaedt Award, Canon Photo essayist Award e o W. Eugene Smith Memorial Grant para Humanistic Photography).
É um associado da Royal Photographic Society e Doutor Honorário de artes da Faculdade de Artes de Massachusetts.





Sophia de Mello Breyner Andresen



Sophia de Mello Breyner Andresen um dos maiores vultos da poesia portuguesa do século XX, nasceu no Porto no dia 06 de Novembro de 1919. De origem dinamarquesa por parte do pai e pertencente a uma família aristocrata, a sua educação balizado nos valores tradicionais da moral cristã, decorreu num ambiente culturalmente evoluído, que paulatinamente influenciou a sua personalidade.
Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em sintonia com a sua atracção pela civilização grega e pelo mar (bem patente nas ligações a alguns dos seus poemas e no ensejo que a impeliu a viajar pela Grécia e por toda a região mediterrânica). Mulher de "alma grande" coragem e sensibilidade, veio a tornar-se uma das figuras mais marcantes de uma atitude política liberal, vincando o seu apoio no movimento monárquico e denunciando o regime salazarista e respectivos algozes (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro a Presos Políticos). Após o 25 de Abril como deputada, continuou a ter uma acção bastante empenhada e participativa na vida do Pais.
Em 1946, casou com o jornalista, e advogado Francisco Sousa Tavares e foi mãe de cinco filhos.
O seu trabalho literário (assim como toda a sua vida), compaginou-se sempre pelas ideias da justiça, humanismo, liberdade e integridade moral. Para além de grande poetisa, bem expresso nas obras (Poesia, Dia do Mar, Coral, No Tempo Dividido, Mar Novo, O Cristo Cigano, Livro Sexto, Geografia, Dual, O Nome das Coisas, Navegações, Ilhas, Musa, O Búzio de Cós, Mar, O Colar, Orpheu e Eurydice), notabiliza-se também como contista (Contos Exemplares (1962), Histórias da Terra e do Mar (1984)), e influenciada pelos filhos escreve contos infantis (A Fada Ariana (1958), A Menina do Mar (1958), Noite de Natal (1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964), A Floresta (1968)). Ainda na área literária, realizou trabalhos de tradução de Dante, Shakespeare e Eurípedes e foi autora dos ensaios Cecília Mireles (1958), Poesia e Realidade (1960) e o Nu na Antiguidade Clássica (1975).
No percurso da sua vida como escritora foi distinguida com vários prémios (Grande Prémio de Poesia pela Sociedade Portuguesa de Escritores (1964), Premio Teixeira de Pascoares (1977) , Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1994), Prémio Petrarca da Associação de Editores Italianos (1995), Prémio Camões (1999), Prémio Max Jacobs de Poesia (2001), Prémio Rainha Sofia (2003)), sendo a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões em 1999, como reconhecimento do seu valor como poetisa e figura da cultura portuguesa. A sua obra literária encontra-se parcialmente traduzida em França, Itália e nos Estados Unidos, o que corrobora a importância, reconhecimento, força e valor desta grande poetisa.
No dia 2 de Julho de 2004, Sophia de Mello Breyner com 84 anos faleceu em Lisboa no Hospital da Cruz Vermelha.
Mas, os poetas não morrem (os seus gritos de alma a força da sua escrita, são unos com o próprio tempo), porque "Vemos, Ouvimos e Lemos" Sophia de Mello Breyner está sempre presente, distorcendo o refrão "jamais, será ignorado".
Desde 2005, no Oceanário de Lisboa, os seus poemas correlacionados com o Mar foram colocados para leitura permanente nas zonas de descanso da exposição numa simbiose perfeita com o tema, permitindo a todos os visitantes numa visão de fundo do Mar, ler e sentir a força e enquadramento da sua escrita.

