quinta-feira, 14 de maio de 2009

Diane Arbus + Al Berto


Diane Arbus nasceu a 14 de Março de 1923 no centro de Nova Iorque. Frequentou a escola Fieldston Schools e aos catorze anos conheceu Allan Arbus, com quem viria a casar quatro anos depois. Foi nos anos 40 que Diane Arbus se estreou na fotografia e anos mais tarde, juntamente com Allan, invade o universo da fotografia de moda e depressa criou reputação com o seu trabalho participando em revistas como a Vouge e a Glamour. Ao longo dos anos os seus gostos pessoais e o seu interesse por outros universos tomaram contam das suas fotografias. Frequentou workshops, inovou a sua técnica artística e evidenciou, através das suas imagens, figuras que originam alguma discussão no campo da ética e moral da sociedade Americana. As suas fotografias começaram a fazer parte integrante de alguns museus dos Estados Unidos assim como da Europa. Em 1970 criou um portfolio com 10 fotografias que deu origem à primeira série de edições limitadas do seu trabalho. Diane Arbus decide pôr fim à sua vida no dia 26 de Julho de 1971 um ano antes de ser a primeira mulher fotografa Americana exibir o seu trabalho na Bienal de Veneza.


Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu a 11 de Janeiro de 1948 em Coimbra. Com um ano de idade vem com os seus pais para a cidade alentejana de Sines onde passa toda a sua infância até à sua adolescência. É nesse período que parte para Lisboa para frequentar uma escola de ensino artístico. Em 1967 vai para Bruxelas frequentar o curso de Pintura na École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels (La Cambre) mas quando conclui o curso decide dedicar-se em exclusivo à literatura. Em Novembro de 1975, volta a Sines onde escreve o seu primeiro livro inteiramente em português, À procura do vento num jardim d'agosto, publicado em 1977. Durante os anos 80, desempenhou funções como editor, livreiro e animador cultural na Câmara Municipal de Sines e ainda dirigiu o Centro Cultural Emmenico Nunes. Em 1987 edita, pela primeira vez, uma antologia de todo o seu trabalho, desde 1974 até 1986, intitulado O Medo. Esta importante da sua obra literária, que lhe valeu o Prémio Pen Clube em 1987, tornar-se-á o seu definitivo testemunho artístico. Nas posteriores edições vão sendo adicionados novos escritos do autor, mesmo após a sua morte. Morre de linfoma no dia 13 de Junho de 1997.


A imagem:

Hermaphrodite and a do gin a carnival trailer, Md. 1970


Excertos do texto:
“Por fim, Beno olhou a escadaria de madeira, subindo-a, degrau a degrau, com o olhar.E imaginou Biondy, o velho travesti, que infalivelmente chegava por volta da meia-noite e ali despejava o número da Mistinguett, entre aplausos e bocas. Imaginou-o a subir as escadinhas, cambaleando propositadamente, agarrando o corrimão, torcendo os saltos dos sapatos, perdendo o equilíbrio, gritando, até alcançar o cimo. E todas as noites repetia com rigor matemático os mesmos gestos, as mesmas piadas. Lançava um olhar canalha por cima do ombro, ajeitando a dentadura que, aos setenta e três anos, estava lassa.”
Lunário, pág. 44

“Naqueles anos, todos eles se tinham movido sem saberem muito bem se acordariam na manhã seguinte. Viviam numa febre constante, numa vertigem, num excesso permanente. Era preciso viver depressa e morrer, de preferência, ainda jovem. Nenhum deles alimentava projectos ou ambicionava fosse o que fosse. Era-lhes indiferente estar vivo ou morto. Mantinham-se nesse lugar mal iluminado e sem saída: a vida.
Uns tinham fugido de casa dos pais, outros tinham-se exilado voluntariamente do mundo. Viviam espalhados por apartamentos de subúrbio, ou tinham viajado para países distantes de onde raramente regressavam. E, dos que ficaram, nenhum possuía uma ideia precisa daquilo que seria necessário fazer para não sucumbir em tamanha desolação. Nenhum deles tentara sequer explicar aos outros que estranho vazio que se apoderara de si.
Restava-lhes a amizade e a cumplicidade de alguma paixão para resistirem ao caos devorador da cidade, e à moleza quase beata da ‘geração’ a que se recusavam pertencer."
Lunário, pág. 95

