quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bruce Nauman

Uma instalação com escultura e vídeo

Shit in Your Hat-Head on a chair 1990

terça-feira, 27 de abril de 2010

BARBARA KRUGER & ANA HATHERLY

Barbara KrugerUntitled (I shop therefore I am), 1987
Biografia de Barbara Kruger
Barbara Kruger (fotógrafa e artista conceptual) nasceu em 1945 em New Jersey. Estudou Arte na Universidade de Syracuse em Nova Iorque e o seu trabalho foi exibido no mundo inteiro.
No seu trabalho usa as cores Preto, Branco e Vermelho.
Kruger manipula a imagem (montagem de imagens e texto) e faz os seus comentários sobre as questões sociais.
O seu trabalho torna-se em ícones visuais demonstrativos da maneira como era construído o poder nos anos 1980 e 1990 altura em que o outdoor era considerado um suporte para divulgar apenas anúncios que incentivavam o consumismo e promoviam a competividade entre as empresas.
A ousada abordagem de Kruger tem como objectivo trazer uma discussão inquietante entre a sua obra e o espectador uma vez que critica a sociedade através do tema consumista num ambiente consumista.
A artista realiza nas suas obras uma crítica às relações sociais, ao estilo de vida do ser humano, às formas de dominação, aos estereótipos que o homem constrói e aos preconceitos.
A influência do feminismo é predominante, destacando e desafiando as normas patriarcais e as relações de poder usando um estilo de agitprop (propaganda política)
Por ser uma artista da geração pós-modernista, Kruger tenta induzir nas suas obras a reflexão dos observadores assim como trabalhar para que as suas obras tenham sempre uma essência crítica aos paradigmas da época.
Kruger teve exposições no Museu de Arte Contemporânea em Los Angeles, Whitney Museum em New York, Tate Gallery - Londres, Rhona Hoffman Gallery – Chicago, Yvon Lambert – Paris e Spruth Magers Berlin Londres.


O decifrador de imagens

O decifrador de imagens
persegue um fantasma de vestígios
como Ulisses amarrado
ao querer do conhecer
A descoberta é invenção provisória:
as vozes não se vêem
o que se vê não se ouve
A imaginação
ergue-se do arrepio da sombra
guerrilha entre parênteses
ergue-se da constante chacina
procurando outra coisa
outra causa
o outro lado do ver
Ana Hatherly
2003


Biografia de Ana Hatherly

Ana Hatherly (Porto, 1929) é poetisa, ensaísta, investigadora, tradutora, professora universitária e artista plástica portuguesa.
Membro destacado do grupo da Poesia Experimental Portuguesa nos anos 1960 e 1970, tem uma extensa bibliografia poética e ensaística. Dedicou-se também à investigação e divulgação da literatura portuguesa do período barroco tendo fundado as revistas Claro-Escuro e Incidências. Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores nos anos 1970, foi também membro fundador e depois Presidente do P.E.N. Clube Português e Presidente do Committee for Translations and Linguistic Rights do P.E.N. Internacional.
Em 1978 foi agraciada pela Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro com a medalha Oskar Nobiling por serviços distintos no campo da literatura. Em 1998 obteve o Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores; em 1999 o Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português; em 2003 o Prémio de Poesia Evelyne Encelot, em França, e o Prémio Hannibal Lucic, na Croácia.
Paralelamente tem uma carreira como artista plástica, iniciada nos anos 1960, com um extenso número de exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro. As suas obras encontram-se nos principais Museus de Arte Contemporânea de Portugal e em colecções privadas nacionais e estrangeiras.
Relação texto/obra

O decifrador de imagens seria a própria artista Barbara Kruger que tenta revelar através da sua arte o segredo que se encontra por detrás da política, da publicidade que incentiva ao consumismo.
Persegue e critica a política e a sociedade querendo dar a conhecer às pessoas a realidade para poderem ter conhecimendo de que estão a ser enganados.
A descoberta que seria a arte de Kruger é uma invenção provisória na sociedade porque ninguém quer encarar a realidade por muito tempo e deixa-se influenciar de novo pela sociedade em que vive. Uma sociedade consumista e politicamente injusta que inspira Kruger na sua arte, erguendo-se a imaginação “do arrepio da sombra” ou seja das mais profundas mentiras, enganos da sociedade.
A guerrilha que se ergue da constante chacina representa talvez a mesma sociedade consumista que é vitima da política, da economia, da publicidade tal como o gado que é morto para alimentar.
A artista procura o outro lado do ver mostrando-o na sua arte de uma maneira irónica e crítica.




Trabalho realizado por:
Ada Andreea Dirvareanu

domingo, 25 de abril de 2010

Warhol videasta

Andy Warhol foi um artista com muitas máscaras, de mil e um recursos. Espreitem este vídeo dos The Cars, os anos oitenta no seu melhor...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

She is a femme fatale 2

(para tornar o texto mais visível, clicar na imagem)

Revista Ítaca, FLUL

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jacob Riis - Florbela Espanca


Jacob Riis, Plank for a Bed, 1890


Poema:

Pior Velhice

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, naufraga da Vida, ando a morrer!

A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!

E dizem que sou nova ... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!

Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova ... outrora ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"


Nesta a fotografia, Plank for a Bed de Jacob Riis, existem pormenores que nos chamam à atenção.Um desses pormenores é a mão exposta no lado direito da fotografia, apontado para a senhora idosa.Por um lado uma das conclusões que podemos tirar desta mão, é que poderá ser alguém a ordenar lhe para expor o seu corpo perante uma pessoa desconhecida, neste caso o fotógrafo. Por outro lado também podemos dizer que poderá ser alguém a apontar para o que a senhora e para o que ela está a fazer, sem qualquer segunda intenção.