Porque

Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos calados
Onde germina calada podridão
Porque os outros se calam mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

Ao observarmos o poema intitulado "Porque" apercebemo-nos de imediato que existe uma forte comparação entre o "tu" e os "outros". Esta comparação é reforçada com a conjunção adversativa "mas" e por o "porque" como anáfora que reforça a posição entre o "tu" e os "outros". O poema contem uma enorme fonte de palavras que rapidamente nos remetem para a tristeza, mágoa e até mesmo para a morte, o que faz com que o leitor sinta que o sujeito poético mostra-se realmente indignado perante certos aspectos da sociedade, como podemos constatar em : "Porque os outros se compram e se vendem/E os seus gestos dão sempre dividendo."
A imagem, a meu ver, constitui um reflexo do poema, visto que decorre num cenário onde reina o sofrimento, a escuridão, e a morte. É como se, o individuo da foto, estivesse a recitar o poema enquanto chora e toca na lápide. O tom monocromático remete-nos rapidamente para o sofrimento e melancolia, enquanto a esterilidade da terra nos indica a ausência de vida. No entanto, podemos relacionar o "tu" do poema com o falecido da foto, visto encontramos á volta da lápide, um lenço branco, que pode significar paz, pureza, bondade, qualidades que provavelmente iríamos encontrar no individuo ao qual o sujeito poético se refere no poema.
Para terminar, resta apenas dizer que ao que parece ser uma critica aos podres da sociedade, que nos traz por vezes sofrimento devido a corrupções e divergências que na grande parte das vezes se reflecte depois nos inocentes, o que o torna fácil de ligar á foto. Como Platão disse: " Só os mortos viram o fim da guerra".




Cinematografia:

Frei,Christian, War Photographer (2001)


Sitiografia:

James Nachtwey

http://www.jamesnachtwey.com/

http://en.wikipedia.org/wiki/James_Nachtwey

http://premiofotojornalismo.visao.pt/2006/04/06/james-nachtwey/

http://premiofotojornalismo.visao.pt/?s=pesar

http://edition.cnn.com/2009/WORLD/meast/05/14/icrc.afghanistan.nachtwey.red.cross/index.html?eref=edition

http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Capa

Sophia de Mello Breyner Andresen

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner

http://www.astormentas.com/andresen.htm

Aurélio Nº 34666

segunda-feira, 18 de maio de 2009

JEAN MICHEL BASQUIAT / AMIRI BARAKA







Grillo

1984. Acrylic, oil, photocopy collage, oil paintstick and nail on wood.
Courtesy Galerie Fabien Boulakia



Amiri baraka / LeRoi Jones


Fresh Zombies

OK Shuffles. Stink in neon
Lie in lights. Betray before millions
Assassinate w/ slogans. Not old toms
but New Toms, Double Toms
A Tom Tom Macoute. Fresh Zombies.
House Nigger maniacs. Oreo serial killers
That thumping, that horrible sound,
is not music, not drums, but shuffling
Not old toms, New Toms, Double Toms
A Tom Tom Macoute. Fresh Zombies.


In the Funk World

If Elvis Presley/ is
King
Who is James Brown,
God?



Jean Michel Basquiat (1960-1988)
Duma familia portoricana e haitiana, creceu em Brooklyn, New York numa familia de pequena burguesa.
Descobriu o desenho com o livro de anatomia "Gray's anatomy" e sigo interesar-se pela pintura e outros artes, consituindo-se uma cultura geral grande mas a "criança genio" nao se integra a escola por causa de "problemas de comportamento".
Foi reconhecido a idade de 20 anos, por causa dos grafitis que ele escreveu nas ruas de Nova Iorque com o pseudonimo "SAMO" para "SAMe Old shit", durante que ele mora na rua.
Algumas das frases que ele escreve :
SAMO as an end to playing art
SAMO saves idiots
SAMO as a conglomerate of dormant-genius
e finalmente : SAMO IS DEAD.
Muito rapidamente, os medias e os marcantes de arte facinam-se pelo primeiro artista negro reconhecido nos EUA durante a sua vida.
A 23 anos, é famoso mundialmente. Ao mesmo tempo, Basquiat sofre de ser exploitado pelo seu succeso, sofre tambem do paradoxo entre o seu succeso e o racismo que vive na vida quotidiana mesmo como na maneira que é visto no mundo da arte. Tem tambem problemas de drogas e morreu a 27 anos duma overdose de heroina.

