Arte Norte-Americana
Diana V. Almeida
American Visions, Vídeo 8
“A Era da Ansiedade”
1960s
J. F. K. discurso tomada de posse, Jan. 1961 – brilho do fogo americano poderá iluminar o mundo = crença na supremacia incontestada do American Way of Life Vs. tensões várias que marcam esta década (vide imagem de família feliz em fade in com rosto soldado Vietnam, guerra 1959-1975) + Woodstock, 1969, contestação juvenil e propostas de novo ethos
Arte politizada
Ed Kienholz (1927-1994)
Instalações e escultura a partir da assemblage de materiais recolhidos no lixo + tonalidade satírica + a partir de 1972 colabora com mulher Nancy Reddin + “State Hospital (interior)” (1966), vistos através de porta com grade, corpos nus e emaciados de duas figuras com máscara (de mergulhador / ET / astronauta) em vez de rosto, deitadas beliche; num solipsismo sem redenção, figura superior aparece dentro de “balão de fala” em néon vermelho, como sonho da figura inferior; em baixo, uma espécie de latrina com excrementos; no tecto uma lâmpada + “The Portable War Memorial” (1968), soldados sem rosto montam bandeira na mesa de uma esplanada, com poster de Uncle Sam por detrás, enquanto se ouve hino não oficial “God Bless America”, pela voz da cantora patriótica Kate Smith (uma lata de lixo com pernas, à esquerda); um pouco mais à direita encontra-se suspensa uma estela funerária em forma de cruz, com o nome de 475 nações que deixaram de existir devido a guerras; no bar, um casal come descontraidamente, num comentário à normalização da economia / cultura bélica no quotidiano do americano médio + tele-evangelistas 1970s/80s (ex. Jimmy Swaggert) como alvo duras críticas + seu funeral como “performance” previamente planeada
Minimalismo
Donald Judd (1928-1994)
A partir de 1972, compra 32 edifícios em Fort Russell (complexo militar abandonado perto de Marfa, Texas), onde instala centenas de obras em alumínio polido: caixas que se reflectem umas às outras, e (através das largas janelas de vidro) a paisagem e luz exteriores + escultura como objecto “mudo” (que não comenta o mundo) = materiais inorgânicos (ferro, aço, betão, plástico colorido), fabrico em série (processo industrial), rejeição natureza e intervenção humana – esta negação sensorial tem raízes na tradição americana (vide frugalidade igrejas puritanas e pureza mobiliário shaker)
Richard Serra (1939-)
Evoca corpo humano e suas ansiedades através de gravidade e massa de materiais pesados + escreve lista de verbos e “dramatiza” / elabora processos físicos, como trabalhador manual intimamente ligado à construção do objecto (influência de Pollock = equivalência entre processo e resultado final) + esculturas maciças de grandes dimensões (vs. abstracção conceptual) + “Skullcracker Series” (1969), imensos blocos de metal sobrepostos por grua, torres em equilíbrio precário + “Tilted Arc” (1981), instalada e retirada da praça ft edifício governamental, Manhattan; polémica sobre escultura pública (face ausência de referentes estéticos comuns à massa populacional)
Land Art
Inscrever criações artísticas no mundo natural
Walter de Maria (1935-)
1977: “The Lightning Field”, 400 hastes de aço inoxidável (num vale rodeado por montanhas, área desértica, oeste Novo México), instaladas para formar uma grade rectangular, que atrai relâmpagos nas tempestades e interage poeticamente com a paisagem (em especial nas condições luminosidade do amanhecer e entardecer) + “Earth Room”, 2º andar edifício Soho, com chão coberto por 60 cm de terra (125 toneladas)
Robert Smithson (1938-1973)
Fascínio por entropia (declínio dos sistemas, 2ª Lei Termodinâmica): energia dissipa-se e forma desintegra-se no decorrer tempo geológico + “Spiral Jetty” (1970): Great Salt Lake, Utah, movimentou 210 mil toneladas de rocha para desenhar espiral (símbolo de leituras plurais), nos baixios de água poluída pela indústria; obra permaneceu visível apenas 2 anos, até águas do lago subirem
Arte Conceptual / Instalação
Bruce Nauman (1941-)
Performance, corpo como suporte intervenção artística: “Art Make-Up” (1967-68), 4 vídeos em que artista se cobre com tinta colorida + explora tédio, estados regressivos (autismo como metáfora transversal seu trabalho), ideia de artista como inconveniente social + “The True Artist Helps the World by Revealing Mystic Truths” (1967), espiral de néon vermelho com texto a azul (inspirada por reclame de cerveja nas paredes de um bar) + “Carousel” (1988), esculturas de carcaças de animais parodiam carrossel de feira, emitindo ruído desagradável e riscando o chão com marca cinzenta + “Shit in Your Hat–Head on a Chair” (1990), vídeo com mimo obedecendo a ordens (cada vez mais humilhantes) dadas por voz off, figura de autoridade invisível
Color Field Painting
Tb conhecido por Post-painterly abstraction, arte oficial da América, na continuidade da linha formalista definida por crítico de arte Clement Greenberg
Helen Frankenthaler (1928-)
“Interior Landscape” (1964): pigmentos diluídos, cor com impacto imediato, linha como função da atmosfera, supressão funcionalidade unitária dos contornos
Richard Diebenkorn (1922-1993)
Série “Ocean Park” (iniciada 1967): abstracção não rejeita mundo mas restringe-o a forma concentrada, mediatiza a visão natural; linhas diagonais, equilíbrio cromático (diálogo com Matisse)
