terça-feira, 18 de maio de 2010

Jean Tinguely

Pessoal, fica aqui um vídeo do artista que vos falei durante a apresentação e do qual não me lembrava o nome=).
Infelizmente não encontrei a obra de que vos falei, mas fica a ideia.
Beijos e abraços, maltinha.


http://www.youtube.com/watch?v=bFC0Qs_IC48

domingo, 16 de maio de 2010

Gertrude Kasebier & Jonathan Coe



Texto

"(..) Tudo em mim me diz que tu tinhas de existir. Há uma justeza tão grande em ti... A ideia de tu nunca teres existido, de tu nunca teres nascido, parece-me tão palpavelmente errada, tão monstruosa, tão antinatural.. O que a tua existência me leva a compreender, é isto: que a vida só começa a fazer sentido quando nos damos conta de que por vezes duas ideias completamente contraditórias podem ser verdade.
Tudo o que conduziu a ti estava errado. Portanto, tu não deverias ter nascido.
Mas tudo em ti está certo: portanto, tu tinhas de nascer.
Tu eras inevitável"

"The Rain Before It Falls" Jonathan Coe

Biografia de Gertrude Kasebier

Gertrude Kasebier nasceu em Des Moines, Iowa, no ano de 1852.
Em 1864 a família muda-se para Nova Iorque, e passado uns tempos morre-lhe o pai. Pouco depois, a mãe de Gertrude tratou de assegurar o futuro da filha, e casa-a com Eduard Kasebier em 1874 no dia do seu 22º aniversário. Gertrude sempre teve um espírito livre e independente, e para a sua mãe podia ser que um marido e filhos a acalmariam, e ajudariam a assentar.
No entanto, Gertrude nunca abandonou o seu sonho de ser artista e em 1889, aos 37 anos começa a estudar pintura e desenho no Pratt Institute, e é por volta da mesma altura que começa a fotografar a família.
Em 1894 parte numa viagem para a Europa para estudar e aprofundar os seus conheciemntos de fotografia e pintura, e após o seu regresso abre em Nova Iorque um estúdio fotográfico em 1897, contra a vontade do marido, mas com o seu apoio financeiro (não nos podemos esquecer que na altura a fotografia não estava ao alcance de qualquer um, e que era bastante dispendioso).
O estúdio tem um sucesso tremendo, e era indiscutivelmente vista como uma das principais fotógrafas do seu tempo.
Em 1902 torna-se um dos membros fundadores do "Photo Secession group", juntamente com Alfred Stieglitz, que tinham como objectivo elevar a fotografia até a uma forma arte, e que procuravam ter o mesmo respeito e prestígio ganho pelos artistas de processos convencionais, queriam reconhecimento como sendo um meio de expressão artistica, independentes da arte académica.

Apesar de ter fotografado muitas personalidades conhecidas da altura, como Mark Twain e Buffalo Bill, as imagens pelas quais é mais conhecida, são os retratos de família e amigos, e temas como a maternidade e retratos de nativo-americanos.

As suas fotografias são suaves,e retrata a mulher como um ser carinhoso, espiritual e maternal.

Após divergências com Stieglitz em 1912 abandona o Photo Secession group.

Continuo a fotografar, a ensinar e a exibir até por volta de 1925, quando a visão lhe começou a falhar. Morreu com 82 anos em 1934, e em 1979 foi com muito mérito incluida no International Photography Hall of Fame.


Biografia de Jonathan Coe


Jonathan Coe nasceu em 1961 em Birmingham. Estudou no Trinity College em Cambridge, e completou o seu doutoramento na Warwick University, onde ensinou Poesia Inglesa.

Coe desde sempre mostrou ter grande interesse na música e na literatura, e nos seus livros é grande a influência destes seus interesses, sendo a música uma constante em quase todas as suas obras.

Publicou o primeiro romance em 1987 e até agora tem 9 livros editados, todos eles bem recebidos pela critica, e três deles premiados pela critica literária. ("What a carve up"; "The Rotter's Club"; "The House of Sleep")

Em 2004 foi ordenado Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras. Este grau é conferido pelo Ministério da Cultura Françês, que visa recompensar quem se distingue pelas suas criações no dominio artistico ou literário, ou pela sua contribuição para o reino das Artes e das Letras em França e no mundo.

Coe conseguiu a notável proeza de desenvolver confiança e um estilo distinto, sem jamais perder a jovialidade e a versatilidade tão caracteristicas dos seus trabalhos iniciais.

É um dos mais interessantes autores britânicos contemporâneos, e o humor que usa, por vezes quase excessivamente, misturado com seriedade, tem como objectivo não uma escapatória à realidade, mas sim um reflexo do nosso mundo estranho.

Coe continua a amadurecer com cada um dos seus romances e é visto pela critica como uma expecional promessa na literatura contemporânea.

Relação obra/texto

Tanto Kasebier como Coe, apesar de separados pelo tempo, apresentam nas suas obras temas emocionalmente complexos.
Kasebier tenta captar uma visão simbólica mas no entanto intimista.
Para mim o texto pode ser interpretado como um possível discurso da mãe para o filho.
O uso da luz no ambiente simples enche o lugar com o céu e envolve as figuras com a divindade. Apesar de podermos olhar para a fotografia, e vir-nos à cabeça uma possível comparação de alguma imagem da Virgem Maria com Jesus, Kasebier não apoiava explicitamente uma interpretação religiosa da imagem.
Como na maior parte dos trabalhos de Kasebier, a forma e o padrão são enfatizados nesta fotografia.