Basquiat pintou sobre tudo, nao so telas.
Usa muitas tecnicas diferentes, incluendo as fotocopias dos seus desenhos propios, a collagem, juxtaposiçao, etc. Joga com palavras, imagens, matiera... Disse " I don't think about art when I'm working. I try to think about life", usa temas como a historia, herois, monstros, a sociedade moderna, a cidade, o corpo, a cultura africana e crioula...
Usa numerosos simbolos, especialemente a corona e o copyright.
A musica influçou muito a sua pintura. Ele mesmo adorava jazz, tocava "som industrial" com a sua banda "Gray" e mesmo produciu um album de hip hop, a musica a mais conhecida seja "Beat Bop" de K-Rob e Rammellzee.

LeRoi Jones / Amiri Baraka (1934 ---)

Da clase media do New Jersey, estudou filosofia e religiao, e juntou o Exercito em 1954 onde foi acusado de ser comunista, voltando por isso a um grado baixo.
Depois, instalou-se no Greenwhich Village da epoca dos Beats, la trabalhou na publicaçao de musica. Criou a casa de publicaçao Totem press que publicou poetas Beat como Jack Kerouace Allen Ginsberg antes de publicar uma revista literaria com a sua mulher, Hettie Cohen, Yugen, ate 1963.
nos anos 60, começou a tornar mais e mais politicado depois duma viagem para Cuba, especialmente para o movimento nacionalista negro ate 1974, quando tornou-se mais marxista e pro-terço mundo. E assim que tornou-se musulmano e mudou de nome em 1968 : de LeRoi Jones a Amiri Baraka.
Tambem, escreveu muito sobre a musica jazz como critico musical, inspirou os rappers por causa da sua tecnica poetica e mesmo collaborou com os Roots na musica
Something in the Way of Things (In Town) em 2002.
Fundou tambem o BAM, o movimento Black Arts Movement.



Basquiat e Baraka tomam a identidade negra como tema principal dos seus trabalhos. Basquiat disse numa interview "The black person is the protagonist in most of my paintings". Tentam rehabilitar a dignidade da cultura da diaspora africana na America.
Tomam assim herois negros da historia americana para os tornar em iconos quase religosos (James Brown para o Baraka, o uso da corona, ate o halo para Basquiat). Aqui, os dois personagens de Basquiat sao separados da massa de fotocopias que represena a cidade do artista, fragmentada pela sua visao quando caminha na rua.
Ao mesmo tempo, os dois personagens de Basquiat sao quase esqueletos, pintados do exterior como do interior como se pode encontrar no livro "Gray's Anatomy" ou os desenhos de Leonardo de Vinci.Tem um aspecto estranho, quase mortos. Baraka no seu poema Fresh Zombies fala de Tom Tom Macoute, que duma parte faz referencia ao "coup d'etat" militario de 1959 na Haiti, mas que na mitologia haitiano e um "boogeyman" que rouba crianças de noite -
http://en.wikipedia.org/wiki/Tonton_Macoute
Baraka entretanto fala da mesma coisa que Basquiat, da America da sociedade instrualizada : "That thumping,
that horrible sound,
is not music, not drums, but shuffling
"
trata-se do som metalico da exploitaçao
, da mesma maneira que o Basquiat sofria de ser utilizado pelos mercadores de arte, colocado em sunterraneos para alinhar telas.
Defendem o uso do ritmo e da cor sem cair no "primitivismo" como foi acusado o Basquiat pelos criticos da sua epoca que viam nele um "pintor etnico".
Amiri Baraka escreveu em "Western Front" :
My intentions are colors. I’m filled with

color, every tint you think of lends to mine
my mind is full of color, hard muscle streaks,
or soft glow round exactness registration.
Assim, trata-se de vida mesma, como Basquiat diz bem : "I don't think about art when I'm working. I try to think about life".

Da mesma maneira, as obras de Jean Michel Basquiat e Amiri Baraka sao ambos muito inspiradas pela musica. As collagens de Basquiat, o sampling das suas fotocopias, fazem echo ao ritmo hipnotisante do poema Fresh Zombies do Baraka. Assim fazem conecçao inter-arte Musica-Pintura-Literatura.



