sábado, 30 de maio de 2009

Diane Arbus / Walt Whitman





Identical Twins, Roselle NY 1967, Diane Arbus



I am the poet of slaves,and of the masters of slavesI am the poet of the bodyAnd I am[Entire passage struck through]
I am the poet of the bodyAnd I am the poet of the soulThe I go with the slaves of the earth are mine andThe equally with the masters are equally [illegible]And I will stand betweenthe masters and the slaves, And I Entering into both, andso that both shall understand me alike.

Walt Whitman, Leaves of Grass, Notebook, 1857

Diane Arbus, fotógrafa Norte-Americana. Nasceu a 14 de Março de 1923 na cidade de Nova Iorque e morreu a 26 de Julho de 1971.
Conhecida pelos seus retratos, ganha destaque na história da fotografia por ter sido a primeira fotógrafa americana a ser escolhida para a Bienal de Veneza de 1972.
Arbus rompe com a representação realista da escola documental dos anos 30/40.
Segundo John Szarkowski, fotógrafo norte-americano (1925-2007), "a sua obra afastou-se das principais preocupações da geração anterior, valorizando a precisão psicológica acima da frontal, o particular acima do social, aquilo que era permanente e protótipo acima do efémero do fortuito e a coragem acima da subtileza."
A “verdade” da obra está na integridade pessoal do fotógrafo.
A sua opção, de fotografar pessoas incomuns, assina os seus trabalhos, mostrando ao mundo um outro olhar sobre os “freaks”.
Com o objectivo de realçar os objectos em relação ao fundo, Arbus utiliza o flash durante o dia esta dupla exposição à luz sublinha o essencial.

Período histórico; Segunda Grande Guerra, Guerra do Vietname, Guerra-fria.

Walt Whitman, poeta norte-americano. Nasce a 31 de Maio de 1819 em Long Island, e morre a 26 de Março de 1892.
Considerado um dos maiores poetas norte-americanos, rompe a ideia de imitação da arte europeia através do seu patriotismo.
Poeta democrata, marca os seus textos com referências à igualdade e, constrói, também ele, a história do país.
“He was the poet who dared to claim poetry for America as well as America for poetry”[1]
A sua principal obra, Leaves of Grass, foi editada pela primeira vez em 1855, continha apenas doze poemas e não era assinada. Ao longo da sua vida foi reeditando Leaves of Grass, construindo uma visão histórica da América baseada nas suas próprias experiências, como por exemplo” Drum-Taps”, que tem por base a sua vivência da Guerra da Secessão. Leaves of Grass foi reeditado oito vezes.
A utilização do verso livre marcou toda a literatura posterior como o caso do poeta e ensaísta português Fernando Pessoa.

Período Histórico; Expansão do território americano, crise económica de 1837, Guerra da Secessão, 1861-1865, Abolição da escravatura, 1863.

Numa leitura transversal ao retrato de Diana Arbus e ao poema de Walt Whitman, é clara a ideia de identidade.

O retrato, uma forma linear de imortalizar o momento, um congelamento do tempo, a questão dos gémeos, uma duplicidade da própria natureza como um sublinhar de que todos somos iguais. A utilização de roupas iguais, transformando dois indivíduos numa cópia fiel do outro. Contudo Arbus tenta mostrar que a identidade é marcada por muito mais do que simples marcas, como num jogo das diferenças. Aqui reside a verdadeira arte de Arbus. Perante o que parece ser um retrato simples de duas irmãs, neste caso gémeas, uma imagem que poderia ser um retrato inocente de família, é sublinhada a mensagem de que cada indivíduo tem a sua própria identidade. Ao observarmos o retrato vemos a diferença no sorriso, a diferença do olhar, que numa primeira leitura parece ser idêntico, referência ao título, Identical Twins.
A descentralização da fotografia é também uma marca dessa identidade, embora a gémea que se encontra à esquerda do enquadramento esteja mais centrada é na luminosidade da identidade, da singularidade, que somos imediatamente atraídos para a gémea à direita.
A frontalidade, conseguida através da utilização do ângulo recto, posição da câmara face ao objecto, torna o retrato, de alguma forma, num Raio X psicológico, em que não há subterfúgios, esta frontalidade, linearidade confere humildade à obra de Arbus. Salientando, para um olhar mais atento, democracia, igualdade, humanidade.

No poema de Walt Whitman, é na utilização do pronome pessoal “I”, utilizado pelo poeta que, como o Professor Mário Jorge Torres diz, Whitman utiliza como um pseudónimo que por acaso é o seu próprio nome, que encontro a primeira marca de identidade. É nesta familiaridade, nesta exposição, que Whitman se aproxima do leitor. De alguma forma, com a mesma humildade que Arbus imprime nos seus retratos, sublinhando a individualidade em relação ao colectivo. Por outras palavras, distingue o indivíduo dentro da sociedade, atribuindo-lhe ou salientando as marcas do seu carácter visíveis através da fotografia.
Ainda em relação ao poema, palavras como equally, between, alike, transcrevem a ideia de um plano único. Um mesmo mundo para pessoas diferentes onde todos podem e devem ser aceites. À parte da identidade, papel de cada um, uma democracia que promove igualdade” entering into both // so that both shall understand me alike”.
É neste paralelo que encontro o verdadeiro elo entre o retrato de Arbus e o poema de Whitman. A forma como ambos retratam uma América pessoal, uma América visitada por Americanos, que não apenas vêem, mas sentem as diferenças, as desigualdades, os esquecidos.
Assim como Walt Whitman resgatou para a poesia problemas como o da escravatura, Arbus trouxe a imagem dos que, na sua diferença, são os verdadeiros escolhidos.