Sitografia:
www.wikipedia.org
www.shorpy.com/gertrude-kasebier
www.complete-review.com
www.andrewsmithgallery.com




Francisca Gaivão nº35505

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Diane Arbus e Oscar Wilde




Texto

“Because you have the most marvellous youth, and youth is the one thing worth having.”
“I don’t feel that, Lord Henry.”
“No, you don’t feel it now. Some day, when you are old and wrinkled and ugly, when thought has seared your forehead with its lines, and passion branded your lips with its hideous fires, you will feel it, you will feel it terribly. Now, wherever you go, you charm the world. Will it always be so?...You have a wonderfully beautiful face, Mr. Gray. Don’t frown. You have. And Beauty is a form of Genius-is higher, indeed, than Genius, as it needs no explanation. It is of the great facts of the world, like sunlight, or spring-time, or the reflection in dark waters of that silver shell we call the moon. It cannot be questioned. It has its divine right of sovereignty. It makes princes of those who have it. You smile? Ah! When you have lost it you won’t smile…People say sometimes that Beauty is only superficial. That may be so. But at least it is not so superficial as Thought is. To me, Beauty is the wonder of wonders. It is only shallow people who do not judge by appearances. The true mystery of the world is the visible, not the invisible…Yes, Mr. Gray, the gods have been good to you. But what the gods give they quickly take away. You have only a few years in which to live really, perfectly, and fully. When your youth goes, your beauty will go with it, and then you will suddenly discover that there are no triumphs left for you, or have to content yourself with those mean triumphs that the memory of your past will make mores bitter than defeats. Every month as it wanes brings you nearer to something dreadful. Time is jealous of you, and wars against your lilies and your roses. You will become sallow, and hollow-cheeked, and dull eyed. You will suffer horribly…Ah! Realise your youth while you have it. Don’t squander the gold of your days, listening to the tedious, trying to improve the hopeless failure, or giving away your life to the ignorant, the common, and the vulgar. These are the sickly aims, the false ideals, of our age. Live! Live the wonderful life that is in you! Let nothing be lost upon you. Be always searching for new sensations. Be afraid of nothing…A new Hedonism-that is what our century wants. You might be its visible symbol. With your personality there is nothing you could not do. The world belongs to you for a season…The moment I met you I saw that you were quite unconscious of what you really are, of what you really might be. There was so much in you that charmed me that I felt I must tell you something about yourself. I thought how tragic it would be if you were wasted. For there is such a little time that your youth will last-such a little time. The common hill-flowers wither, but they blossom again. The laburnum will be as yellow next June as it is now. In a month there will be purple stars on the clematis, and year after year the green night of its leaves will hold its purple stars. But we never get back our youth. The pulse of joy that beats in us at twenty becomes sluggish. Our limbs fail, our senses rot. We degenerate into hideous puppets, haunted by the memory of the passions of which we were too much afraid, and the exquisite temptations that we had not the courage to yield to. Youth! Youth! There is absolutely nothing in the world but youth!”

Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray


Biografia de Diane Arbus

Diane Nemerov Arbus, nasceu a 14 de Março de 1923, em Nova York. Era filha de um casal judeu de Classe Alta. Diane viveu uma infância protegida.
Em 1941, com 18 anos de idade, casou-se com o seu namorado Allan Arbus. Tiveram duas filhas.
Diane e Allan eram apaixonados pela arte da fotografia. Diane Arbus começou a fotografar com o seu marido Allan. Depois de se separar, aprendeu com Alexey Brodovitch e Richard Avedon.
No início, Diane foi trabalhar como fotógrafa de anúncios comerciais, para a empresa do seu pai. Em 1946, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o casal iniciou um negócio de fotografia chamado “Diane & Allan Arbus”. Diane era directora de arte e Allan fotógrafo. Trabalharam para revistas como Glamour, Harper`s Bazaar, entre outras. Em 1956, Diane Arbus encerrou o negócio de fotografia. Em 1960, Diane e Allan separam-se. Embora Allan continua-se a ser um importante suporte emocional.
No início dos anos 60, deu inicio à carreira de fotojornalista e publicou para Esquire, The New Yourk Times Magazine, Harper`s Bazaar e Sunday Times, entre outras revistas. Por esta altura, escolheu uma máquina Reflex de médio formato Rolleiflex com dupla objectiva, em decremento das máquinas de 35mm. Entram também em cena os flashes em fotografias tiradas de dia. O objectivo era separar o essencial do acessório.
Com duas bolsas de Guggenheim, permitiram a Diane desenvolver melhor um trabalho de autor, que mostrou pela primeira vez, em 1967, no Museum of Modern Art, Colectiva New Documents.
Nos últimos anos da sua vida fotografou pessoas com deficiências mentais. Diane Arbus mantinha um forte relacionamento pessoal com os seus modelos fotográficos e fotografava alguns deles durante muito anos seguidos.
Em Julho de 1971 suicidou-se ao tomar barbitúricos e cortou os pulsos.
O catálogo da exposição de retrospectiva que o curador John Szarkowski concebeu, em 1972, tornou-se num dos maiores livros de fotografia. Desde então, foi reimpresso 12 vezes e vendeu mais de 100 mil cópias. No mesmo ano, Arbus tornou-se a primeira fotógrafa americana a ser escolhida para a Bienal de Veneza. As suas fotografias foram descritas como “uma conquista extraordinária” e “a sensação do Pavilhão Americano”.
Diane Arbus fotografou essencialmente pessoas à margem da sociedade e pessoas comuns em poses e expressões enigmáticas.