Diane Arbus teve conhecimento do Hubert's Museum[1] no fim da década de 50 quando ainda trabalhava como fotógrafa de moda na Harper’s Bazaar. Rapidamente, os performers habituaram-se à sua presença e à sua câmara. O seu fascínio por este meio underground rodeado de glamour foi aumentando. Este meio absorvido pela noite, pela bebida e pelo show contrasta com o que Diane Arbus fotografava durante o dia (mulheres de corpos perfeitos e mentalidade egocêntrica). É na noite que os homens de transformavam em mulheres, criavam novas personagens e exibiam os seus dotes vocais como se estivessem num cabaret. A noite devolvia a vida a estas pessoas que durante o dia eram marginalizadas e excluídas da sociedade.
O conceito de androginia, que consiste na mistura de características femininas e masculinas num único ser, deriva do mito de hermafrodita com origem da mitologia grega antiga. É este conceito se aplica a diversas fotografias de Diane Arbus e que está também implícito no livro de Al Berto.
Ao lermos o livro, conhecemos a história de Beno, um homem que, estando no seu apartamento, olhando o mar através do enquadramento da janela, reflecte sobre a vida que levou, transportando-nos para acontecimentos e, mais propriamente, pessoas que o marcaram no passado. O universo de Beno é rodeado de gays e travestis, imerso numa decadência da qual esse andrógino moderno faz parte, “sexo, drogas e rock’n’roll”. O local em que Beno conhece Nému, o grande amor da sua vida, não podia ser outro: um bar, vazio, onde Beno já conhecera imensa gente. Eles bebem e acabam juntos. Passam dias e dias juntos e depois Nému parte sem dizer nada.
Beno não é mais do que um cidadão anónimo que procura o seu grande amor e que é marginalizado pela sua orientação sexual. Também a música, centrada em nomes como David Bowie e Ian Curtis, preenche quer a imagem, quer o texto literário.
Toda a beleza em si é uma aberração, um fardo cada vez mais pesado e tornar-se um vazio interior. Diane Arbus e Al Berto tentam romper com o conflito ético e moral que a sociedade “normal” tem implícito na sua educação.


[1] http://www.showhistory.com/huberts.html

Para descontrair:
Filme: Freaks de Tod Browning, 1932
Filme: Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus de Steven Shainberg, 2006
Música: Antony and the Johnsons – I am a bird now, 2005 (álbum)
Música: Sigur Ros - Ágætis Byrjun, 2001 (álbum)

Bibliografia:

Al Berto
Al Berto, Lunário, Lisboa: Assírio & Alvim, 2ª edição, 1999

Diane Arbus
Arbus, Diane, Southall, Thomas, Diane Arbus: Magazine Work, Aperture, 1997
Diane Arbus: An Aperture Monograph, Editado por Doon Arbus e Marvin Israel, Aperture, 1972

Sitografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Androginia

Al Berto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Al_Berto
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Al+Berto
http://nescritas.com/homenagemalberto/
http://www.sines.pt/PT/Concelho/Personalidades/alberto/Paginas/default.aspx

Diane Arbus:
http://en.wikipedia.org/wiki/Diane_Arbus#Notes
http://www.profotos.com/education/referencedesk/masters/masters/dianearbus/dianearbus.shtml
http://www.masters-of-photography.com/A/arbus/arbus_articles1.html

Trabalho realizado por: Ana Cláudia Silva, Nº 35142, Artes do Espectáculo

9 comentários:

  1. Olá,
    gosto muito da Diane Arbus. Obrigado por a teres escolhida.

    Olha, o Hermafrodismo (não sei se é o termo português correcto) é uma realidade biológica (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hermafrodita) e não apenas um mito. Sempre existiram pessoas que tinham órgãos sexuais femininos como masculinos, ao mesmo tempo. O próprio título ou subtítulo da fotografia até o "identifica" como hermafrodita (se bem me lembro).