Relativamente à senhora, levando pelo lado de aceitação de uma ordem, observando o seu rosto, podemos constatar que está de olhos fechados podendo isto significar que esta não queria se expor, e uma maneira de se negar a tal, é não olhando para a máquina, mostrando assim a sua relutância à invasão da sua privacidade. Por outro lado, também podemos referir o facto do flash da máquina fotográfica; como já estudámos, Jacob Riis foi dos pioneiros na utilização do mesmo, e para evitar a cegueira do flash, a senhora idosa pode ter fechado os olhos para não ficar com cegueira temporária.

Observando o corpo da mulher idosa, podemos dizer que é um corpo velho, gasto, frágil e cansado, que pode ser comparado com a tábua que está a seu lado, também ela um objecto frágil, sublinhando assim a fragilidade da mulher.


Jacob Riis ficou conhecido por retratar bastante a vida dos mais empobrecidos à alta sociedade.

Outro pormenor interessante e que nos faz dar mais ênfase a pobreza e à velhice é o facto de a fotografia ser a preto e branco, pois são cores morta e inanimadas.

Relativamente ao poema por mim escolhido, a quadra que mais identifico com a fotografia, é a primeira quadra, pois o sentimento e ideia que me transmite, estão muito explicitas nesta mesma quadra pois a senhora idosa está triste demonstra que não tem vontade de viver, tem um ar cansado, desgastado, velho.



Emanuel Francisco Nº 42299

domingo, 18 de abril de 2010

Edward Weston - Herberto Helder

O lugar do corpo na escrita da paisagem

A Imagem:



White Dune, 45SO


O Poema:

Eu podia abrir um mapa: «o corpo» com relevos crepitantes
e depressões e veias hidrográficas e tudo o mais
morosas linhas e gravações um pouco obscuras
quando «ler» se fendia nalguma parte um buraco
que chegava repentinamente de dentro
a clareira arremessada pelo sono acima
insóna vulcânica sala contendo toda a febre «táctil»
furibunda maneira
esse era então uma espécie de «lugar interno»
áspera geologia alcalina e varrida e crua
exposta assim à leitura que se esqueceu do seu «medo»
o corpo com todas as «incursões» caligráficas
«referências» florais «desvios» ortográficos da família dos carnívoros
«antropofagias» gramaticais e «pègadas»
ainda ferventes
ou minas com o frio bater e o barulho escorrendo
«um mapa» onde se lia completamente o sangue e suas franjas
de ouro o irado desregramento da «traça
primeira» e o apuramento do mel com a labareda
inclusa o corpo na prancheta
para a lisura sentada onde se risca a posição mortal
«um papel» apenas a branca tensão do néon
no tecto o jorro de cima «declarando» qualquer rispidez
a suavidade toda uma bastarda
graça
de infiltração na sonolência ou explosiva
«vigilância» combustão das massas ao comprido
do «desenho» irregular
e só então assim desterrado do ruído nos subúrbios
ele apenas agora «composição» forte e atada de elementos
escarpas rapidamente
decorrendo
corpo que se faltava em tempo «fotografia»
de um «estudo» para sempre
como lhe bastava ser possível tão-só uma certa
temperatura
grutas aberturas minerais palpitações no subsolo
tremores
anfractuosidades esponjas onde pulsavam canais dolorosos
e a arfante matéria irrompendo nos écrans
com o susto leve das «manchas» que se uniam
essa energia sem espaço súbita «geometria» a costurar de fora
mordeduras velozes delicadezas
nervuras vivas
para seguir até ao fim «com os olhos»
como uma paisagem de espinhos faiscantes
«o contorno» que queima de uma lâmpada acesa
toda a noite no gabinete do cartógrafo.

Antropofagias, Texto 4


Edward Weston

“The camera should be used for a recording of life, for rendering the very substance and quintessence of the thing itself, whether it be polished steel or palpitating flesh”. E.Weston