Referencias :

Livro
Phoene Hoban, Basquiat, a Quick Killing In Art

Films
Julian Schnabel, Basquiat

Edo Bertoglio, Downtown 81 (com Basquiat no seu propio papel)

Sitios
http://www.amiribaraka.com/
http://www.youtube.com/watch?v=DQdnKuhpcpo
(Something in the Way of Things (In Town) dos Roots e Amiri baraka)
http://www.brooklynmuseum.org/exhibitions/basquiat/street-to-studio/english/home.php
http://www.haberarts.com/basquiat.htm


domingo, 17 de maio de 2009


The Blues: The Devils' Lullabye

Gordon Parks: Chain Gang, Alabama 1956









The Weary Blues:

Langston Hughes
Droning a drowsy syncopated tune,
Rocking back and forth to a mellow croon,
I heard a Negro play.
Down on Lenox Avenue the other night
By the pale dull pallor of an old gas light
He did a lazy sway . . .
He did a lazy sway . . .
To the tune o' those Weary Blues.
With his ebony hands on each ivory key
He made that poor piano moan with melody.
O Blues!
Swaying to and fro on his rickety stool
He played that sad raggy tune like a musical fool.
Sweet Blues!
Coming from a black man's soul.
O Blues!
In a deep song voice with a melancholy tone
I heard that Negro sing, that old piano moan--
"Ain't got nobody in all this world,
Ain't got nobody but ma self.
I's gwine to quit ma frownin'
And put ma troubles on the shelf."

Thump, thump, thump, went his foot on the floor.
He played a few chords then he sang some more--
"I got the Weary Blues
And I can't be satisfied.
Got the Weary Blues
And can't be satisfied--
I ain't happy no mo'
And I wish that I had died."
And far into the night he crooned that tune.
The stars went out and so did the moon.
The singer stopped playing and went to bed
While the Weary Blues echoed through his head.
He slept like a rock or a man that's dead.

The Devils' Lullabye
For a short moment in time as you close your eyes the room is flooded by a sad and constant beat of steel on steel as the pinstripped negros lay down their blues on the tracks. Gordon Parks captures one of the many moments in which men feel the need to sing their heartache, their
blues, in this balck and white mirror into the past. Despite its simplicity this image transmits so much more than we can see at a first glance. When we look deeper and when we listen closely we can hear the mellow chanting of the prisoners. We can almost imagine them singing "Oh Lord one more track and death is gonna find me". The Blues is riddled with a million meanings, different for each person, each period in time and space. Some meanings however remain the same no matter what. Death, misory, pain, sadness, longing, the Devil, loss of faith in God, poverty, women, booze and blue notes. These are just some of the many Blues themes repeated over time. Some of the everlasting feelings that make up the blues can be found in Langston Hughes' poem The Weary Blues. There is a constant reference to the feeling of melancholy and acceptance of death as the only comfort in a life hard to live. Older than salvery itself, the blues seem to have a deep spiritual rythm that keeps on playing for many. One of the great blues masters, Howlin' Wolf, once said that everyone has the blues, everyone can sing the blues, because no matter what we cannot escape it.If you have no money then you have the blues, if your woman left you then you have the blues, no one can hide from this. The devil is often the one behind all this suffering. From the earliest recordings we can retrieve numerous refferences of this biblical figure. From deals with satan in exchange for fame, women and money, to walking hand in hand with the same since he seems to be the only one to lend a helping hand when the blues strikes deep. Sad, mellow, sweet and evil that is the sound of the blues.


http://www.poets.org/poet.php/prmPID/83
http://en.wikipedia.org/wiki/Gordon_Parks

Martin Scorsese Presents The Blues - A Musical Journey DVD's (2003)


Miguel Alain Nº 37 909

sexta-feira, 15 de maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Diane Arbus + Al Berto


Diane Arbus nasceu a 14 de Março de 1923 no centro de Nova Iorque. Frequentou a escola Fieldston Schools e aos catorze anos conheceu Allan Arbus, com quem viria a casar quatro anos depois. Foi nos anos 40 que Diane Arbus se estreou na fotografia e anos mais tarde, juntamente com Allan, invade o universo da fotografia de moda e depressa criou reputação com o seu trabalho participando em revistas como a Vouge e a Glamour. Ao longo dos anos os seus gostos pessoais e o seu interesse por outros universos tomaram contam das suas fotografias. Frequentou workshops, inovou a sua técnica artística e evidenciou, através das suas imagens, figuras que originam alguma discussão no campo da ética e moral da sociedade Americana. As suas fotografias começaram a fazer parte integrante de alguns museus dos Estados Unidos assim como da Europa. Em 1970 criou um portfolio com 10 fotografias que deu origem à primeira série de edições limitadas do seu trabalho. Diane Arbus decide pôr fim à sua vida no dia 26 de Julho de 1971 um ano antes de ser a primeira mulher fotografa Americana exibir o seu trabalho na Bienal de Veneza.


Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu a 11 de Janeiro de 1948 em Coimbra. Com um ano de idade vem com os seus pais para a cidade alentejana de Sines onde passa toda a sua infância até à sua adolescência. É nesse período que parte para Lisboa para frequentar uma escola de ensino artístico. Em 1967 vai para Bruxelas frequentar o curso de Pintura na École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels (La Cambre) mas quando conclui o curso decide dedicar-se em exclusivo à literatura. Em Novembro de 1975, volta a Sines onde escreve o seu primeiro livro inteiramente em português, À procura do vento num jardim d'agosto, publicado em 1977. Durante os anos 80, desempenhou funções como editor, livreiro e animador cultural na Câmara Municipal de Sines e ainda dirigiu o Centro Cultural Emmenico Nunes. Em 1987 edita, pela primeira vez, uma antologia de todo o seu trabalho, desde 1974 até 1986, intitulado O Medo. Esta importante da sua obra literária, que lhe valeu o Prémio Pen Clube em 1987, tornar-se-á o seu definitivo testemunho artístico. Nas posteriores edições vão sendo adicionados novos escritos do autor, mesmo após a sua morte. Morre de linfoma no dia 13 de Junho de 1997.


A imagem:

Hermaphrodite and a do gin a carnival trailer, Md. 1970


Excertos do texto:
“Por fim, Beno olhou a escadaria de madeira, subindo-a, degrau a degrau, com o olhar.E imaginou Biondy, o velho travesti, que infalivelmente chegava por volta da meia-noite e ali despejava o número da Mistinguett, entre aplausos e bocas. Imaginou-o a subir as escadinhas, cambaleando propositadamente, agarrando o corrimão, torcendo os saltos dos sapatos, perdendo o equilíbrio, gritando, até alcançar o cimo. E todas as noites repetia com rigor matemático os mesmos gestos, as mesmas piadas. Lançava um olhar canalha por cima do ombro, ajeitando a dentadura que, aos setenta e três anos, estava lassa.”
Lunário, pág. 44

“Naqueles anos, todos eles se tinham movido sem saberem muito bem se acordariam na manhã seguinte. Viviam numa febre constante, numa vertigem, num excesso permanente. Era preciso viver depressa e morrer, de preferência, ainda jovem. Nenhum deles alimentava projectos ou ambicionava fosse o que fosse. Era-lhes indiferente estar vivo ou morto. Mantinham-se nesse lugar mal iluminado e sem saída: a vida.
Uns tinham fugido de casa dos pais, outros tinham-se exilado voluntariamente do mundo. Viviam espalhados por apartamentos de subúrbio, ou tinham viajado para países distantes de onde raramente regressavam. E, dos que ficaram, nenhum possuía uma ideia precisa daquilo que seria necessário fazer para não sucumbir em tamanha desolação. Nenhum deles tentara sequer explicar aos outros que estranho vazio que se apoderara de si.
Restava-lhes a amizade e a cumplicidade de alguma paixão para resistirem ao caos devorador da cidade, e à moleza quase beata da ‘geração’ a que se recusavam pertencer."
Lunário, pág. 95