Biografia de Oscar Wilde

Oscar Wilde, nasceu em Dublin em 16 de Outubro de 1854. Era filho de um medico, Sir Willian Wilde e uma escritora, Jane Francesca Elgee, árdua defensora do movimento da independência Irlandesa, fazendo com que desde criança Oscar Wilde estivesse sempre rodeado pelos maiores intelectuais da época.
Estudou na Faculdade de Trinity em Dublin e depois na de Magdalen, em Oxford, onde ganhou o prémio Newdigate com o seu poema Ravena (1874). Depois de terminar os estudos, instalou-se em Londres. Com o seu talento e encanto pessoal em breve se destacava no mundo literário londrino como ensaísta e poeta.
Depois da publicação do seu primeiro livro de poesia Poemas (1881), viaja até aos Estados Unidos. É convidado para dar uma palestra sobre o seu recem criado movimento estético, onde se tornou o principal divulgador das ideias de renovação moral.
Depois de dois anos em Paris, explorando todo o mundo literário Francês, casa com Constance Loyd de quem tem dois filhos.
Entro 1887 e 1889, dirige a revista feminina The Woman`s World. Deste período fazem parte os seus contos reunidos em O Príncipe Feliz, os dois volumes de Crónicas e histórias O Crime de Lord Arthur Saville e Uma Casa de Romãs e o seu único romance O Retrato de Dorian Gray. Esta ulyima obra retrata a decadência moral humana. Fez com que Wilde tornar-se mais admirado e famoso.
Durante o período de 1892 e 1895, foram levados à cena algumas das suas peças. Por exemplo, O Leque de Lady Windermere, Uma Mulher sem Importância e Um Marido Ideal. A peça Salomé, escrita em francês, foi representada em Paris por Sarah Bernhard e posterioemente traduzida para inglês por Lord Alfred Douglas. O pai deste, Marquês de Queen-Berry, desaprovando a estreita amizade do filho com Wilde e insultou publicamente o escritor. Isto iniciou uma serie de acontecimentos que levaram à condenação de Wilde por homossexualidade. Permaneceu dois anos preso na colónia penal de Reading, onde escreveu uma longa carta a Lord Alfred, publicada em parte em 1905 com o título De Profundis.
Ao sair da prisão, arruinado, viu-se reduzido a viver de caridades dos amigos ou em hotéis baratos, em Itália e em França. Aqui escreverá a sua obra famosa A Balada do Presídio de Reading (1898), inspirada na sua experiencia na prisão. No exílio adoptou o nome Sebastian Memoth.
Morreu em Paris em 1900 com uma meningite.

Relação Fotografia/Texto

Na fotografia Puerto Rican Women With Beauty Mark, 1965, NY, Diane Arbus representa a realidade da beleza do “outro” (o imigrante).
Diane Arbus transmite uma beleza incomum através das suas fotografias. É o apreciar a beleza incomum de um corpo numa sociedade obcecada pela perfeição física.
A fotografia desta imigrante mostra o corpo excluído na sociedade em que vive. O “corpo diferente” de todos os outros.
Como Diane Arbus, o escritor, Oscar Wilde, no seu romance The Picture of Dorian Gray, critica, de forma irónica e trágica, a obsessão do homem pela beleza.
Wilde brinca com o tema da superficialidade na nossa cultura, o vício moderno com a moda e com o que é belo é, inquestionável e aprovado por todos nós.
No livro de Wilde, Dorian Gray é a personagem ligada ao ideal Grego de beleza. Este fica apaixonado pela supa própria aparência e deseja loucamente nunca perde-la.
O querer ser belo eternamente, está também presente no próprio modelo de Diane Arbus. Como o título indica, “Beauty Mark”, é como que o não aceitar a passagem do tempo, é como se fosse o pacto para uma beleza eterna, o não aceitar a passagem do tempo no seu corpo. A maquilhagem exagerada é, talvez, um recusar, desta mulher, os seus verdadeiros traços físicos.
Diane Arbus e Oscar Wilde, através das suas artes, fazem uma critica dirigida directamente à sociedade, que é em tudo superficial.


Bibliografia

Wilde, Oscar. The Picture of Dorian Gray. Penguin Popular Classics, 1994

Sitografia

http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/biography/arbus.html
http://www.google.pt
http://www.wikipedia.com
http://www.youtube.com


Patrícia Gonçalves nº 37918
Línguas, Literaturas e Culturas-Estudos Ingleses

terça-feira, 11 de maio de 2010

Teste 2009

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Arte Norte-Americana

2º semestre 2008 / 2009
Docente: Diana Almeida

“in America the past becomes totemic, and is always in a difficult relationship to America’s central myth of progress and renovation, unless it can be marshalled –as in the museum– as a proof of progress. (…)
A culture raised on immigration cannot escape feelings of alienness, and must transcend them in two possible ways: by concentrating on ‘identity,’ origins and the past, or by faith in newness as a value in itself.”
Hughes, Robert. American Visions: The Epic History of Art in America. Londres Harvill Press, 1999, 4.

“it is possible to argue that the rational disciplines of the body and populations were responses to the urban crises of the late eighteen and nineteen centuries, but the origins of these disciplines can be found in Protestant asceticism, medical regimes, military organizations and architectural structures.”
Turner, Bryan S. "Recent Developments in the Theory of the Body." The Body: Social Process and Cultural Theory, Org. Feartherstone, Mike, Mike Hepworth e Bryan S. Tuner. Londres: Sage, 2001 [1991], 23.



Reconhecendo a especificidade da cultura dos Estados Unidos da América, comente e relacione este dois excertos através de um (ou mais) exemplo(s) da representação (figurativa ou não) do corpo na arte norte-americana. Deverá situar a(s) obra(s) escolhida(s) face à produção artística coeva e ao trabalho global do artista em consideração, ponderando o modo como o tratamento do corpo na arte reflecte as características de dado contexto histórico.

Bom trabalho.

Spiral Jetty

Vídeo de Smithson documentando processo de construção e efeito visual da escultura natural Spiral Jetty.

domingo, 9 de maio de 2010

Pollock e Victor Hugo


Jackson Pollock, Blue Poles (or Number 11), 1952: 210x487 cm;
tintas diversas, esmalte, vidro sobre tela; National Gallery of Australia, Canberra




Biografia de Jackson Pollock

Nasceu em Cody, Wyoming, em 1912, um de cinco irmãos, mas cresceu e viveu no Arizona e California. A família via-se obrigada a frequentes mudanças no Ocidente dos EUA devido às diversas carreiras exercidas pelo pai.
Estudou na Manual Arts High School em Los Angeles e em 1930 seguiu o seu irmão para Nova Iorque e inscreveu-se na Liga do Estudante de Arte. Aqui, sentiu-se atraído por Kandinsky e Picasso. Também se inspirou nas pinturas murais dos artistas mexicanos Orozco e Siqueiros. O mestre que influenciou o pintor na Liga foi Thomas Hart Benton, e foi também ele que lhe deu a conhecer alguns gigantes da pintura Europeia. Os anos de depressão económica foram muito duros e ele sucumbiu ao alcoolismo, a tal ponto que, apesar do tratamento psicanalítico nunca mais se libertou dele. A sua famosa técnica de tinta aplicada em jactos iniciou-se em 1947, após ter-se mudado com a sua mulher (também pintora) para East Hampton, Long Island, tornando-se pioneiro do Expressionismo Abstracto. Em 1956, profundamente deprimido, separado da mulher e dependente do álcool, foi vítima de um acidente de viação.