Nascido a 24 de Março de 1886 em Highland Park, Illinois e falecido a 1 de Janeiro de 1958 em Wildcat Hill, Carmel, Califórnia, Edward Weston começou a fotografar com 16 anos de idade, após ter recebido como presente, uma câmara fotográfica do seu pai.
Em 1906, Weston vê a sua primeira fotografia publicada na revista Camera and Darkroom, tendo o seu trabalho como fotógrafo itinerante começado pouco depois, quando se muda para a Califórnia e onde começa a fotografar crianças, animais de estimação e alguns funerais.
Ciente da importância da formação técnica, Weston frequenta o Illinois College of Photography, regressando posteriormente à Califórnia, onde começa a desenvolver um trabalho de assinalável qualidade, destacando-se os trabalhos de pose e iluminação, aplicados à fotografia de retrato, num assumido estilo picturalista.
Em 1911, após casar e tornar-se pai do que seriam futuros fotógrafos (Brett e Cole Weston), Edward Weston abre o seu próprio estúdio, como retratista, em Tropico (actual Glendale), Califórnia, onde desenvolve o seu trabalho durante duas décadas.
Galardoado e reconhecido no seu tempo, destacando-se essencialmente como retratista e fotógrafo de dança moderna, Weston conhece a fotógrafa Margrethe Mather, que se tornará sua assistente e modelo fotográfico.
Em 1922, a carreira artística de Weston conhece um ponto de viragem, após uma visita efectuada à fábrica de aço ARMCO, em Middletown, Ohio, onde Weston contacta com novas realidades, depuradas e livres de artificialismos, que o fazem renunciar ao estilo picturalista, em favor das formas abstractas e da definição de pormenores. Weston contacta nessa altura, em Nova Iorque, com artistas como Alfred Stieglitz, Paul Strand, Charles Sheeler e Georgia O'Keefe.
Um dos períodos consagrados à fotografia de nús ocorre em 1923, no México, onde Weston conhece artistas como Diego Rivera, Frida Khalo, David Siqueiros e José Orozco.
Uma das fases mais importantes da carreira artística de Weston dá-se a partir de 1926, quando regressa novamente à Califórnia e começa a fotografar paisagens e formas naturais, nús e grandes planos de conchas marinhas e legumes (pimentos, couves), evidenciando as suas texturas e formas escultóricas. São também desse ano as fotogafias de rochas e árvores em Point Lobos, Califórnia.
Em 1932, conjuntamente com Ansel Adams, Willard Van Dyke, Imogen Cunningham e Sonya Noskowiak, Weston funda o que se intitulará Grupo f/64, nome escolhido devido à especificidade deste termo óptico, que assegura a máxima nitidez de imagem, quer em planos próximos ou distantes.
O ano de 1936 representa o que é para muitos o melhor período de Weston, por ser também o mais experimental, incidindo sobre nús, dunas e paisagens desérticas, em Oceano, Califórnia, e sobre o qual a presente apresentação /trabalho se insere.
Para além de ser o primeiro fotógrafo agraciado, no ano de 1937, com um fundo do Guggenheim Fellowship, que lhe permitiu viajar através da Califórnia e dos seus estados vizinhos durante dois anos, Weston contribuiu ainda com algumas das suas imagens para uma nova edição de Leaves of Grass, de Walt Whitman, no ano de 1941.
Refira-se, a título de curiosidade, que partir de 1915, Weston começou a reunir crónicas sobre a sua vida e obra, a que deu o nome de daybooks. Eis aqui um desses excertos:

“My way of working – I start with no preconcieved idea – discovery excites me to focus – then rediscovery through the lens – final form of presentation seen on ground glass, the finished print previsioned – complete in every detail of texture, movement, proportion before exposure – the shutter's release automatically and finally fixes my conception, allowing no after manipulation”.


Herberto Helder

Nascido a 23 de Novembro de 1930 no Funchal (Madeira), Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira parte em 1946 para Lisboa, onde frequenta os estudos liceais. Em 1948 matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo concluído o curso.
Oscilando a sua actividade profissional entre a banca e a publicidade, Herberto Helder publica o seu primeiro poema em Coimbra, no ano de 1954.
Em Lisboa, no ano de 1955, contacta com o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo, publicando em 1958 o seu primeiro livro, O Amor em Visita, editado por Luiz Pacheco, o que pode em parte relacionar a sua escrita inicial com uma espécie de surrealismo tardio. Durante os anos que se seguem, vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais.
Em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional como redactor de noticiário internacional. Ainda nesse mesmo ano, publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o envolve num processo judicial no qual é condenado, o que provoca o seu despedimento da Rádio e da Televisão portuguesas.
Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola, onde trabalha como redactor da revista Notícia. Enquanto repórter de guerra, é vítima de um grave desastre, ficando hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias.
Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os Estados Unidos da América, em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém o conjunto da sua produção poética, fazendo uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda.
Em 1975, passa alguns meses em França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa, onde trabalha na rádio e em revistas. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa, características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária.
Nos anos que se seguiram, publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra, Photomaton e Vox, A Cabeça entre as Mãos, As Magias, Última Ciência, Do Mundo e, mais recentemente, A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (2008). Ofício Cantante (2009) constitui a última versão, modificada, de Poesia Toda.
Sendo considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, avesso a prémios, entrevistas e honrarias, Herberto Helder cultiva, desde há muito, uma existência quase eremita, aparentemente divorciada da sociedade.
Ao longo da sua obra, Herberto Helder visita temas como a mulher-mãe, o cosmos, a língua, a deambulação e identidade humanas, para além das geografias do corpo, do espaço e do tempo. É pai do jornalista Daniel Oliveira.


O lugar do corpo na escrita da paisagem – Reflexão

Edward Weston acreditava no diálogo contínuo entre todas as formas, cuja origem provinha da natureza, assente numa interacção constante entre micro e macrocosmos.
A imagem de Weston sugere um corpo humano, inscrito numa paisagem desértica.
O poema de Herberto Helder sugere um corpo, a partir de um mapa cartografado.
Nos dois casos, a contaminação está presente, seja pela sugestão de um corpo nú, vasto como uma montanha (em Weston), seja na transformação da matéria em corpo térmico-explosivo, objecto de prazer antropofágico (em Helder).
Em ambos os textos (visual e literário) aqui apresentados, o corpo surge como uma forma impressa, dotada de relevos e contornos próprios, caligafados numa geologia antropomórfica da paisagem.
Existe, do mesmo modo, uma interpretação sexual ambígua, aplicada ao universo das formas geométricas, lavradas na paisagem de Weston, ou mergulhadas em pulsão sanguínea, no texto de Helder.