    O interessante na Diane Arbus acho que é ela "baralhar"/desconstruir o "mito" da normalidade.

    Por um lado, ao "mostrar" (dar a a ver) aquilo considerado como sendo "anormal" - percepcionado como "estranho" e confronta o espectador com a sua existência ("escondida") relembra-o, e, de certa forma, apela à sua "aceitação". Por outro lado, mostra aquele "menos comum", mas aceito, como os gémeos (http://en.wikipedia.org/wiki/Identical_Twins,_Roselle,_New_Jersey,_1967) e lembra-nos que a "normalidade" nada mais é que uma convenção social.

    Aconselho-te vivamente a leitura do texto "Monstros Felizes - a fotografia de Diane Arbus" de Fernando Guerreiro que acompanhou uma conferência do mesmo em Cascais 1999. Se quiseres posso te facultar uma fotocópia. É um texto muito bom, acho eu.

    Também existe um livro de fotografias muito interessante: "Freaks - aberrações humanas - a colecção Akimitsu Naruyama" da Livros e Livros, 2000, Centralivros

    Cumprimentos

    Yves Berndt dos Santos. nº34303

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  2. Olá Ana Cláudia!
    Antes de mais deixa-me dizer-te que vou gostar de ouvir a tua apresentação na aula, visto que me parece bastante interessante a relação que evidencias entre as fotografia de Diana Arbus e os "textos" de Al Berto.

    O objectivo de Diana Arbus era "separar o essencial do acessório" (wikipédia).
    Penso que esta frase nos diz muito acerca desta artista e Al Berto também é um escritor fantástico.

    "Para mim o sujeito de uma fotografia é sempre mais importante que a fotografia. E mais complicado..." - diz-nos Diana Arbus.

    Talvez daí o facto de Diana Arbus representar figuras "fora do natural", embora elas até sejam naturais no mundo em que vivemos, mas de certo modo transcendentes, como podemos ver na tua escolha.

    Esperarei atenciosamente a tua apresentação para ficar a conhecer também a tua perspectiva.
    Cumprimentos, bom trabalho.

    Raquel Cristina Caldeira Damas Comprido, nº 38995

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá Ana Cláudia.Gosto deste trabalho. Aprecio a Diane Arbus, e o Al Berto deve ter sido o primeiro escritor por cuja obra tive uma paixão intensa, tendo sido o Lunário a primeira coisa que li dele. Lembro-me até perfeitamente de guardar esse segundo trecho que escolhes num blogue qualquer meu, numa re-leitura ocorrida no final do ano passado. Daí que fico contente por ver que decidiste trabalhá-lo, e bem.
    Vou por pontos, que é mais fácil.

    1.Penso que ajudaria colocares o título da foto, «Hermaphrodite And Dog In Carnival, 1970», que está em falta no post.

    2.É pouco importante, mas valerá a pena alertar-te na mesma. Enganaste-te no nome da Vogue (erro tipográfico, claramente), e o álbum do Antony chama-se «I am a bird now».

    3.Parece-me haver aqui duas possibilidades de diálogo que exploras, e que me cheiram a muito interessantes. Por um lado, a questão da identidade/género; por outro, a noite enquanto refúgio, enquanto palco da verdade (nestes dois casos, uma verdade decadente, suja e um bocado triste), por oposição ao dia (assim de repente, não me lembro de nenhuma passagem do livro que tenha lugar à luz do dia; e por outro lado há a Diane, que utilizava o dia 'apenas' para realizar as suas fotografias “bonitas e limpinhas”).
    Um fotógrafo norte-americano que ficava mesmo bem num diálogo com o Lunário seria o Mapplethorpe, que explorou muito bem, mais ou menos na mesma altura que o Al Berto, o que era ser gay, ou seja, a questão da identidade e do género (neste caso a sexualidade, mas a homossexualidade, no seu impacto social, está muito ligada ao género (estereótipo do tipo efeminado; estereótipo da tipa camionista)). Outra fotógrafa que me parece pertinente referir é a Nan Goldin, que tem imensas fotografias tiradas a gays, transexuais, travestis, etc, quase sempre na noite (ligação, portanto, com essa segunda possibilidade de diálogo que referi).

