terça-feira, 23 de março de 2010

Frank Lloyd Wright

Confirma-se aula sobre Frank Lloyd Wright com a nossa convidada, a arquitecta Paula Miranda, dia 12 de Abril, depois das férias a Páscoa. Um bom motivo para aparecerem, com os bolsos cheios de amêndoas coloridas...

sábado, 20 de março de 2010

Death On a Pale Horse (Benjamin West)


Apocalipse


Terminou o século vinte
Com o Mundo em confusão
E entrámos no seguinte
Com a mesma apreensão.

Há na terra assaz mudança
Como jamais fora assim
Parece que o mundo avança
P’ro seu profético fim !...

Há crimes por toda a Terra
Há violência e terror
Nunca houve tanta guerra
E nem tanto malfeitor...

Mesmo a própria Natureza
Parece estar revoltada
Actuando com estranheza
E mal sincronizada !...

Há maremotos e sismos
E chuvas torrenciais
Furacões e cataclismos
São do fim, crentes sinais !...

O Apocalipse está
A cumprir as profecias
Avisos com que nos dá
Um sinal do fim dos dias !... ext

Euclides Cavaco

reflexão

A pintura de Benjamin West reflecte indubitavelmente características da Arte Apocalípta, uma vez que a mesma retrata a temática do Apocalipse como o fim de tudo. A visão de West é extremamente mórbida e religiosa, a morte como salvação da humanidade e como consequência ou castigo dos nossos actos. Esta visão reflecte-se através da imagem dos quatros cavaleiros do Apocalipse e da Morte no centro da pintura.
O corpo humano representa fragilidade e inocência ( a imagem da criança nos braços da mãe), sofrimento e dor ( imagem dos corpos deitados no chão), angústia e misericórdia (imagem do homem com o braço na cabeça). As cores utilizadas para retratar a imagem pecadora dos homens proporcionam a ideia de um romantismo turbulento, onde a vivacidade das mesmas contradizem com o cenário violento imaginado po West.
Os animais ao serem representados numa atitude apocalípta carregam consigo uma negatividade das coisas (violência, fúria, destruição e o medo) que pertubam e assombram a raça humana. Os animais encontram-se em pleno confronto com os homens num campo de violência e terror.
Tal como a pintura de West, o poema de Euclides Cavada tem como tema pricipal apocaplise. O poema reflecte o podre da sociedade e o resultado do mesmo. As manifestações das forças divinas, irrompendo através do véu da Natureza, provocam acontecimentos trágicos no mundo.

Edna Martins

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dorothea Lange e Fernando Pessoa