Bibliografia:

Weston, Edward & Newhall, Nancy, Edward Weston's Book of Nudes, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles, USA, 2007.
Mibelbeck, Reinhold, Fotografia do Século XX, Museu Ludwig de Colónia, Taschen, Colónia, Alemanha, 2001.
Trcka, Anton Josef, Weston, Edward, Newton, Helmut, The Artificial of the Real, Kestner Gesellschaft, Scalo, Hannover, Germany, 1998.
Ewing, William A., The Body, Photoworks of the Human Form, Thames and Hudson, London, UK, 1994.
Helder, Herberto, A Faca Não Corta o Fogo, Súmula & Inédita, Assírio & Alvim, Lisboa, 2008
Helder, Herberto, Ou o Poema Contínuo, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.
Cambridge Advanced Learner's Dictionary, Cambridge University Press, UK, 2005.
Dicionário de Língua Portuguesa, Porto Editora, 2006.


Sitiografia:

http://www.edward-weston.com/
http://www.edward-weston.com/edward_weston_original_38.htm http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/biogra.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Herberto_H%C3%A9lder



Fernando Claudino
Aluno n.º 36447

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Alfred Stieglitz + William Carlos Williams

Alfred Stieglitz, Georgia O'Keeffe, 1919




William Carlos Williams, Naked


What fool would feel

His cheeks burn

Because of snow?

Would he call it

By the name, give it

Breasts, features,

Bare limbs?

Would he call it

A woman?

(Surely then he would be

A fool.) (...)


Would he forget

The sight of

His mother and

His wife

Because of her? -

Have his heart

Turned to ice

That will not soften?

What! Would he see a thing

Lovelier than

A high-school girl

With the skill

Of Venus

To stand naked -

Naked on the air?

Falling snow and

you up there - waiting.


Alfred Stieglitz (January 1, 1864 – July 13, 1946) was an American photographer and modern art promoter who was an active artist for over his fifty-year career in making photography an accepted art form. Besides photography, Stieglitz was also known for running art galleries in New York in early 20th century, where he introduced many avant-garde European artists to the U.S. He was married to a painter Georgia O'Keeffe.

William Carlos Williams (September 17, 1883 – March 4, 1963), also known as WCW, was an American poet closely associated with modernism and Imagism. He was also a pediatrician and general practitioner of medicine. Williams "worked harder at being a writer than he did at being a physician," wrote biographer Linda Wagner-Martin; but during his long lifetime, Williams excelled at both.


In both works, we can see a body, a body without a head, a feminine act. Without identity.
Of course, in the work of Stieglitz, it is Georgia O'Keeffe. Those who visited his exhibits knew it well. He was very brave going beyond conventions, beyond the established rules. In the name of passion, love and beauty.
In Williams' poems it is an unknown woman. We know that she is very different from a mother-woman or wife-woman. She is a sexual object, and she does not show any responsiblity. She is like a metaphor, also in the name of beauty and fascination. She is "a young Venus."
Imagism, is a literary movement in English and American poetry taking place from 1910 to 1918. This movement was an opposition to romanticism and idealism. For the imagist poetry, the picture was the most important - it was characterized by clarity and precision of details - based on a metaphor. Many authors modeled the poetry of the Far East (Japanese and Chinese). Poetic image, indeed, in both works is based on a metaphor.
In Stieglitz: the metaphor is the female body. Why metaphor? Because this act is nor obscene nor vulgar. But it is a gentle and subtle drawing of woman's body, showing the curves of her bosom, hips, thighs. Amazing shilouette.
In Williams: the whole landscape is built on metaphor, metaphor of "a young Venus". „Venus de Milo” is inscribed in the canon of beauty, of proportion. She became the archetype of beauty. O'Keeffe is presented without her head, only her body. Like an ancient sculpture and she is suspended in the air.
"With The Skill
Of Venus
To stand naked -
naked on the air? "


(Jagienka Szymańska, e-mail: jagienkaszymanska@gmail.com)

Cindy Sherman: Identidade como Performance

quarta-feira, 14 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

Mark Rothko

Entrevista do curador e música inspirada na obra de Rothko aquando da retrospectiva na Tate Modern, 2008/09.

James Whistler e Al Berto

Nocturne in Black and Gold: The Falling Rocket, James Whistler, 1875
Dimensões - Altura: 60.3 cm, Largura: 46.6 cm


- todos os pássaros sossegaram
as crianças desceram das árvores e guardaram os jogos
nas algibeiras
recolheram a casa vagarosamente

- é noite

- a cidade pendurou ao pescoço seus filamentos de néon
ouvem-se motores
vozes longínquas esparsas na neblina
as nuvens ainda fiam a ténue luminosidade do crepús-
culo

(...)

- corremos

- em cada voz sussurrada acorda um objecto cortante
uma faca de luz um fogo capaz de exterminar
e no asfalto reabre-se uma ferida
arrasta-se um sapato muito devagar

- é noite dolorosamente noite
nos ossos guardamos a essência do voo e na pele a soli-
dão de muitos caminhos
uma estrada mais nítida tatuou-se-nos na memória

- incrustaram-se nas pálpebras da noite brancas imagens
de insónia
reparem
nestas folhas de papel atiradas ao vento
estes rostos carcomidos pela humidade do desejo
estes túneis-labirintos de espelhos
esta fuga sempre recomeçada pelos alicerces calcários da
cidade

Al Berto, in Apresentação da Noite


...

James Abbott McNeill Whistler (1834-1903) nasceu em Lowell, Massachusetts. Aos 17 anos ingressa na Academia Militar de West Point, em Nova Iorque, não vingando nos estudos – excepto em desenho:

“Os grosseiros esboços de Whistler revelavam indiscutível talento e singular independência de pensamento.”[1]

Inadaptado, vai para Paris, onde fica durante 4 anos e se matricula no estúdio de Charles Gleyre, onde Monet e Renoir, precursores do impressionismo, também estudariam. É influenciado pelas gravuras japonesas, trazidas para “consumo” ocidental após os feitos do Almirante Perry no Pacífico, os quais abriram as portas do Japão ao comércio. Sempre controverso, de indumentárias vistosas, expõe o muito criticado Arrangement in Black and Grey: The Artist’s Mother em 1872, na Academia Real de Londres.