Diane Arbus teve conhecimento do Hubert's Museum[1] no fim da década de 50 quando ainda trabalhava como fotógrafa de moda na Harper’s Bazaar. Rapidamente, os performers habituaram-se à sua presença e à sua câmara. O seu fascínio por este meio underground rodeado de glamour foi aumentando. Este meio absorvido pela noite, pela bebida e pelo show contrasta com o que Diane Arbus fotografava durante o dia (mulheres de corpos perfeitos e mentalidade egocêntrica). É na noite que os homens de transformavam em mulheres, criavam novas personagens e exibiam os seus dotes vocais como se estivessem num cabaret. A noite devolvia a vida a estas pessoas que durante o dia eram marginalizadas e excluídas da sociedade.
O conceito de androginia, que consiste na mistura de características femininas e masculinas num único ser, deriva do mito de hermafrodita com origem da mitologia grega antiga. É este conceito se aplica a diversas fotografias de Diane Arbus e que está também implícito no livro de Al Berto.
Ao lermos o livro, conhecemos a história de Beno, um homem que, estando no seu apartamento, olhando o mar através do enquadramento da janela, reflecte sobre a vida que levou, transportando-nos para acontecimentos e, mais propriamente, pessoas que o marcaram no passado. O universo de Beno é rodeado de gays e travestis, imerso numa decadência da qual esse andrógino moderno faz parte, “sexo, drogas e rock’n’roll”. O local em que Beno conhece Nému, o grande amor da sua vida, não podia ser outro: um bar, vazio, onde Beno já conhecera imensa gente. Eles bebem e acabam juntos. Passam dias e dias juntos e depois Nému parte sem dizer nada.
Beno não é mais do que um cidadão anónimo que procura o seu grande amor e que é marginalizado pela sua orientação sexual. Também a música, centrada em nomes como David Bowie e Ian Curtis, preenche quer a imagem, quer o texto literário.
Toda a beleza em si é uma aberração, um fardo cada vez mais pesado e tornar-se um vazio interior. Diane Arbus e Al Berto tentam romper com o conflito ético e moral que a sociedade “normal” tem implícito na sua educação.


[1] http://www.showhistory.com/huberts.html

Para descontrair:
Filme: Freaks de Tod Browning, 1932
Filme: Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus de Steven Shainberg, 2006
Música: Antony and the Johnsons – I am a bird now, 2005 (álbum)
Música: Sigur Ros - Ágætis Byrjun, 2001 (álbum)

Bibliografia:

Al Berto
Al Berto, Lunário, Lisboa: Assírio & Alvim, 2ª edição, 1999

Diane Arbus
Arbus, Diane, Southall, Thomas, Diane Arbus: Magazine Work, Aperture, 1997
Diane Arbus: An Aperture Monograph, Editado por Doon Arbus e Marvin Israel, Aperture, 1972

Sitografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Androginia

Al Berto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Berto
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Al+Berto
http://nescritas.com/homenagemalberto/
http://www.sines.pt/PT/Concelho/Personalidades/alberto/Paginas/default.aspx

Diane Arbus:
http://en.wikipedia.org/wiki/Diane_Arbus#Notes
http://www.profotos.com/education/referencedesk/masters/masters/dianearbus/dianearbus.shtml
http://www.masters-of-photography.com/A/arbus/arbus_articles1.html

Trabalho realizado por: Ana Cláudia Silva, Nº 35142, Artes do Espectáculo

domingo, 10 de maio de 2009

Apresentação 8 de Maio: “The Portable War Memorial” (1968), Edward Kienholz + “Howl” (1955), Allen Ginsberg




















Tableau: plaster casts, tombstone, blackboard, flag, poster, restaurant furniture, photographs, working Coca-Cola machine, stuffed dog, wood, metal, and fiberglass (289.6 x 975.4 x 243.8 cm) Museum Ludwig, Cologne

I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked,

dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix;

Angel-headed hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machinery of night. (…)

[Excerto de “Howl” (1955) by Allen Ginsberg (1926-97)]


A minha escolha do excerto do poema “Howl” pretende servir de contextualização à obra “The Portable War Memorial” (1968) de Edward Kienholz, como à Beat Generation e, em geral, a uma outra atitude e visão cultural dos EUA, discordante do status quo (patriotismo exacerbado e acrítico), abertamente crítica, subversiva e desconstrutivista (e o que igualmente fora/é designado como contra-cultura ou cultura(s) alternativas/independentes/etc.)