A child and her mother, Wapato, Yakima Valley, Washington, 1939
(...)
Chove ouro baço, mas não no lá-fora... É em mim... Sou a Hora,
E a Hora é de assombros e toda ela escombros dela...
Na minha atenção há uma viúva pobre que chora...
No meu céu interior nunca houve uma única estrela...
(...)
Todas as minhas horas são feitas de jaspe negro,
Minhas ânsias todas talhadas num mármore que não há,
Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro,
E a minha bondade inversa não é boa nem má...
(...)
O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono
Da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada
E sente saudades de si ante aquele olhar-Outono...
Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...
(...)
Fernando Pessoa, "Hora Absurda"
Esta fotografia de Lange e o Poema de Pessoa tocam-se através de uma certa atmosfera de angústia, impotência e da ânsia de transpor algo que se encontra para além de si.
Na fotografia de Lange, representativa da grande depressão americana dos anos 30, temos a imagem de uma criança que se apoia numa vedação de arame com a cabeça baixa e um olhar distante enquanto é observada pela figura de uma mulher mais velha. Nesta imagem podemos facilmente notar a relação de proximidade entre estes dois corpos, mãe e filha, através da postura da mãe que observa a filha de uma forma atenta sem no entanto adoptar uma postura rígida e autoritária e sem se aproximar muito, respeitando o espaço da criança, como num gesto de protecção.
Por outro lado temos a figura da criança que se apresenta perante a lente com uma postura frágil, cansada, com os ombros descaídos e apoiando-se na cerca naquilo que poderia ser um simples gesto de apoio ou uma tentativa, mesmo que só em pensamento, de a transpor. É a imagem de uma criança que carrega um peso interior, uma desilusão, uma fraqueza mas, ao mesmo tempo, um olhar distante de quem sonha com algo melhor.
O poema em questão é um dos exemplos da escrita de Pessoa em que este se debate com a insatisfação da alma humana. É a obra de um sujeito poético que se debate com as suas limitações, tristezas e impotência de ultrapassar os limites que a condição humana lhe impõe.
Neste poema o sujeito poético vive numa luta constante para desvendar a sua identidade e debate-se com a frustração de não conseguir ser feliz por essa identidade estar perdida.
Num outro ângulo este poema abrange em si vários níveis de realidade, como a interior e a exterior, invocando imagens vindas da nossa realidade ou consciência, transformando-as e organizando-as de forma harmoniosa.
O sujeito poético da obra enumera sensações e situações que o deixam frustrado e angustiado com a sua condição cheia de limitações, dúvidas e insatisfações constantes. Durante todo o poema o sujeito debate-se com as suas ânsias como que tentando libertar-se delas e da sua condição humana que as torna reais e constantes.
Assim sendo, ambos os textos são criados numa atmosfera de desilusão, tristeza e vontade de transpor um limite que invade o sujeito poético e a criança, uma vontade de se libertarem de si próprios e das suas realidades, e nesse ponto eles encontram-se, compreendem-se e completam-se.
Bibliografia:
BARTHES, Roland, A câmara Clara, Lisboa: dições 70, 1980
SONTAG, Susan, On Photography, London: Penguin Books, 1971
PESSOA, Fernando, Obras Completas de Fernando Pessoa I, Lisboa: Edições Ática, 1980
Sitiografia:
Joana Carvalho

quinta-feira, 18 de março de 2010

Hopper e Bukowski: unidos pelo que não nos contam

Edward Hopper
Hotel room, 1931

óleo sobre tela, 152,4 x 165,7cm

Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid
Edward Hopper (1882-1967): pintor realista, nascido no estado de Nova Iorque. Reservado e introspectivo, raramente falou da sua obra. Discípulo de Robert Henri, precisou de usar o seu talento como ilustrador até conseguir viver das suas obras, o que só aconteceu depois de ter mais de 40 anos de idade. Actualmente, é considerado um dos expoentes da pintura americana do séc. XX. Algumas das suas obras mereceram o estatuto de ícones americanos, tal é a maneira como retrata cenas quotidianas da vida naquele país.

I Am Visited by an Editor and a Poet

by Charles Bukowski
I had just won $115 from the headshakers and
was naked upon my bed
listening to an opera by one of the Italians
and had just gotten rid of a very loose lady
when there was a knock upon the wood,
and since the cops had just raided a month or so ago,
I screamed out rather on edge—
who the hell is it? what you want, man?
I’m your publisher! somebody screamed back,
and I hollered, I don’t have a publisher,
try the place next door, and he screamed back,
you’re Charles Bukowski, aren’t you? and I got up and
peeked through the iron grill to make sure it wasn’t a cop,
and I placed a robe upon my nakedness,
kicked a beercan out of the way and bade them enter,
an editor and a poet.
only one would drink a beer (the editor)
so I drank two for the poet and one for myself
and they sat there sweating and watching me
and I sat there trying to explain
that I wasn’t really a poet in the ordinary sense,
I told them about the stockyards and the slaughterhouse
and the racetracks and the conditions of some of our jails,
and the editor suddenly pulled five magazines out of a portfolio
and tossed them in between the beercans
and we talked about Flowers of Evil, Rimbaud, Villon,
and what some of the modern poets looked like:
J.B. May and Wolf the Hedley are very immaculate, clean fingernails, etc.;
I apologized for the beercans, my beard, and everything on the floor
and pretty soon everybody was yawning
and the editor suddenly stood up and I said,
are you leaving?
and then the editor and the poet were walking out the door,
and then I thought well hell they might not have liked
what they saw
but I’m not selling beercans and Italian opera and
torn stockings under the bed and dirty fingernails,
I’m selling rhyme and life and line,
and I walked over and cracked a new can of beer
and I looked at the five magazines with my name on the cover
and wondered what it meant,
wondered if we are writing poetry or all huddling in
one big tent
clasping assholes.