Em 1876, Frederick Leyland encomenda-lhe um trabalho de decoração na sua sala dedicada ao orientalismo. O primeiro objectivo era apenas de abrilhantar a sala de forma a expor a sua colecção de cerâmicas chinesas. Whistler ter-se-à excitado com a ideia e, aquando da apresentação daquela que ficou conhecida como The Peacock Room ao seu dono, este ficou estupefacto e escandalizado com o resultado.

Em 1877, Whistler exporia na Galeria Grosvenor. Acreditando que tal exposição lhe traria grande reconhecimento, bem como boas vendas, ordena a construção de uma casa na rua Tite. No entanto, a opinião de John Ruskin, entre outros, viriam a ter graves repercussões na opinião pública londrina. Nocturne in Black and Gold: The Falling Rocket seria o principal objecto das criticas, :

“... cuja grosseira presunção tanto se aproxima da impostura. Vi e ouvi muita insolência antes disso, mas jamais esperei ouvir um pelintra a pedir 200 guinéus para arremessar um pote de tinta na face do público.”[2]

A exposição, ao contrário do que Whistler esperava, trouxe-lhe apenas prejuízo. Processa Ruskin por difamação – o que chocaria toda a Inglaterra -, tendo ganho o caso. No entanto, é indemnizado com um farthing, valor correspondente a um quarto de pence (quantia ínfima), depois de ter pago todo o processo, bem como o advogado. Declara falência em 1879. A sua residência na rua Tite é vendida com todos os seus pertences; é enviado para Veneza pela Sociedade de Belas Artes de Londres para fazer uma série de gravuras, voltando a Londres em 1880.

Casa-se aos 54 anos (1888) com a viúva do arquitecto que projectou a sua casa na rua Tite. No ano seguinte, bem como em 1891, é condecorado pelo governo francês. Em 1891 dá uma grande exposição em Paris, onde fica a viver com a sua mulher. Acaba por voltar a Londres aquando da doença daquela, morrendo ambos pouco após.

...

Poeta português, natural de Coimbra, Al Berto (1948–1997) frequentou diversos cursos de artes plásticas, em Portugal e em Bruxelas, onde se exilou em 1967. A partir de 1971 dedicou-se exclusivamente à literatura. Estreou-se com o título À Procura do Vento no Jardim de Agosto (1977). A sua poesia retomou, de algum modo, a herança surrealista, fundindo o real e o imaginário. Está presente, frequentemente, uma particular atenção ao quotidiano como lugar de objectos e de pessoas, de passagem e de permanência, de ligação entre um tempo histórico e um tempo individual. Por vezes, os seus textos apresentam um carácter fragmentário, numa ambiguidade entre a poesia e a prosa (Lunário, 1988; e O Anjo Mudo, 1993).

(retirado de www.astormentas.com)



[1] Wier, Robert W., instrutor de Whistler na Academia Militar de West Point in McKinney, Roland I., Pintores Americanos Famosos, Editora Lidador, 1965, Rio de Janeiro

[2] Ruskin, John, crítico de arte inglês in Flexner, James Thomas, Pequena História da pintura Norte-Americana, Livraria Martins Editora, 1963, São Paulo

...


Apresentação da Noite nasceu, a um dado momento, da necessidade de tornar audível esse silêncio onde se perde todo e qualquer desejo de escrever.

Al Berto, in Apresentação da Noite

A escolha destes dois objectos de estudo partiu, em grande parte, da ligação que a noite cria entre ambos. Elemento fundamental em toda a obra de Al Berto, bem como na série de Nocturne[s] de Whistler, a noite serve de ambiente, tema, objecto e corpo.

Nocturne in Black and Gold: The Falling Rocket de Whistler, por sinal o mais negro em ambiente de entre os Nocturne[s], transmite toda uma ideia de expectação; o quadro e todos os seus elementos apresentam-se impregnados de movimento, fruto da pincelada incerta do artista, tendo, no entanto (e sublinho), inerente uma calma e, sobretudo, uma estagnação próprias da noite. O olhar observador precisa de parar e sorver, “vagarosamente”, cada pincelada de negro, cada pincelada de luz. Esta última, bem como a cidade de Londres sobre o Tamisa, surgem como intrusos daquela noite estagnada, enclausurada na sua inércia inata, certamente cheia de sons, ruídos, “sussurros”, mas descansada como aqueles que nela adormecem. Não obstante, é injusto considerarmos a luz puramente uma intrusa, neste caso específico: o fogo de artifício, tema/título do quadro, espalha-se pela noite, fundindo-se brutalmente com ela. O olhar expectante procurará, observando languidamente, o efeito que aquele rastro de luz terá no negro, aprimorando a ruptura que se funde em si própria, como uma insónia de luz.