Texto

"Na verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que ele devaneia do que pelo que ele pensa. Há vontade no pensamento, no devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais directa e profundamente saia do fundo da nossa alma do que as nossas aspirações irreflectidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações, mais do que nas ideias compostas, racionadas e coordenadas é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível segundo a sua Natureza."

Victor Hugo, Les Misérables, (1862)


Biografia Victor Hugo

Victor Hugo, escritor e político francês, nasceu em Besançon, França no ano de 1802 mas passou a sua infância em Paris. O seu pai era oficial no exército de Napoleão e talvez por isso o escritor tenha desenvolvido uma intensa actividade política. Depois da separação dos pais, este é criado junto da mãe. As suas estadias em Nápoles e Espanha acabam por influenciar a sua obra e em 1819 funda com os seus irmãos a revista Conservador Literário. O seu primeiro livro, Odes e Poesias Diversas, é publicado em 1822 e por este recebe uma pensão de Luís XVIII, como prémio. Tem, até uma idade avançada, diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, actriz sem talento que lhe dedica a sua vida, e a quem ele escreve numerosos poemas. A partir de 1849, Victor Hugo dedica a sua obra à política, à religião e à filosofia humana e social. Apesar da sua mãe lhe incutir o espírito monárquico, Victor Hugo opta pela democracia liberal e em 1848 é eleito deputado da Segunda República, no entanto, exila-se após o golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851 que condena por razões morais. Durante a Comuna de Paris em 1871, Victor Hugo viveu em Bruxelas de onde foi expulso por abrigar soldados derrotados. Depois de refugiado em Luxemburgo regressou a Paris em 1876 onde mantinha um caso com a criada Blanche Lavin. Denunciando até ao fim a segregação social, o escritor é vítima de um enfarte em 1878 acabando por falecer em 1885. O seu funeral foi acompanhado por cerca de 2 milhões de pessoas, acabando o seu cadáver por ser transportado até ao Parthénon.


Relação pintura/texto


Victor Hugo propõe-nos uma leitura da obra de Pollock. Espontâneo, irreflectido, inconsciente serão as palavras de ordem para a análise desta obra. Pollock é inovador ao tornar a tela numa extensão do seu corpo, onde através de uma coreografia coordenada nos dá a conhecer o seu verdadeiro interior. O seu consciente é como uma mancha, como se tivesse sido dinamitada e dela só restassem rastos/restos/resíduos que se contrapõem aos seus irreflectidos devaneios. Não é apenas mais uma obra em que Pollock conjuga caos e ordem, mas sim onde pinta um inconsciente com sentido tornando a pintura num jogo entre a vontade de dizer e a vontade de esconder.


Bibliografia

Carr-Gomm, Sarah. A linguagem secreta da arte. Lisboa. Editorial Estampa, 2004
Emmerling, Leonhard. Pollock. Lisboa. Taschen, 2002
Cumming, Robert. Comentar a Arte. Editora Civilização
Gasset, Ortega. A desumanização da Arte. Almedina, 2003
Hugo, Victor. Os Miseráveis (vol.3). Editora Civilização



Ana Duarte, nº37092

James Turrell


Um pouquinho de Saint-Exupéry



" A terra ensina-nos mais a nosso respeito do que todos os livros. Porque nos resiste. O homem descobre-se quando se mede com obstáculo. Mas, para alcançar, precisa de uma ferramenta. Precisa de uma plaina ou de uma charrua. O camponês, na sua faina, vai arrancando a pouco e pouco alguns segredos à natureza, e a verdade que liberta é universal. Do mesmo modo, o avião, utensílio das linhas aéreas envolve o homem em todos os velhos problemas.
Tenho sempre diante dos olhos a imagem da minha primeira npoite de voo na Argentina, uma noite escura em que cintilavam isoladas, como estrelas, as raras luzes dispersas na planície.
Cada uma assinalava, neste mar de trevas, o milagre de uma consciência. Neste lar, lia-se, refletia-se, entrava-se em confidências. Neste outro, talvez, procurava-se sondar o espaço, alguém se consumia em cálculos sobre a nebulosa de Andrómeda. Ali amava-se. De longe em longe, brilhavam estas luzes no campo, reclamando o seu alimento.Até as mais discretas, as do poeta, do mestre-escola, do carpinteiro. Mas, no meio destas estrelas vivas, quantas janelas fechadas, quantas estrelas apagadas, quantos homens adormecidos...
É importante que se procure reunir. è importante que se tente comunicar com algumas destas luzes que brilham de longe em longe no campo."

James Turrell encontra Saint-Exupéry no céu!!!!!











Oi Gente!!!!