O poema “Howl” foi escrito no verão de 1955, em Berkeley (San Francisco Bay), e, além do seu conteúdo (“attacking what he saw as the destructive forces of materialism and conformity in the United States.”[1]), notabilizou-se pela sua forma. Howl fora concebido como um “performance piece” (texto performativo), cuja estrutura se baseia em versos a serem declamados cada um em um só fôlego. Além disso, caracteriza-se pela repetição lexical que funciona como “âncora rítmica” na posição inicial de cada verso (por exemplo, who – parte I; Moloch – parte II; I'm with you in Rockland – parte III – não presente no excerto seleccionado, mas em quase todo o resto do poema) criando um efeito de “refrão contínuo”. Uma técnica que Ginsberg iria utilizar noutros poemas seus.

“Howl” é um dos poemas mais conhecidos da “Beat Generation” (à qual estão associados além de Ginsberg, entre outros, escritores como William S. Burroughs (Naked Lunch, Junkie, Homo, etc.), Jack Kerouack (On the Road, 1957 – uma espécie de romance Road Movie – ambos referenciados no poema). A “Beat Generation” caracteriza-se pela sua escrita experimental e linguagem explícita. Muitos deles assumiram e tematizaram (na sua escrita) a sua homossexualidade (como Ginsberg em Howl e Burroughs em Homo). As suas vozes inconformistas, corrosivas e profundamente críticas da política e vida social nos Estados Unidos representam uma visão discordante da visão positivista do American Dream (o verso da medalha) e a procura de outras “filosofias de vida” (por exemplo, o budismo), inserindo-se num “movimento” anti-heróico e não-conformista, que procurava revelar o lado negativo da vida social nos EUA, personificado (nos tipos do rebelde urbano moderno “desesperado”) por exemplo por James Dean ou Marlon Brando em filmes de Elia Kazan [East of Eden (1955); A Streetcar Named Desire (1951)].

“The Portable War Memorial” (1968) de Edward Kienholz

“I would (…) never insult this country as I love it perhaps as well as you. I would, however, in my way, presume to change it.”

Excerto de uma carta de Edward Kienholz a revista Artforum em 1969


Edward Kienholz (1927-94) foi (segundo a sua autobiografia artística, marcada pela tentativa de criação de uma persona artística com toque a working class) um artista autodidacta, criado numa quinta na parte este do estado de Washington, aprendendo carpintaria, desenho técnico e mecânica, que após diversos empregos (e.o., enfermeiro num hospital psiquiátrico, manager de uma banda, vendedor) se radicou em Los Angeles, envolvendo-se aí no mundo das artes (e.o. na criação da galeria Ferus, em 1957, com Walter Hopps). A partir de 1981 passa a assinar a autoria das suas obras em conjunto com Nancy Reddin (a sua esposa e com a qual já colaborou anteriormente) e viver entre Berlim e os Estados Unidos.

Ele destaca-se de outros artistas plásticos dos EUA da sua geração (Pop Art), primeiro, pela sua estética de obra de arte total e pelo seu tom feroz, abertamente crítico - facto que provoca um certo sentimento de estranheza tendo em conta a citação da carta acima referida, mas ao mesmo tempo exprime um certo tabu patriótico dos EUA a uma crítica explícita. Mesmo assim, ele parece-me querer retratar o lado violento da realidade humana, materializando-o em tamanho real e numa estética próxima dos filmes de terror.

Esta escultura tridimensional[2] integrando som (como outros trabalhos do autor) surge em 1968, no momento em que a Guerra do Vietname se encontra no seu apogeu, e “definida” sarcasticamente pelo seu título como um “Monumento de guerra portátil”, e com as medidas aproximadas de 3m por 10m por 2,5m.

O espectador é projectado para um ambiente de consumo, solitário e despojado de seres humanos, que se parece com uma espécie de diner[3] desdobrado - com mesas, cadeiras, um guarda-sol, uma máquina de Coca-Cola, e no qual vemos uma grupo escultural representando soldados dos EUA erguendo a bandeira dos EUA, uma (re)encenação escultórica da famosíssima fotografia da segunda guerra mundial Raising the Flag on Iwo Jima de Joe Rosenthal.