Pintura Figurativa
Philip Guston (1913-1980)
“Os Conspiradores” (1932), imagens mal social, Ku Klux Klan + “Painting” (1954), pintura abstracta, requintados véus de cor + 1970s volta a pintura figurativa, assume-se como contador de histórias, respondendo tensões políticas época (ex. Convenção Democrática, Chicago, 1968, carga policial sobre manifestantes), recupera figuras encapuçadas, imagens toscas (estilo cartoon), sentido trágico da existência, pessimismo sobre futuro da América + “Pit” (1976), semicírculo de uma vala comum (com uma série de botas e uma cabeça) divide tela em zonas cromáticas, no terço superior, de fundo negro, fogos ao longe e um ecrã de televisão ao centro, mostrando mais chamas + “The Three” (1970), 3 figuras encapuçadas, de mãos rosa (um fumando, outro de dedo apontado, o 3º de punho cerrado), destacam-se contra paisagem urbana ao fundo
1980s
Ronald Reagen: promessa de renascimento América, pós conflitos divisionários décadas anteriores + política económica catastrófica gera inflação financeira e artística
Julian Schnabel (1951-)
Integra cerâmicas partidas nas telas, associado Neo-Expressionismo + realizador cinematográfico
Jeff Koons (1955-)
Reproduções gigantescas de objectos banais (animais insufláveis) + culto do kitsch, “Michael Jackson and Bubbles” (1988), cerâmica branca e dourada, lábios vermelhos de pop star e macaco, vestidos com roupas idênticas + série “Made in Heaven”, esculturas vidro tamanho real / imagens sexualmente explícitas de artista e sua mulher (p mt breve termo) Cicciolina + considera-se artista espiritual, argumentando ser “Kitten in Giant Sock” (1996?) imagem de crucificação, transfigurada pelo seu olhar generoso
Susan Rothenburg (1945-)
Retirada Novo México vs. mediatização círculo NY, inspirada por tonalidades da paisagem + comedimento emocional vs. excessos “barrocos” artistas anteriores + 1970s distingue-se AbExp por telas com cavalos, veículo emoção na pintura, q dps se fragmenta e conduz introdução elementos corpo humano + “Cabin Fever” (1976), cavalo em movimento toscamente delineado, no mesmo tom fundo do quadro (rosa e branco, c marcas traços composição), linha vertical esbranquiçada divide tela
Eric Fischl (1948-)
Exprime descontentamento das tribos brancas do subúrbio, reacção (autobiográfica) às “imagens aceitáveis” com que classe média evita confronto com realidade + “Sleepwalker” (1979), adolescente visto de lado, masturba-se no círculo azul da “piscina” do jardim familiar, onde cai sua sombra, contexto esparso, 2 cadeiras e relva + “Bad Boy” (1981), temática recorrente do voyeurismo, sugestões incesto, no ambiente intimista do quarto, raiado pela luz filtrada da persiana baixa, jovem de costas, apoiado cómoda com cesto de frutas, contempla mulher nua, exibindo sexo
Identidade de Género
Postura separatista e didáctica, ou problematização de construções sociais do género e do papel da mulher na (história da) arte?
Barbara Kruger (1945-)
Inspirada por colagens dadaístas e posters construtivistas 1920s, humor subversivo + “Untitled (It’s a small world but not if you have to clean it)” (1990), rosto figura feminina a preto e branco com olho ampliado por lupa, mensagem verbal enquadrada em fundo vermelho, com lettering branco
Kiki Smith (1954-)
Instalação com escultura figura feminina, com rasto de “sangue”, alusão à menstruação / fluidos corporais + desconstrói associação do feminino a imagens de harmonia estética
Louise Bourgeois (1911-)
Nascida em França, vive em NY desde 1938 + esculturas figura feminina como totem + joga com fascínio surrealista pela mulher como alteridade representando interior do corpo, humor sardónico (“Fillette” (1968), falo massivo em latex) + esculpir para lidar com medo de desmembramento físico, ordenar caos das emoções e catalogação do feminino como disfuncional, “Arch of Hysteria” (1993), corpo bronze polido suspenso, decapitado, numa curvatura em que mãos quase tocam pés + memória como fonte de inspiração, arte declaradamente autobiográfica + instalações ocupando salas + louva liberdade criativa da América vs. rigidez instituições artísticas europeias
Land Art
James Turrell (1943-)
Trabalha com fisicalidade da luz, provocando acto auto-reflexivo sobre percepção + “Second Meeting” (1989), Los Angeles, pavilhão sem tecto para contemplar o céu emoldurado + projecto em Roden Crater, Painted Desert, Arizona, desde 1979, molda a cratera de vulcão extinto num rancho que adquiriu, planifica túneis e piscinas para proporcionar experiências de luz natural (sol, lua, estrelas) de forma concentrada, com intuito de “tocar a música das esferas em luz”, alterou bordas da cratera para moldar a orla do céu, tornado um imenso globo ocular (vide Emerson, “Transparent Eyeball”)
Hughes mostra-se decepcionado com universo arte americana contemporânea: distanciamento pós-modernista da Natureza como fonte de inspiração criativa + perda de qualidade empírica + ausência discurso espiritual
Termina citando W. B. Yeats: “The best lack all conviction, while the worst / Are full of passionate intensity” (“The Second Coming”, 1920), ao que contrapõe palavras de Scarlett O’Hara “Tomorrow is another day” (Margaret Mitchell, Gone with the Wind, 1936)
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