Charles Bukowski, escritor Norte-Americano (1920-1994), escreveu romances, contos e poesia. A sua obra transporta-nos directamente para a skid-row, principalmente da cidade onde viveu quase toda a sua vida: Los Angeles. Conhecido pelo seu estilo directo e cru, quase todos os seus textos são autobiográficos, tendo para tal criado um alter-ego, Henry Chinaski, tendo por base a sua própria vida. Tal como Hopper, a fama veio relativamente tarde. Teve empregos como carteiro ou estivador e os problemas com o álcool foram uma constante ao longo dos anos, bem como uma atribulada vida sentimental.

Esboço da reflexão:

o que me parece que liga o trabalho destes dois artistas é precisamente aquilo que eles não contam, e que é deixado a quem vê ou lê para imaginar, para preencher os espaços em branco. Tanto no quadro como no poema escolhidos existe sempre algo que fica por contar, quer, por exemplo, o papel em branco nas mãos da mulher,o que ela faz ali, ou o motivo da visita feita a Bukowski por um editor e um poeta, pois eles entram e saem e continuamos na mesma. Não sabemos, só podemos supor.

Imogen Cunningham e "Ballet School" de Babette Deutsch

Ballet School

Fawns in the winter wood

Who feel their horns, and leap,

Swans whom the bleakening mood

Of evening stirs from sleep,

Tall flowers that unfurl

As a moth, driven, flies,

Flowers with the breasts of a girl

And sea-cold eyes.

The bare bright mirrors glow

For their enchanted shapes.

Each is a flame, and so,

Like flame, escapes.

Babette Deutsch


Imogen Cunningham (1883 - 1976) fotografou durante sete décadas. A autonomia artística da fotógrafa chegou sob a forma dos seus ensaios florais, singulares por uma representação excessivamente aproximada, que resulta numa abstracção do seu conteúdo.

Em 1932, já um nome conhecido no mundo artístico, Cunningham juntou-se a fotógrafos como Willard Van Dyke (1906 – 1986), Edward Weston (1886 – 1958) e Ansel Adams (1902 – 1984) para formar o Grupo f/64, que defendia uma imagem pura, focada e detalhada (tanto em foreground como em background), captada em sharp focus. Este movimento modernista, oposto ao Pictorialismo, advogava uma fotografia independente de narrativas, ideologias e contextos, e apenas limitada pelo meio de captação.

Imogen Cunningham conheceu Martha Graham (1894 - 1991) em 1931, num jantar em Santa Barbara. Seguiu-se uma sessão fotográfica em estúdio (por favor, sigam o link e façam scroll down até encontrarem as várias fotografias intituladas com o nome da bailarina), na qual a fotógrafa captou, em cerca de noventa negativos, uma série de imagens que tentava reproduzir os movimentos “ultracorporais” desta bailarina, figura pioneira na dança contemporânea.

A série capta com sucesso a essência da dança de Graham – um momento de ruptura com o cânone clássico, um momento de criação de uma nova “sintaxe gestual”. Este é, portanto, um “corpo modernista” que contrasta com o “corpo clássico”.

A fotografia que escolhi parece objectificar a ideia de ruptura no trapo vestido pela bailarina, e do qual ela se tenta libertar. O movimento de libertação, perpetuado nesta imagem, opõe um físico manifestamente orgânico e vivo, na sua nudez iluminada, a uma face congelada, na frieza das sombras e na fuga do olhar. É quase irónico constatar o modo como esta imagem, representante de um movimento estético que se opõe à fotografia narrativa, consegue transmitir tamanha subjectividade, apesar da aparente simplicidade do seu conteúdo.