Em Al Berto, a insónia é mote, e a noite é a folha sobre a qual o devaneio se inscreve. Por vezes abraçada à dor, a noite é o “espaço” dos corpos mortificados, dos corpos ausentes, dos corpos bêbedos e daqueles embevecidos pelo abraço escuro sobre a cidade. No extracto escolhido, retirado da montagem de extractos que é Apresentação da Noite, a cidade, sobre a qual cai a noite, surge como um espaço primordial: local de fuga e/ou clausura, a cidade é expectante, passiva, corroída, desejada, usada... A cidade é o corpo ausente; a sua paragem, o seu adormecimento, a sua insónia exigem o devaneio de uns (do sujeito poético, por exemplo) e a ausência de outros. No entanto, aqueles que ficam são doentes, “rostos carcomidos”, corpos perturbados pelo sonho e pela consciência esquecida. A cidade, recupero, pára de noite. Motores, vozes longínquas, “a ténue luminosidade do crepúsculo”: fundem-se todos estes elementos, destacando-se ao mesmo tempo, como objectos cortantes que abrem feridas no asfalto. A cidade é o corpo ausente, repito: é a memória. Tal como no quadro de Whistler, a cidade é o elemento-metáfora de todos os corpos: os que observam, festivos e expectantes, o fogo de artifício em Cremorne Gardens; os que devaneiam “pelos alicerces calcários da cidade”; e, sobretudo, os que dormem.

A noite funciona, assim, como ausência: a saudade, inerente tanto no excerto como no quadro, procura um elemento para sentir falta (a luz, presente em ambos, mas efémera – no caso do crepúsculo - e artificial – no caso do fogo de artifício e da iluminação artificial), e, de facto, é esse um dos pontos primordiais a reter: a calma e a expectação são inerentes em ambos os objectos de estudo, sendo frutos da própria essência da noite, do hábito consecutivo, da eternidade do escuro descansado.


Sérgio Ribeiro, 37109
Estudos Artísticos - especialização em Artes do Espectáculo

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Alteração datas apresentações orais


Atenção, tomei a liberdade de alterar as datas das apresentações orais já marcadas, adiantando-as, de modo a ganharmos aulas de exposição e análise de conteúdos programáticos dos dois módulos finais — "O Império dos Sinais" e "A Era da Ansiedade" —, antes das apresentações orais sobre os artistas neles incluídos. Espero não ter causado transtornos aos alunos envolvidos; caso algum de vocês não possa fazer a apresentação na nova data, contactem-me para reajustarmos marcação. Consultem o calendário, por favor.

Os alunos que ainda não marcaram a apresentação oral devem fazê-lo quanto antes.

Diana Almeida

Em resumo:

5 Maio
Apresentação de trabalhos
Francisca. Gertrude Kaesebier
Ada: Barbara Kruger
Érica: Cindy Sherman
Ana Silvério: Carrie Mae Weems

10
Apresentação de trabalhos
Ana Patrícia Duarte: Jackson Pollock
Mauro: Andy Warhol
Iolanda: Richard Serra
Sara Oliveira: Louise Bourgeois

12
Apresentação de trabalhos
Juliana: James Turrell
Raquel Correia: Walter de Maria
Bruno Santos: Robert Smithson

Aula 12 Abril, O Império dos Sinais

Queridos alunos:

Acabei de ser agora informada de que, por motivos de força maior, a arquitecta Paula Miranda, não vai poder comparecer na próxima segunda-feira.
Assim sendo, vamos retomar a sequência do nosso calendário e tratar dos conteúdos programáticos constantes no vídeo 7 (The Empire of Signs), da série American Visions, de Robert Hughes. Agradeço, pois, que visionem o programa com base nos tópicos propostos, de modo a podermos reflectir juntos sobre o período do pós-guerra na arte norte-americana (décadas de 1950 e 1960).

Diana Almeida

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Encontros do ICA

Joseph Cornell || Federico Garcia Lorca

Tilly Losch c. 1935
Construction, 10 x 9 1/4 x 2 1/8 in.
Collection Mr. and Mrs. E. A. Bergman, Chicago
De Joseph Cornell (Nova York, 24 Dezembro 190329 Dez de 1972

TUA INFÂNCIA EM MENTON

Sim, tua infância: já fábula de fontes.
Jorge Guillén

Sim, tua infância: já fábula de fontes.
O comboio e a mulher que preenche o céu.
Tua solidão esquiva nos hotéis
e tua máscara pura de outro signo.
E a infância do mar e teu silêncio
onde os vidros hábeis se quebravam.
[…]
Mas eu hei-de buscar pelos recantos
tua alma tépida sem ti que não te entende,
com a mágoa de Apolo prisioneiro
com que rasguei a máscara que levas.
Ali, leão, ali, fúria de céu,
deixar-te-ei pastar em minhas faces;
cavalo azul de minha loucura, ali,
pulsar de nebulosa e ponteiro dos minutos.
[…]
Amor, amor, amor. Infância do mar.
Tua alma tépida sem ti que não te entende.
Amor, amor, um voo da corça
pelo peito infinito da brancura.
E tua infância, amor, e tua infância.
O comboio e a mulher que preenche o céu.
Nem tu, nem eu, nem o ar, nem as folhas.
Sim, tua infância: já fábulas de fontes.

Federico Garcia Lorca (Granada, 5 Jun 1898- 19 Agos 1936)