Tá chegando a minha vez.... No próximo dia 12, irei falar sobre o mundialmente conhecido James Turrell, o " Escultor da Luz".
Este artista americano, tem a sua obra espalhada um pouco pelo mundo todo: no Whitney Museum (NY), The Museum of Modern Art (NY), The Stedelijk Museum (NED), The Pasadena Art Museum (EUA), The Museum of Contemporary Art (LA), no Israel Museum, no Mito Arts Foundation (JPN), só para citar alguns exemplos.
Turrell, tambem já foi distinguido com o prestigiado prémio do programa da MacArthur Foundation Fellowship, um programa que apoia artistas e profissionais que demonstram grande capacidade criativa nas mais diversas areas artísticas.
Bom, já deu pra perceber o porquê do mundialmente famoso. Agora vamos passar para o que realmente interessa: em que consiste o trabalho de James Turrell?
Em 1960, alguns artistas da California começaram a dar grande importância à precepção visual dos seus trabalhos artísticos. A unidade deste movimento, foi aquele tipo de coisa que ninguém consegue explicar, mas que todo mundo ja viu acontecer ou soube que aconteceu. Artistas explorando o mesmo tema, procurando o mesmo fim, sem nenhuma comunicação prévia... E imaginem só quem é tido como o grande percursor desse "mood".... James Turrell!!! Isto porque a arte californiana andava meio perdida, e este novo "mood" abriu portas para o movimento que ficou conhecido como "Light and Space".
Porém, para Turrell não existiu um movimento, nunca houve uma organização ou uma coesão entre os artistas. O que havia, era apenas a coincidência do interesse comum pela percepção visual. Partilhavam dessas mesmas ideias artistas como Larry Bell e Eric Orr que utilizavam elementos ritualísticos e se aproximavam de Yves Klein. Já Michael Asher e Bruce Nauman se interessavam mais pelo estilo conceptual. E ainda tinha aqueles que estavam mesmo ligados à percepção visual em si como Robert Irwin, Douglas Wheeler e Maria Nordman.
É, foi assim que tuuuudo começou. A partir daqui, o que podemos observar no trabalho de James Turrell é a exploração latente da fisicalidade da luz.
A sua primeira exposição foi no Pasedena Art Museum, em 1967 - "Projection of Piece".
Para se preparar para essa primeira exposição, adquiriu o prédio de um antigo hotel em Ocean Park, o Mendota Hotel. Fez dali o seu atelier, o seu espaço para expôr os seus trabalhos, ganhando assim total liberdade e independência das instituições culturais. James Turrell vai se afastando cada vez mais do que pode ser chamado de mundo oficial das artes.
Com a sua própria galeria, vamos observando nas várias exposições que se seguem, que era difícil encontrar uma forma de vender as suas obras. Aliás, um termo mais adequado seria chamar essas obras de estructuras.
A produção artística de James Turrell é intensa e já soma quase 200 exposições individuais e em grupo pelo mundo todo. Podemos categorizar o seu trabalho em 4 diferentes vertentes: a exploração da paisagem natural (Land Art, Roden Crater); a exploração da fisicalidade da luz solar (Skyspaces Series); instalações indoor com a projecção de luz artificial e as "perception cells" - obras que eram estructuras individuais móveis usadas para estabelecer "experiências auto-reflexivas".
Para a apresentação, escolhi a série de trabalhos "Skyspaces", que desde 1970 Turrel vem desenvolvendo nos mais diversos ambientes. Estes espaços, são salas em que o tecto é recortado de forma geometrica, ora retangular ora circular, e o que contemplamos é o céu e a sua imagem projectada no chão. O que realmente interessa para Turrel é a experiência da percepção da luz, algo que não pode ser concebido por palavras...
E é aqui, no céu, que se dá o grande encontro de James Turrell e Saint-Exupéry. Um encontro entre o jovem Turrel e o livro "Wind, Sand and Stars" ou "Terra dos Homens". Os dois artistas possuem em comum o gosto pelo céu, pela aviação e algumas coisinhas mais. P'ra conferir na próxima quarta. Até lá!!!

Juliana Ono nº 35160

Bibliografia:

Exupéry, Saint. Terra dos Homens. Portugal. Publicações Europa América;

Igliori, Paola. Entrails, Heads & Tails. New York. Rizoli International Publications, 1992;

Adcock, Craig. James Turrell: The Art of Light and Space. University of California Press, 1990.

Sites:

http://www.pbs.org/art21/artists/turrell/

http://www.guggenheim.org/new-york/collections/collection-online/show-full/bio/?artist_name=James%20Turrell&page=1&f=Name&cr=1

http://www.scottsdalepublicart.org/collection/knightrise.php

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Walter De Maria & Sophia de Mello Breyner Andresen

Walter De Maria,
The New York Earth Room (1977)
141 Wooster Street, NY

250 cubic yards of earth (197 cubic meters)
3,600 square feet of floor space (335 square meters)
22 inch depth of material (56 centimeters)
weight: 280,000 lbs. (127, 300 kilos)


Walter De Maria nasceu no dia 1 de Outubro de 1935 em Albany, California. Estudou História e Arte em Berkeley, na University of California (1953-59). Entre 1959-60 organizou nessa Universidade e também na California School of Art (S.Francisco) uma série de happenings (forma de expressão teatral que surge no final dos anos 50 e início de 60). Em 1960 vai viver para Nova Iorque onde três anos depois realiza a sua primeira exposição individual. Foi baterista dos Velvet Underground em 1965, banda que "nasceu" do atelier de Andy Warhol da década de 60, The Factory (que era também um ponto de encontro de pintores, músicos e outros artistas) e actuou no Exploding Plastic Inevitable (66-67), um evento organizado também por Warhol.
Anterior ao The New York Earth Room (1977), existiram outras duas instalações: uma primeira em Munique (1968) e uma segunda em Darmstadt, no Hessisches Landesmuseum (1974).


Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inultimente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia (1944)


Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) é um dos nomes mais importantes entre os poetas contemporâneos. De origem dinamarquesa, pelo lado paterno, passou a sua infância na quinta do Campo Alegre (actualmente Jardim Botânico do Porto), no seio de uma família aristocrática. A adolescência foi passada entre o Porto e Lisboa. Em Lisboa frequentou o Curso de Filologia Clássica e após o casamento com o advogado Francisco Sousa Tavares, fixou-se nesta cidade. Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores pelo seu Livro Sexto (1962). Sobre a sua poesia, Sophia disse ser "(...) a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala de uma vida ideal mas sim de uma vida concreta (...)". (1)


Relação entre o poema e a instalação

No poema, o sujeito poético vê a cidade como um lugar vil onde se sente aprisionado ("E eu estou em ti fechada e apenas vejo/ Os muros e as paredes") e onde sente que a sua vida lhe é roubada ("Saber que tomas em ti a minha vida"). As paredes e muros à sua volta impedem-no de ver "o crescer do mar" e "o mudar das luas". A cidade surge como ideia de exílio não só do corpo físico como também do corpo espiritual ("E que arrastas pela sombra das paredes/ A minha alma"). O mar, as ondas, as praias, as montanhas, as planícies e as florestas são evocações de imagens da natureza.
Nova Iorque é a cidade que nunca dorme, cidade inquieta ("vaivém sem paz das ruas") e toda ela repleta de muros e paredes nos edifícios que se erguem imponentes. The New York Earth Room é uma instalação num apartamento "habitado" por terra fértil. O cheiro intenso do solo e a luz que entra pelas janelas faz-nos por momentos esquecer que estamos dentro de um apartamento em Nova Iorque e podemos imaginar-nos no meio da natureza, deitados na terra e com o sol a bater-nos na cara. No poema de Sophia há uma clara oposição entre o espaço urbano e o espaço natural e De Maria parece jogar com essa oposição na procura de uma espécie de convívio entre ambos no seu The New York Earth Room.


Bibliografia:

- Andresen, Sophia de Mello Breyner. Obra Poética I. Lisboa. Caminho, 1999. (1)
- Andresen, Sophia de Mello Breyner. Obra Poética III. Lisboa. Caminho, 1999.
- Naylor, Colin (ed.). Contemporary Artists. Chicago and London. St James Press, 1989.
- Phaidon Press (eds.). Phaidon Dictionary of Twentieth-Century Art. London. Phaidon, 1973

Web:
- http://artwelove.com/venue/-id/ca2d742d
- http://www.diaart.org/sites/main/earthroom
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia_de_Melo_Breyner
- http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/05/19/AR2009051903443.html
- http://tate.org.uk/collections/glossary/definition.jsp?entryId=131
- http://en.wikipedia.org/wiki/The_Factory

Raquel Correia
nº34379

Robert Smithson & William Burroughs

Robert Smithson
Spiral Jetty, April 1970
Great Salt Lake, Utah
Black rock, salt, earth, red water (algae)
3 1/2 x 15 x 1500 feet
Estate of Robert Smithson / Licensed by VAGA, New York, NY Image courtesy James Cohan Gallery, New York Collection: DIA Center for the Arts, New York
Photo: Gianfranco Gorgoni


Robert Smithson (1938-1973)

Smithson iniciou-se no meio artístico como pintor onde a temática do corpo estava bem presente mas após um interregno de três anos, abandona as considerações ao corpo e interessa-se mais por entropia, procura relacionar a matemática com a arte. O conceito de entropia no discurso matemático, quando aprofundado, é tão filosófico como a arte. Esse era o fascínio de Smithson. Aquela energia que não era controlada e que sempre ocorria, fruto do tempo com repercussões no espaço. Smithson previu as alterações do nível das águas e a sua obra esteve já várias vezes submersa mas isso foi o que permitiu as alterações de cores que acontecem frequentemente, como reacção natural dos fenómenos da natureza.
A Spiral Jetty tem cerca de 6 toneladas de pedra de basalto preto e terra, em forma de espiral com um diâmetro de 1500 pés, saída de uma montanha para um lago.

A Spiral Jetty é possivelmente a mais popular obra de Land Art.
Land Art é um movimento artístico que surge na década de 60 no Minimalismo e na arte conceptual. A ideia era fazer com que a arte saísse das galerias e dos museus, literalmente, como crítica ao contexto socioeconómico que circundava o meio artístico. Quem quisesse ver a obra teria de se deslocar até ela. No caso de Spiral Jetty o percurso era bem duro. No entanto, os trabalhos de Land Art são de dimensão espiritual, uma vez que, a experiência do contacto com a obra não ocorre apenas no campo visual, a experiência de estar na própria obra, de a explorar fisicamente produz um efeito determinante na interpretação que se obtêm e que se realiza no campo sensorial.

Smithson escolhe Rozel Point como local para a sua escultura depois de observar a cor da água que era cor-de-rosa, por causa das algas que ali cresciam e pelo efeito que teria combinada com os cristais de sal. Foi deliberada a sua intenção em interagir com a natureza sem a colocar em risco. Ele era também um ambientalista e as suas preocupações ecológicas faziam parte da sua concepção artística. As suas motivações iam desde a cosmologia, ao pós-industrial, antigas civilizações, pré-história e formas geológicas. O seu interesse residia em matérias que perssistiram ao longo dos tempos, tais como a lama, a lava dos vulcões, as rochas e até o sal. Esta matéria que outrora existiu é a mesma que conhecemos hoje, resistiu ao que nenhum homem ainda conseguiu, ao tempo. Essa matéria, alvo do fascínio de Smithson é o que constitui grande parte do nosso planeta. É o corpo da Terra. O corpo que Smithson utiliza nesta fase, é a matéria que constitui o planeta. A sua intervenção pode ser entendida como um adorno, uma forma bela. Alguns sugerem que a forma em espiral se deve à influência da literatura de ficção científica de J. G. Ballard.

Smithson gostava de que as suas obras se fossem alterando com o passar do tempo e adorava que essas transformações fossem visiveis.