    3.Parece-me que há uma certa tensão entre vários termos, aqui. androginia, homossexualidade, “freaks”, hermafroditismo, transexualidade (sendo que estes três últimos surgem com a foto, não com o teu texto). Parece-me importante destrinçar os sentidos, de forma a que não caia tudo mais ou menos no mesmo saco. A menos que utilizes todos estes conceitos enquanto anti-norma, e assim sim, poderá dizer-se que são todos primos.

    4.Muito boa, a ideia de meteres aqui o Antony. Androginia (identidade e género) é com ele, especialmente nesse álbum. Também se poderia referir o David Bowie dos 70's, que viria a ser pai de todo um 'movimento musical', o glam rock, muito dado ao culto da androginia (vi um dia destes um documentário na tv sobre o Bowie em que diziam que, na altura, havia gente que não percebia mesmo se se tratava de um homem ou de uma mulher). Em relação ao glam rock, há um filme muito interessante, “Velvet Goldmine”, de Todd Haynes. Assim de repente, lembro-me de “Hedwig and the angry inch”, que é um musical “feel good”com um transexual e um travesti como personagens principais. E para finalizar (não que eu não goste disto, mas depois nunca mais me calo), é de referir um dos reis do homem/mulher: Tim Curry, no “The Rocky horror picture show”. Muito bom.

    5.Uma coisa que não interessará a mais ninguém, porque provavelmente não leram o livro, nem tem directamente a ver com o trabalho, mas não resisto. Dizes que o Beno é “marginalizado pela sua orientação sexual”. Assim de repente não me lembro de nenhuma indicação nesse sentido, no livro. Parece-me, isso sim, que ele e a sua trupe se auto-marginalizam, o que também poderá ter algum interesse para este teu trabalho. De que forma estes freaks (e aqui entendamos por freaks tudo o que é anti-norma) se afastam da sociedade, em busca de um micro-mundo próprio, em que os seus ideais e estilo de vida sejam perfeitamente válidos, e não possam ser considerados uma “aberração”, como dizes no último parágrafo. O “Lunário” transpira isso, até porque o Al Berto viveu-o. A Diane também o terá vivido, quanto mais não seja quando penetrava nesse mundo para tirar as suas fotos.

    6. Por curiosidade, porque é que juntas o álbum dos Sigur Rós à tua lista?

    Gosto muito desta proposta. Tinhas óptimo material para trabalhar, e fizeste-o muito bem.

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  5. Descobri que o Freaks está online, no google vídeo. Pode ser visto aqui. É um filme curioso.

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  6. Olá Ana Cláudia!
    Esta fotógrafa é fundamental. Foi uma pioneira no revelar duma outra face não assumida do Sonho Americano. Dos seres marginalizados pelas convenções sociais e morais dominantes. Embora contemporânea do emergente "Gay power" nos anos sessenta, à artista interessava sobretudo, a crer nas suas próprias afirmações, o jogo e contraste entre a realidade e o aparente. A natureza real das coisas depois de aprofundada nunca seria a que toda a gente pensa, mas sempre algo de diferente. Igualmente,a vontade de transgressão, de falar do proíbido, também era assumida por ela:
    "Já adulta, quero ter a liberdade de não usar galochas quando chove, como a minha mãe mandava, e ver o que sucede"
    Desta forma, contribuíu para dar voz aos marginalizados da sociedade Americana. Não apenas aos Gays, mas a todas as demais vítimas do preconceito e estereótipo. É de facto irónico que na antiguidade clássica o andrógino fosse visto como um ser ideal, divino mesmo. As convenções sociais mudam com o tempo, e fotos como as de Diane Arbus podem contribuir para isso. Já uma perspectiva exclusivamente homossexual que encontramos em Al Berto ou no filme "Velvet Goldmine", parece-me redutora e auto-marginalizante. É que nem um travesti tem de ser homossexual, nem o Glam rock tinha especialmente a ver com isso. Era apenas (justamente)um jogo de aparências com os estereótipos sociais. Bowie sabia que chocava as pessoas por usar maquilhagem ou ter um comportamento efeminado e Sempre fez questão de nunca se deixar fechar numa categoria Gay.