Se um dia se descobrisse um modo de prolongar o corpo humano para uma espécie de extensões, que permitissem guardar memórias, e sempre que necessário, poder olhar para elas, essas extensões, poderiam ser caixas com vários objectos, e cada um deles remeteria para um momento; poderiam também ser poemas, onde cada palavra se endereça a um instante.
Corria o ano de 1931 em Nova York. Joseph Cornell, então com 28 anos, visitava Julien Levy na sua galeria. Levy desempacotava as obras de artistas europeus, que estariam na sua primeira exposição. Cornell, descobre as colagens de Max Ernst, que o irão inspirar na sua própria obra. Dois meses depois, as suas obras integravam a exposição “Surrealisme” juntamente com nomes como Max Ernst, Man Ray ou Jean Cocteau.
Este artista autodidacta tanto procurava a sua matéria prima nas feiras e lojas em segunda mão, como na natureza, em longos passeios de bicicleta pelos parques de Nova York. Cornell concebia as suas colagens e montagens (assemblages) numa linguagem surrealista, mas afastava-se dos seus fundamentos psíquicos, mais radicais, e compunha as suas caixas em forma de poesia, desvendando mundos de fantasia nostálgica, próximos de um romantismo vitoriano, presente através das ilustrações de livros antigos.
Cornell teve uma vida de recluso, apesar das suas saídas em busca de matéria prima, ou mesmo como observador da arte dos outros, visitas a galerias, espectáculos de música, dança ou cinema. Vivia com a mãe e o irmão deficiente de quem tratava religiosamente. A obsessão em coleccionar, arquivar e relatar os seus dias, não lhe deixava espaço para concretizar todas as emoções que guardava nas suas obras. Cornell desenvolvia grandes paixões pelas estrelas de cinema e da dança, fortes inspirações das suas peças, chegando mesmo a oferecer-lhes os objectos mais raros e as suas caixas mais elaboradas.
Em 1935, Cornell constrói uma caixa com a imagem ilustrada de Tilly Losch, bailarina dos anos 30. Nas suas palavras, as “caixas transformam-se em teatros poéticos ou cenários onde são metamorfoseados elementos de uma infância passada”.
Entre 1929 e 1930 Federico Garcia Lorca escreve vários poemas que iriam integrar a obra: “Poeta em Nova York”, entre os poemas apocalípticos desta obra, Lorca escreve “Tua infância em Menton”, onde invoca as vivências felizes da sua infância, procurando regressar a esse tempo inalterável, o da meninice.
Nascido a 5 de Junho de 1898 numa província de Granada, Garcia Lorca desde logo se interressou pela literatura romântica e clássica. Os seus primeiros poemas foram editados enquanto estudava em Madrid, procurava temas relativos à música e folclore da Andaluzia. Nesta altura conhece Luis Buñuel e Salvador Dalí, que o introduzem ao surrealismo. Em 1929 ruma a Nova York, passa por Cuba e Buenos Aires, onde conhece o poeta Pablo Neruda. De Regresso a Espanha, em 1932 cria o teatro Universitário “ A Barraca”, onde montou várias peças de Lope Veja e Cervantes. Não ocultava as suas ideias socialistas e as tendências homossexuais, e após a eclosão da guerra civil Espanhola, quando procurava refugio em Granada, foi executado em Agosto de 1936, diz-se que o seu corpo ficou perdido nas montanhas da Serra Nevada.
Tanto ”Tilly Losch” como “Tua infância em Menton” manifestam um corpo suspenso. Um corpo suspenso no tempo. Que ficou ali, naquele momento congelado. Cornell transpõe a graciosidade da dança de Tilly, apresentando-a como se fosse um balão que viaja pelos céus. O seu corpo que dança, e se eleva ,e que deixa de ter peso, flutua e transforma-se na “mulher que preenche o céu”.
Este corpo suspenso viaja, veio de longe, chegou até ali, é esquivo e é buscado
. É também um corpo “performativo” que dança, que representa, é uma figura, “uma máscara pura”, e é o corpo da infância desta canção de embalar que ambos invocam e que querem que fique para sempre.

Fontes:
Web
Joseph Cornell
http://www.thefreelibrary.com/"Joseph+Cornell/Marcel+Duchamp...+in+resonance."-a055015175
http://www.josephcornellbox.com/
http://arthistory.about.com/gi/o.htm?zi=1/XJ&zTi=1&sdn=arthistory&cdn=education&tm=45&f=00&su=p897.6.336.ip_&tt=11&bt=1&bts=0&zu=http://www.aaa.si.edu/collectionsonline/cornjose/http://arthistory.about.com/cs/namescc/p/cornell.htm
http://www.boston.com/ae/theater_arts/articles/2007/04/29/from_small_boxes_big_things_come/
http://www.newyorker.com/archive/2003/02/17/030217crat_atlarge
http://www.dvdbeaver.com/film2/DVDReviews34/magical_films_of_joseph_cornell.htm
http://www.ubu.com/film/cornell.html
http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/cornell/
http://findarticles.com/p/articles/mi_m0268/is_n10_v32/ai_16097502/?tag=content;col1
http://cinmod09.blogspot.com/2009/03/mascot-tilly-losch.html
Federico Garcia Lorca
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u603007.shtml
http://www.escuelai.com/spanish_culture/literatura/lorca-biografia.html
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/g/garcia_lorca.htm
http://www.universia.net.co/noticias/mas-noticias/federico-garcia-lorca-70-aniversario-de-su-muerte.html
Tilly losh
http://www.youtube.com/watch?v=6uDZ2xJW4Bc
http://library.lib.binghamton.edu/specialcollections/findingaids/loschcol_m3.html
Bibliografia:

Lorca, Federico Garcia-Poeta en Nueva York. 3ª Edição.Madrid: Ediciones Cátedra,S.A., 1989
Bento, José (selecção, Tradução , prólogo e notas)- Antologia Poética Federico Garcia Lorca. Lisboa: Relógio D’Água, 1993
Hartigan, Lynda Roscoe- Joseph Cornell: Navigating the Imagination. 2ª Edição. Peabody Essex Museum, Salem, Massachusetts 2008


Catarina Ramalho
Nº 37682
Apresentação a 14 de Abril 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Robert Frank e Richard Yates