Quanto à ponte intertextual, estabeleço-a através desta subjectividade das formas do corpo. Tanto no texto visual como no verbal, há uma possibilidade de transformação, de metamorfose. As bailarinas de "Ballet School" assumem uma fisicalidade que está para além do seu espaço corporal – são veados, cisnes ou flores. Já Martha Graham, fotografada sobre um fundo negro, parece flutuar na performance da arte que a liberta. O seu corpo transforma-se não num elemento de graciosidade natural, mas na “máquina” de excelência artística que a celebrou como a melhor bailarina do século XX.

Babette Deutsch (1895 – 1982) foi uma poetisa, romancista, tradutora e crítica norte-americana. A sua serenidade poética foi inspirada em temas artísticos, entre eles a pintura, a escultura, a música e, claro, a dança.


Ana Luís Pinheiro

nº37852


Bibliografia

CRAVEN, Wayne. American Art: History and Culture. Brown & Benchmark. Wisconsin: 1994.

DEUTSCH, Babette. The Collected Poems of Babette Deutsch. Doubleday & Company, Inc. New York: 1969: 25.

MARIEN, Mary Warner. Photography: A Cultural History. Lawrence King Publishing. London: 2006 (2nd Edition).

Sites Consultados

http://en.wikipedia.org/wiki/Imogen_Cunningham

http://en.wikipedia.org/wiki/Group_f/64

http://www.dptips-central.com/imogen-cunningham.html

http://quod.lib.umich.edu/cgi/i/image/image-idx?id=S-MUSART-X-1996-SL-1.78]1996_1.78.JPG

http://www.photographywest.com/pages/cunningham_bio.html

http://www.photoliaison.com/imogen_cunningham/Imogen_Cunningham.htm

http://www.poetryfoundation.org/archive/poem.html?id=172215

http://www.poetryfoundation.org/archive/poet.html?id=1754

terça-feira, 16 de março de 2010

Alteração calendário

Queridos alunos:
A arquitecta Paula Miranda não vai poder vir amanhã. Fiquei de combinar com ela a intervenção para depois das Férias da Páscoa, já que para a semana temos as nossas primeiras 6 apresentações orais. Comecem a pensar em elaborar comentários para o blog! Não só ajudam os colegas a alargar perspectivas, como investem nos elementos de avaliação para a nossa cadeira.
Assim sendo, na próxima aula terminaremos o módulo 6 do programa.

Diana Almeida

sábado, 13 de março de 2010

American Visions online

Link para 8 episódios da série American Visions, de Robert Hughes

Ver

quinta-feira, 11 de março de 2010

Jacob Lawrence, The Migration Series

Apresentação da exposição que reuniu a série narrativa de 60 painéis na Phillips Collection (Washington DC). Vejam ainda a contextualização apresentada pelo museu.

Berenice Abbott e João Tordo


Berenice Abbott, "EL," SECOND AND THIRD AVENUE LINES Bowery and Division Streets, processo de prata coloidal, 24 Abril 1936,
(24.4 x 19.9 cm), Museum of the City of New York, Nova Iorque

«Uma vez ouvi uma história engraçada sobre sonambulismo. Não me recordo se a li numa revista, ou talvez num romance. Contava que os sonâmbulos são pessoas que têm duas vidas, uma acordada e outra a dormir. Quando dormem, vivem a outra vida que deveriam ter tido, aquela que está para lá das fronteiras da realidade. Que está guardada dentro da memória escondida que só vem ao de cima quando estão inconscientes.»
Kim deteve-se e olhou-me.
(…)
Kim morreu às 5.43 daquela madrugada, segundo o relatório do médico legista. Foi encontrada por um automobilista na berma da ponte de Williamsburg, em roupão, desfeita por dentro pelo choque frontal com um carro a grande velocidade, que fugiu da cena do atropelamento. Na altura do acidente, acabara de cair sobre Nova Iorque o pior temporal dos últimos anos, e a estrada encontrava-se alagada. Apesar de a chuva ter parado, a intensidade do temporal tinha deitado abaixo algumas luzes da ponte, e a pessoa que a matou não a viu ou, na melhor das hipóteses, julgou tratar-se de um animal que atravessava a estrada. Afinal, quem poderia estar àquela hora, naquele lugar, após uma intempérie, caminhando sem sentido ao longo da ponte, de olhos abertos mas vivendo um sonho?
(…)
Na altura em que Kim deixava o quarto na East Broadway, subindo a Clinton Avenue para entrar na ponte pela faixa dos automóveis – a ponte de Williamsburg tem uma faixa para pedestres, protegida da estrada –, eu já dormia o sono inquieto do álcool na minha cama da residência, sonhando com rostos estranhos e desfigurados, despertando e vez em quando para tornar logo a adormecer.
TORDO, João, Hotel Memória. Lisboa: QUIDNOVI, 2007 (p. 27, 40)