Neste ambiente encontra o espectador ainda incorporadas representações de alguns ícones da cultura estado-unidense, nomeadamente - numa leitura da esquerda para a direita: uma escultura representando uma persona que seria a cantora Kate Smith[4] vestida de caixote de lixo cantando (uma gravação) do hino não oficial dos EUA: God Bless America; o cartaz “Uncle Sam - I WANT YOU” (utilizado para o recrutamento de soldados na primeira e segunda Guerra Mundial[5]); uma parede com a inscrição de 475 nações extintas pela guerra e no cimo desta parede uma cruz invertida com uma águia e por baixo desta a inscrição: «A portable war memorial commemorating VŒ Day 19Œ»[6]; uma pequena escultura representando um soldado em pose de crucificado[7] e, mais ainda, uma fotografia em tamanho real de um casal sentado a um balcão (de um estabelecimento de restauração) com um cão estofado a prolongar no espaço e na matéria esta mesma fotografia.

“Active participation of the part of the viewer has always been an integral and essential aspect of the Kienholz oeuvre.” Rosetta Brooks[8]

Kienholz cria, assim, um ambiente desolado e decadente, desconstruindo os ícones representados e a leitura deste Tableau não é de consumo fácil (fast food) como porventura outras obras da Pop-Art e como possa parecer à primeira vista. Os soldados (que não têm cabeças – ver fotografia de detalhe) e o casal da fotografia viram as costas ao espectador (Seria preciso não esquecer a gravação a acompanhar a representação da cantora Kate Smith). O espectador está a ser “ignorado” pelos representados, enquanto estes “fazem” as suas acções “absurdas” (a cantora caixote de lixo a cantar o hino, os soldados a tentar erguer a bandeira em cima de uma das mesas). Tudo isto ser projectado para um espaço de consumo não é ingénuo. Será uma insinuação, de o espaço público dos EUA, ser dominado pela “sociedade de consumo”? O espaço está cheio de objectos, mas vazio de pessoas. Muito mais seria possível “ver” nesta obra…


Yves Berndt dos Santos - nº34303



Bibliografia/sítiografia:

  1. http://en.wikipedia.org/wiki/Howl <11.04.2009>
  2. http://en.wikipedia.org/wiki/Allen_Ginsberg <25.04.2009>
  3. http://de.wikipedia.org/wiki/Edward_Kienholz <11.04.2009>
  4. http://en.wikipedia.org/wiki/Edward_Kienholz <11.04.2009>
  5. http://www.museenkoeln.de/museum-ludwig/default.asp?s=779
  6. “Good morning, my name is Ed Kienholz”. Willick, Damon. in: http://x-traonline.org/past_articles.php?articleID=48 <25.04.2009>
    http://noskoff.lib.ru/pina/KIENHOLZ/index.htm <11.04.2009>
  7. http://de.wikipedia.org/wiki/Environment <11.04.2009>
  8. http://en.wikipedia.org/wiki/Raising_the_Flag_on_Iwo_Jima <25.04.2009>
  9. http://en.wikipedia.org/wiki/Iwo_Jima <25.04.2009>
  10. http://en.wikipedia.org/wiki/USMC_War_Memorial <25.04.2009>
  11. http://en.wikipedia.org/wiki/Kate_Smith <25.04.2009>
  12. http://en.wikipedia.org/wiki/Uncle_Sam <25.04.2009>

13. http://en.wikipedia.org/wiki/Diner <25.04.2009>

  1. “Kienholz – A Retrospective” Edward and Nancy Reddin Kienholz, Ed. E Curador Walter Hopps. Whitney Museum of American Art. New York. sem data



Notas:

[2] designada como tableau (que em francês também significa quadro/pintura – outros já classificaram trabalhos artisticos semelhantes no contexto da arte do século XX como Instalação, Ambiente ou Environment.),

[3] tipo de restaurante dos EUA

[4] famosa pela sua interpretação de God Bless de Irving Berlin – hino inoficial dos EUA.

[6] Com lugares vazios a sugerir a possibilidade de os preencher para “multi-uso”

[7] “Kienholz – A Retrospective” Edward and Nancy Reddin Kienholz, Ed. e Curador Walter Hopps. Whitney Museum of American Art. New York. sem data

[8] idem


P.S. Formatação, infelizmente, não é como eu pretendo, mas não consigo (nem colocar as imagens no espaço pretendido). Desculpem