Bibliografia / Sitiografia
Alves, Teresa, Teresa Cid (coord), Walt Whitman “Not only summer, but all seasons”, Ed Colibri
http://www.poets.org/
http://whitmanarchive.org/
http://bailiwick.lib.uiowa.ed/
http://www.youtube.com/
http://www.wikipedia.org/
http://www.americanpoems.com/
http://www.masters-of-photography.com/
http://www.artphotogallery.org/
www.ldesign.wordpress.com


Marisa Vieira
Nº 35663
[1] Walt Whitman “ Not only summer, but all seasons”, pag, 11

5 comentários:

  1. Bom dia, Marisa.
    Walt whitman é o poeta da natureza divina do corpo e da epopeia individual e colectiva do Ser Americano. No seu estilo torrencial e por vezes provocatório glosava a igual importância de cada um, e de todos, na construção da Democracia Americana. Celebrando a permanente renovação Natural, era o poeta do excesso, avesso a censuras e cultivando mesmo uma certa provocação. Era o poeta das qualidades e dos defeitos, exactamente como Diane Arbus, que até considera os últimos mais importantes como manifestação de identidade. Também ela fala dos mais fracos ou ignorados, com um certo gosto libertário pela provocação, celebrando os corpos.

    Eurico Matias, nº36402

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  2. É bastante usual vermos que na história das mais variadíssimas artes se encontram nomes que vão servindo de inspiração a artistas posteriores, seja pelo que transmitem nas suas obras, seja pela luta que viveram para que essas mesmas obras acontecessem. No post aqui publicado não existe somente uma relação entre a imagem e o poema, mas existe também uma relação infinita que interliga todos os artistas de expressão visual e literária. Esta interligação a que me refiro prende-se no facto de ser possível fazer uma análise quase psicológica do criador através a sua obra, e neste caso talvez seja mais fácil entender o porquê das palavras de Whitman, por estar tão ligado à luta contra a escravatura, do que entender o porquê da escolha dos objectos captados pela câmara de Diana Arbus, visto a fotógrafa perseguir uma identidade única que ela própria sabe ser inexistente na América. De qualquer forma, análises à parte, ambos os artistas foram sem dúvida alguma ícons revolucionários dos seus tempos, com uma importância tal que os faz serem recordados até hoje. Chocaram pela audácia, impressionaram pela sensibilidade, viveram rodeados pelos mundos opostos dos que são aceites e dos que são castigados no meio social, e isto fez deles parte de um leque de artistas que, por não quererem ser indiferentes a nada, marcaram a diferença na mente do público que atingiram com os seus trabalhos. Cada um em sua época, cada um num meio social distínto, fizeram das suas obras marcos de luta pela homogeneidade de sociedades heterógeneas, a tal familiaridade que a Marisa fala no seu texto.

    Jorge Cabral - nº 35665

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  3. Olá, Marisa.

    A fotografia, como muito bem afirmas, transparece que, por muito que se assemelhe a outro, cada individuo tem a sua própria identidade. Por acaso é curioso, mas os gémeos têm sempre, ou quase sempre, algumas diferenças físicas a partir das quais conseguimos distingui-los, o que acaba por, não sendo, ser simbólico. À parte isso, Whitman também ajuda a reconhecer que cada indivíduo é único e tem também uma identidade própria.

    Desconfio apenas que o caminho para a igualdade se alcance, como sugeria Whitman, através da democracia, muito menos que ela a promova. Quer dizer, a democracia promove a igualdade, mas dai a concretizá-la penso que seja mais difícil. Isto por dois motivos: primeiro a democracia prende-se a si própria e segundo, sendo a riqueza limitada, nunca a igualdade significaria riqueza para todos, especialmente se, como disse num comentário anterior, a população continuasse a aumentar. Até porque se o objectivo fosse a igualdade não era necessário dinheiro.

    Francisco Horta - 37132

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  4. Adoro essas gémeas...Têm um ar tão... macabro :-P

    O Yves no meu trabalho colocou lá um site onde tem uma foto actual dessas gémeas. Estão bastante diferentes!

    A Diane Arbus é uma percursora da "busca" da identidade americana. E isso é muito visível em quase todo o trabalho dela.

    Vou aguardar por ver a tua apresentação :-D
    Boa sorte

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  5. Olá,

    Ao observar a foto a primeira coisa que me salta a vista é o facto de uma das gemeas estar a sorrir enquanto a outra mantem um ar sério, ou seja embora a imagem seja quase como um espelho das duas jovens, acabamos por notar várias diferencas o que nos leva a pensar que por muito iguais que sejam no exterior, a nivel interior podem ser exactamente o oposto uma da outra.Lá está, cada um tem a sua própria identidade.
    Boa sorte com a apresentação

    Aurélio

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