Chattanooga, Tennessee, 1995, Robert Frank


«These moments were not always quite spontaneous; as often as not they followed a subtle effort of vanity on his part, a form of masculine flirtation that was as skillful as any girl’s. Walking toward or away from her across a restaurant floor, for example, he remembered always to do it in the old “terrifically sexy” way, and when they walked together he fell into another old habit of holding his head unnaturally erect and carrying his inside shoulder an inch or two higher than the other, to give himself more loftiness from where she clung at his arm. When he lit a cigarette in the dark he was careful to arrange his features in a virile frown before striking and cupping the flame (he knew, from having practiced this at the mirror of a blacked-out bathroom years ago, that it made a swift, intensely dramatic portrait), and he paid scrupulous attention to endless details: keeping his voice low and resonant, keeping his hair brushed and his bitten fingernails out of sight; being always the first one athletically up and out of bed in the morning, so that she might never see his face lying swollen and helpless in the sleep. Sometimes after a particularly conscious display of this kind, as when he found he had made all his molars ache by holding them clamped too long for an effect of grim-jawed determination by candlelight, he would feel a certain distaste with himself for having to resort to such methods – and, very obscurely, with her as well, for being so easily swayed by them. What kind of stuff was this? »

YATES, Richard, Revolutionary Road, Vintage Contemporaries, 1989, USA: 218

O Corpo do Casal

Em 1955, o fotógrafo suíço Robert Frank parte numa road trip pelos Estados Unidos da América, país que habitava há quase 10 anos, com o objectivo de fotografar pessoas de vários cidades e estados, ao longo do rio Hudson. The Americans capta o quotidiano de cidadãos americanos comuns, através de o olhar de um estrangeiro, num género de fotografia documental, associado ao estilo do snap shot, (uma pequena máquina captava imagens numa sequência rápida) acentuando a singularidade dos momentos quotidianos. A polémica em torno deste trabalho de Robert Frank atrasou a sua publicação nos Estados Unidos, onde só em 1959 foi publicado, um ano depois de ter sido editado na Europa, mais precisamente em Paris.
Em 1961, Richard Yates publica o romance Revolutionary Road, que retratava a mentalidade da sociedade norte-americana precisamente no ano de 1955. O romance de Yates foca-se num casal que tenta, em vão, resistir à pressão social sobre a construção da família ideal dos subúrbios e do Sonho Americano: o homem trabalhador que sustenta a família e a mulher mãe e dona-de-casa. O livro teve bastante sucesso na época e ainda hoje é tido como uma referência para o retrato da mentalidade americana.
O excerto e a fotografia escolhida referem-se a um casal dos anos 50, o que na imagem de Robert Frank é visível pelo vestuário característico da época: o homem que usa um casaco de cabedal, popularizado pelos filmes adolescentes protagonizados por James Dean, o cabelo a fazer um género de poupa, como o cantor Elvis Presley e a rapariga maquilhada e vestida com muito cuidado e muito produzida, sendo o lenço também um toque da época, remetendo imediatamente para as estrelas femininas do cinema como Marilyn Monroe ou Audrey Hepburn. A combinação das suas posturas com o guarda-roupa revelam o modelo social dos anos 50; o herói masculino que tem de proteger a sua donzela indefesa. O rapaz coloca estrategicamente o braço em volta da rapariga, e esta aparenta ter um ar mais indefeso. No excerto escolhido esta pressão social é sentida e referida por parte do elemento masculino: “when they walked together he fell into another old habit of holding his head unnaturally erect and carrying his inside shoulder an inch or two higher than the other, to give himself more loftiness from where she clung at his arm.” O seu corpo parece aderir a uma ficção social em que ele sente que deve ser o herói, o elemento forte da relação. No excerto e na fotografia o corpo do elemento feminino também se mostra sujeito a esta idealização social, parecendo submeter-se à atitude corporal do herói masculino: “he would feel a certain distaste with himself for having to resort this methods (…) with her as well, for being so easily swayed by them.”
Apesar disto, a fotografia parece levantar uma questão de ambiguidade por parte do corpo do casal; ao separar o casal da multidão circundante, quase imperceptível ao fundo, parece sugerir que este casal se pretende afastar da norma social, caminhando noutra direcção. E também no excerto a dúvida final: “What kind of stuff was this?” parece querer recusar as imposições sociais, podendo ser lida como correspondendo à postura de afastamento presente na fotografia.
Existe na intertextualidade um contexto de época muito forte, a presença dos anos 50 reflecte-se nos corpos e na sua encenação social. É curioso constatar que podem ser criadas muito mais relações entre esta série de fotografias de Frank e o romance de Yates, visto ambos retratarem a mesma época e de maneiras algo semelhantes, reproduzindo os quotidianos mais triviais. É importante mencionar a adaptação cinematográfica do romance, realizada por Sam Mendes, em 2008 e protagonizada por Kate Winslet e Leonardo Dicaprio, a sua fidelidade à obra homónima permite que também se crie uma forte relação com a imagem de Frank.

Bibliografia (e sitiografia):
YATES, Richard, Revolutionary Road, Civilização, Lisboa, 2009: 91
SONTAG, Susan, On Photography, Penguin, London, 2008 (pg111)
WELLS, Liz (second edition), Photography: A Critical Introduction, Routledge, New York, 2002

http://www.cotianet.com.br/photo/great/robfra.htm
http://www.nga.gov/exhibitions/frankinfo.shtm
http://www.pacemacgill.com/robertfrank.html
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/2009/jan/29/robert-frank-america-photography
http://www.culturekiosque.com/art/exhibiti/robert_frank_theamericans_lookingin443.html



Ana Nunes, 37093

Estudos Artísticos - esp. em Artes do Espectáculo

Faculdade de Letras da UL