“O tamanho determina um objecto, mas a escala determina a arte. Uma fissura num muro, se olhada em termos de escala e não de tamanho, poderia ser chamada de Grand Canyon” Robert Smithson


Obra literária
Thanksgiving Prayer, William Burroughs

To John Dillinger and hope he is still alive.
Thanksgiving Day November 28 1986"

Thanks for the wild turkey and
the passenger pigeons, destined
to be shat out through wholesome
American guts.
Thanks for a continent to despoil
and poison.
Thanks for Indians to provide a
modicum of challenge and
danger.
Thanks for vast herds of bison to
kill and skin leaving the
carcasses to rot.
Thanks for bounties on wolves
and coyotes.
Thanks for the American dream,
To vulgarize and to falsify until
the bare lies shine through.
Thanks for the KKK.
For nigger-killin' lawmen,
feelin' their notches.
For decent church-goin' women,
with their mean, pinched, bitter,
evil faces.
Thanks for "Kill a Queer for
Christ" stickers.
Thanks for laboratory AIDS.
Thanks for Prohibition and the
war against drugs.
Thanks for a country where
nobody's allowed to mind the
own business.
Thanks for a nation of finks.
Yes, thanks for all the
memories-- all right let's see
your arms!
You always were a headache and
you always were a bore.
Thanks for the last and greatest
betrayal of the last and greatest
of human dreams.

Reflexão

Neste poema de W.Burroughs está presente o espírito crítico partilhado por Smithson ainda que manifestado difentemente. O agradecimento, profundamente irónico, de Burroughs pelo envenenamento do continente segue a linha de raciocínio de Smithson na escolha do local para a Spiral Jetty, já que este estudou vários locais inóspitos nos arredores de Nova Jersey, zonas industrias com marcas visiveis no terreno desde a desflorestação até à poluição das águas. A critica social no poema pode ser entendido como uma espiral que sendo o problema, alberga também a solução e é repetindo os ciclos que os podemos perceber. A relação que que estabeleço entre a espiral “negativa” de Burroughs e a espiral “positiva” de Smithson, é de complementariedade.. Um leva-nos a para um percurso descendente mas com o qual temos de nos confrontar para conhecer a realidade e o outro, Smithson, leva-nos de onde Burroughs nos deixou, num percurso em ascenção que no entanto tem como base a rudeza, do lugar onde a Spiral Jetty foi concebida, em tudo semelhante à rudeza do poema de Burroughs.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Richard Serra e José Régio


Betwixt The Torus and the Sphere
wheatherproof steel, three spherical sections, three torus sections
(360,7 x 1143 x 810,3 cm)


Betwixt The Torus and the Sphere (detail), 2001
Photo by Dirk Reinartz


Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
(…)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
(…)

José Régio


Richard Serra (1939 - ), é um escultor americano, associado à arte minimalista, que nasceu em São Francisco da Califórnia e que desde cedo revelou-se um artista que buscava a originalidade e recusava os convencionalismos. Começou por utilizar materiais como o chumbo derretido (influenciado pela técnica de “dripping” de Pollock), borracha e luzes néon. Mas foi com as suas esculturas em grande escala, obras que desafiam a força da gravidade e os limites da engenharia, que Serra se tornou polémico.
Estas esculturas, em aço oxidado pelo tempo, são concebidas para sítios específicos, criando diálogos com cenários arquitectónicos particulares, urbanos ou mesmo com a paisagem. Têm ainda a capacidade de redefinir o espaço e a percepção que o espectador tem dele. Ao analisar as forças gravitacionais da escultura, o artista estabelece essa relação com o espaço e as pessoas.
Estas esculturas convidam a entrar e apelam aos sentidos do espectador, proporcionando uma experiência principalmente física.
Com estas obras, Richard Serra, pretende que as pessoas pensem, parem e reflictam sobre a forma como a escultura as afecta ou afectou, com elas, promove o cruzamento entre a fisicalidade do espaço, a natureza da escultura e o corpo do homem.

José Régio (1901-1969), pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, natural de Vila do Conde, foi professor, poeta, romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, entre outras actividades de carácter literário e artístico.
Foi um dos fundadores da revista Presença, que marcou o segundo modernismo português e do qual foi o principal impulsionador e ideólogo. A sua obra reflecte sobre problemas relativos ao conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, analisando a problemática da solidão e das relações humanas.
Régio, teve uma participação activa na vida pública e politica. Manteve-se sempre firme e frontal nos seus ideais socialistas, apesar do regime repressivo da época. Durante o Estado Novo, quando vigorava o regime político autoritário e corporativista em Portugal (1933 – 1974), viu mesmo o seu romance, Jogo da Cabra Cega, ser proibido pela censura, por conter referência a registos pulsionais e a questões de carácter edipiano.

Reflexão

CAMINHOS
A escultura de Richard Serra convida a entrar, a percorrer caminhos. Apela ao sentido mais físico do homem, ao confrontá-lo com peças de aço enferrujado de grandes dimensões, a ponto de o espectador se sentir insignificante. Evoca o sublime ao inspirar, pela noção de grandeza, sensações como temor, opressão, sufoco. Traça percursos, interiores e exteriores, que o artista determinou, induzindo os corpos a percorrê-los e a tirarem dessa experiência uma mediação entre o corpo e o espaço. A obra escultórica apresenta-se assim, como fonte de energia que impele os sentidos e atrai os corpos para o seu interior.
O poema de Régio, sugere algo oposto. Há uma imposição, uma recusa em seguir a vontade de outrem. Sugere uma determinação de carácter, uma vontade de seguir o seu instinto. Alguém que quer seguir o seu próprio caminho, sem elos nem amarras que o possam impedir de ser livre criador. Propõe a negação ao convite de percorrer caminhos instituídos ou convencionados, que lhe são apresentados por outros, para seguir o seu próprio percurso, aquele em que acredita.
Ao analisar estas duas obras, a escultórica e a literária, imediatamente me ocorre a palavra “caminhos”, como ponto de união ou como conceito comum que as interliga. Caminhos que atraem e repelem, percursos que o homem aceita ou recusa fazer.
O homem, o artista, o poeta. Todos percorrem caminhos, idealizados ou não, mais ou menos concretizados. Caminhos que rumam à felicidade, ao prazer, ao desespero, à loucura, ao triunfo, que marcam o individuo e o caracterizam. A vida é como um jogo que impõe escolhas, caminhos a percorrer e eis que sem esperar, a pergunta surge:
“ Qual deles irei escolher?”