•Uma visão desfocada (fotografia), lembranças confusas (texto)
• blur (mancha,indistinção) / blurry (turvo, indistinto)

Gosto de pensar que estes dois textos estão interligados na dimensão do espaço. Tanto na fotografia de Berenice Abbott (1898-1991), como no excerto literário de João Tordo (1975 -) deparamo-nos com demandas no território. Abbott, no advento de alterações irreversíveis na paisagem urbana de Nova Iorque tenta dar a conhecer através da sua fotografia documental (directa, não manipulada tanto no conteúdo como no processo de revelação) um “passado visível” (“visible past)”. Escolhi um exemplo da série de fotografias do Lower East Side, bairro da cidade que ocupa mais de metade do livro Changing New York (1939) produzido por Abbott, ao abrigo de subsídios da Federal Art Project da Works Progress Admnistration e do Museum of the City of New York. Abbott é obsessiva na documentação geográfica exacta das ruas (como se pode observar no título da fotografia). Tordo, por sua vez, narra uma intriga complexa, sombria e incerta nas mesmas ruas do Lower East Side. Ele é de igual forma rigoroso na descrição de zonas, ruas e intersecções. O escritor estudou no City College de Nova Iorque, local onde parte da acção do livro se desenrola. Cerca de setenta anos depois, Tordo e as suas personagens percorrem os mesmos trilhos de Abbott e contudo percepcionam uma diferente experiência da cidade.
A fotografia é tirada de dia. Encontramo-nos no domínio do espaço público. A luz do sol é um factor decisivo na iluminação da composição fotográfica. O jogo de luzes e sombras dá a ver um picotado resultante da estrutura metálica recortada do comboio elevado (“EL”). O ponto de fuga da representação é representado pelos carris que fluem paralelos ao plano da fotografia, sendo que a curva confere profundidade, movimento e dinâmica à representação. Este bairro parece prolongar a sua existência debaixo dos carris, com os seus mastros de ferro a pontuar verticalmente o espaço pictórico. Vertical está também a figura humana, ordenada no espaço citadino, não correndo perigo. Os corpos estão alerta e seguem um código de sobrevivência, do conhecimento geral. A cidade não representa, aqui, perigo.
No texto literário a cidade, o seu funcionamento revela-se fatal. Kim sai de casa sonâmbula, de noite. Movimenta-se pela cidade, vai por cima da ponte onde é facilmente recolhida por um automóvel. É aparentemente invisível, o seu estranho corpo errante naquele viaduto. Um temporal abatia-se sobre a cidade, a figura humana de Kim era confundida com a escuridão, o seu corpo deambulava desnorteado, descontrolado, quebrava as regras de conduta dos peões, de ordem no trânsito. A cidade não teve resposta para dar aquele corpo aparentemente acordado, mas na verdade inconsciente. O resultado foi violento e trágico.
De volta à fotografia observa-se a arquitectura dos transportes públicos, um ícone da cidade da altura, a qual provoca alterações no aspecto da cidade, assim como na vivência dos habitantes. Liga locais distantes, promove encontros e desencontros, aproxima as diferentes e distantes partes da cidade. Desloca habitantes dos seus locais de origem, populariza as características de cada bairro – um corpo tecnológico aproxima outros corpos humanos. Na periferia dos carris observam-se várias fachadas de edifícios bem iluminados pela luz do dia. Vêem-se anúncios publicitários, montras, lojas. Há um secreto burburinho na aparente calma da representação fotográfica. As silhuetas de homens indistintas são corpos quase desmaterializados. Convivem debaixo do “EL” aproveitando a sombra deste. Estão na penumbra da estrutura, sem a ameaça de colapso.
Esta fotografia, apesar de ser bastante marcada pela arquitectura dos caminhos-de-ferro e dos edifícios, transmite uma sensação desfocada, turva, indistinta. Nas imagens fotográficas de Abbott a preocupação com a construção era tal que a levava a “encenar” os locais antes de fazer a sua máquina disparar. Assim, nas fotografias há espaço para o vazio, a arquitectura, as pontes, a figura humana. É essa mesma sensação de vaga confusão, aliada em simultâneo ao planeamento que, Tordo testemunha no excerto literário. Os dois artistas esforçam-se por descobrir, destapar as essências e explicações mais profundas, essas que a vivência quotidiana não parece disposta a oferecer. Nas palavras de Abbott: "I agree that all good photographs are documents, but I also know that all documents are certainly not good photographs. Furthermore, a good photographer does not merely document, he probes the subject, he ‘uncovers’ it …” Tal como Abbott, o narrador em Tordo quer documentar as circunstâncias da morte de Kim
.