    Eurico Matias nº36402

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  7. Bom dia a todos,

    Espero que emendado todos os erros que constavam no post.

    Desde já quero agradecer os vossos comentários. Serão eles a base da minha apresentação oral que, infelizmente, teve que ser adiada.

    Zé, coloquei aqui o álbum dos Sigur Ros por duas razões: primeiro porque foi ao que eu ouvi (como modo de concentração) para fazer este trabalho; e porque a Diane Arbus, a dada altura, fotografou uma série de pessoas portadoras de deficiência mental da qual deu o título de "Untitled #... ". IUma das músicas desse álbum tem como videoclip um conjunto de deficientes mentais a "flutuar" entre as planícies islandesas... Pronto, achei curioso relacionar outras "artes" na obra de Arbus (levo o livro que tem essas fotos).

    Eurico, tens toda a razão em dizer que Diane Arbus "contribuiu para dar voz aos marginalizados da sociedade Americana".

    Vou levar para a apresentação um livro que a Prof. Diana me emprestou para vos mostrar outras imagens que estão relacionadas com o tema que eu abordei (questão da identidade / género) mas para também conhecerem esses "marginalizados" americanos.

    Peço desculpa não responder a comentários um a um mas... aguardem a minha apresentação :-P

    Beijinhos para todos

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  8. Aninha... pediste para vir comentar mas pelo que li tens aqui muitos excelentes comentários que me deixaram um pouco sem saber o que dizer.
    Adorei esta frase: "Toda a beleza em si é uma aberração, um fardo cada vez mais pesado e tornar-se um vazio interior" por isso acho que vou partir um pouco por aqui. A sociedade tem a mania de rotular aquilo que considera estranho e fora do normal como aberração! Até à bem pouco tempo a homossexualidade era assim considerada. Não era "normal" dois homens ou duas mulheres gostarem uns dos outros. Contudo, na antiguidade clássica o amor homossexual era uma prática comum. Porque não haveria de ser agora?
    Os hermafroditas integram esta discriminação social... São vistos como aberrações da natureza e ainda hoje são vistos assim. Mas... não seremos nós as aberrações? Afinal, nós é que nascemos apenas com um sexo, não podendo decidir qual realmente queremos ser ou sentimos ser. Por isso existem tantas operações para mudança de sexo, as pessoas não se sentem bem com o próprio corpo. Se todos fôssemos hermafroditas não haveria esse problema. O sexo com o qual nos identificasse-mos mais seria aquele com que ficaríamos.
    Pronto e antes que me internem num hospital psiquiátrico eu termino por aqui.

    Nicole Cotter, 35169

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  9. Olá, espero que tudo esteja bem.

    Tenho pensado no tema desta apresentação há algum tempo e venho hoje comentar – até porque reparei agora que me faltam três comentários no blog!

    Primeiro parece-me necessário separar ética de moral, pois não podem ser consideradas equivalentes.

    Posto isto: quanto à moral espero que seja enterrada com brevidade. Não me parece que quem quer que seja deva interferir na vida de um homem ou de uma mulher a partir de valores ficcionais como se de um valor intrínseco se tratasse. A moral é como o nacionalismo: uma coisa qualquer que alguém decidiu inventar e da qual nos devemos afastar assim que possível. Portanto pouco mais adianta dizer.

    No respeitante à ética, parece-me que as coisas são diferentes. Ao contrário da moral, a ética, se ela existir de facto (i.e. não for um mero produto da educação), tem carácter universal.

    É sem dúvida importante que cada Homem se sinta bem consigo mesmo e com o seu corpo. Porém é necessário pensar nas implicações causadas por esse bem sentir. Por exemplo, só é hoje possível mudar de sexo graças à evolução da ciência, e talvez o preço a pagar por essa evolução não compense essa felicidade.

    Francisco Horta - 37132

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