Bibliografia
BARTHES, Roland, A Câmara Clara. Lisboa: Edições 70, 1980
KLEE, Paul, Escritos sobre Arte, Lisboa: Cotovia, 1990
SONTAG, Susan, On Photography, London: Penguin Books, 1971
TORDO, João, Hotel Memória. Lisboa: QUIDNOVI, 2007
1990, Berenice Abbott Photographs. (intro, Muriel Rukeyser, David Vestal) Washington: Smithsonian Institution
1994, The new vision: photography between the world war. New York: The Metropolitan Museum of Art
1995, Berenice Abbot. (intro. Hank O’neal) Paris: Centre National de la Photographie

Sitiografia
Apresentação dia 22 de Março
Maria Manuel T. Carneiro

domingo, 7 de março de 2010

Georgia O'Keeffe at 92

Vejam esta entrevista com Georgia O'Keffee aos 92 anos de idade, no Novo México.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Library of Congress

http://www.americaslibrary.gov/index.html

Um bom recurso para contextualizar historicamente as vossas pesquisas.

Espaço Urbano

Vejam o filme Manhatta [título de um poema de Whitman], realizado por Charles Sheeler e Paul Strand, e aqui colocado por um vosso colega no ano passado.

Cita versos de Walt Whitman (1819-1892) , o poeta revelador da beleza convulsa do espaço urbano.

“Give Me the Splendid Silent Sun”, Walt Whitman

2.

Keep your splendid silent sun,
Keep your woods O Nature, and the quiet places by the woods,
Keep your fields of clover and timothy, and your corn-fields and orchards,
Keep the blossoming buckwheat fields where the Ninth-month bees hum;
Give me faces and streets--give me these phantoms incessant and
endless along the trottoirs!
Give me interminable eyes--give me women--give me comrades and
lovers by the thousand!
Let me see new ones every day--let me hold new ones by the hand every day!
Give me such shows--give me the streets of
Manhattan!
Give me Broadway, with the soldiers marching--give me the sound of
the trumpets and drums!
(The soldiers in companies or regiments--some starting away, flush'd
and reckless,
Some, their time up, returning with thinn'd ranks, young, yet very
old, worn, marching, noticing nothing;)
Give me the shores and wharves heavy-fringed with black ships!
O such for me! O an intense life, full to repletion and varied!
The life of the theatre, bar-room, huge hotel, for me!
The saloon of the steamer! the crowded excursion for me! the
torchlight procession!
The dense brigade bound for the war, with high piled military wagons
following;
People, endless, streaming, with strong voices, passions, pageants,
Manhattan streets with their powerful throbs, with beating drums as now,
The endless and noisy chorus, the rustle and clank of muskets, (even
the sight of the wounded,)
Manhattan crowds, with their turbulent musical chorus!
Manhattan faces and eyes forever for me.

Leaves of Grass (1855-1892)