Bibliografia

FLORÊNCIO, Violante, Ensaio: Jogos edipianos em “Jogo da Cabra Cega", Revista Colóquio/Letras. n.º 140/141, Abril-Setembro, Edição e propriedade da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1996, p. 82-88.

NUNES, Paulo Simões, Arte e Teoria. Revista do Mestrado em Teorias da Arte – nº 2”, FBAUL, Lisboa, 2001, p. 92-105.

CRIMP, Douglas, Sobre as Ruínas do Museu, Edição Martins Fontes, S. Paulo, 2005.

Catálogo: Primeira Exposição – “Diálogo sobre a Arte Contemporânea na Europa”, CAM - Fundação Calouste Gulbenkian, 1985.

NOVAIS, Isabel Cadete, Herdeiros de José Régio, Antologia Poética: Não Vou Por Aí!, Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão, Março 2001.


Sitiografia

http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/exposicoes-virtuais/jose-regio-e-os-mundos-em-que-viveu.html

http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=Jos%c3%a9%20R%c3%a9gio

http://www.geira.pt/cmjoseregio/

http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=140&p=82&o=p

http://www.ubu.com/historical/serra/index.html

http://www.moma.org/interactives/exhibitions/2007/serra/flash.html

http://www.sculpture.org/documents/scmag02/oct02/serra/serra.shtml

http://www.guggenheimcollection.org/site/artist_bio_144A.html

http://www.gagosian.com/artists/richard-serra/

http://www.egodesign.ca/en/article.php?article_id=100&page=4

www.flickr.com/photos/89056025@N00/1360954280/

www.flickr.com/photos/89056025@N00/1360954280/

artchitecture.skynetblogs.be/post/3650322/rse...

Youtube – Richard Serra talks with Charlie Rose




Iolanda Batista – nº 37683

On Vaudeville ICA

História de Arte online

Consultem o site The Art Story para uma viagem sobre movimentos, críticos, artistas... um projecto que começou em Fevereiro de 2009 e vale a pena seguir.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bruce Nauman

Uma instalação com escultura e vídeo

Shit in Your Hat-Head on a chair 1990

terça-feira, 27 de abril de 2010

BARBARA KRUGER & ANA HATHERLY

Barbara KrugerUntitled (I shop therefore I am), 1987
Biografia de Barbara Kruger
Barbara Kruger (fotógrafa e artista conceptual) nasceu em 1945 em New Jersey. Estudou Arte na Universidade de Syracuse em Nova Iorque e o seu trabalho foi exibido no mundo inteiro.
No seu trabalho usa as cores Preto, Branco e Vermelho.
Kruger manipula a imagem (montagem de imagens e texto) e faz os seus comentários sobre as questões sociais.
O seu trabalho torna-se em ícones visuais demonstrativos da maneira como era construído o poder nos anos 1980 e 1990 altura em que o outdoor era considerado um suporte para divulgar apenas anúncios que incentivavam o consumismo e promoviam a competividade entre as empresas.
A ousada abordagem de Kruger tem como objectivo trazer uma discussão inquietante entre a sua obra e o espectador uma vez que critica a sociedade através do tema consumista num ambiente consumista.
A artista realiza nas suas obras uma crítica às relações sociais, ao estilo de vida do ser humano, às formas de dominação, aos estereótipos que o homem constrói e aos preconceitos.
A influência do feminismo é predominante, destacando e desafiando as normas patriarcais e as relações de poder usando um estilo de agitprop (propaganda política)
Por ser uma artista da geração pós-modernista, Kruger tenta induzir nas suas obras a reflexão dos observadores assim como trabalhar para que as suas obras tenham sempre uma essência crítica aos paradigmas da época.
Kruger teve exposições no Museu de Arte Contemporânea em Los Angeles, Whitney Museum em New York, Tate Gallery - Londres, Rhona Hoffman Gallery – Chicago, Yvon Lambert – Paris e Spruth Magers Berlin Londres.


O decifrador de imagens

O decifrador de imagens
persegue um fantasma de vestígios
como Ulisses amarrado
ao querer do conhecer
A descoberta é invenção provisória:
as vozes não se vêem
o que se vê não se ouve
A imaginação
ergue-se do arrepio da sombra
guerrilha entre parênteses
ergue-se da constante chacina
procurando outra coisa
outra causa
o outro lado do ver
Ana Hatherly
2003


Biografia de Ana Hatherly

Ana Hatherly (Porto, 1929) é poetisa, ensaísta, investigadora, tradutora, professora universitária e artista plástica portuguesa.
Membro destacado do grupo da Poesia Experimental Portuguesa nos anos 1960 e 1970, tem uma extensa bibliografia poética e ensaística. Dedicou-se também à investigação e divulgação da literatura portuguesa do período barroco tendo fundado as revistas Claro-Escuro e Incidências. Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores nos anos 1970, foi também membro fundador e depois Presidente do P.E.N. Clube Português e Presidente do Committee for Translations and Linguistic Rights do P.E.N. Internacional.
Em 1978 foi agraciada pela Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro com a medalha Oskar Nobiling por serviços distintos no campo da literatura. Em 1998 obteve o Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores; em 1999 o Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português; em 2003 o Prémio de Poesia Evelyne Encelot, em França, e o Prémio Hannibal Lucic, na Croácia.
Paralelamente tem uma carreira como artista plástica, iniciada nos anos 1960, com um extenso número de exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro. As suas obras encontram-se nos principais Museus de Arte Contemporânea de Portugal e em colecções privadas nacionais e estrangeiras.
Relação texto/obra

O decifrador de imagens seria a própria artista Barbara Kruger que tenta revelar através da sua arte o segredo que se encontra por detrás da política, da publicidade que incentiva ao consumismo.
Persegue e critica a política e a sociedade querendo dar a conhecer às pessoas a realidade para poderem ter conhecimendo de que estão a ser enganados.
A descoberta que seria a arte de Kruger é uma invenção provisória na sociedade porque ninguém quer encarar a realidade por muito tempo e deixa-se influenciar de novo pela sociedade em que vive. Uma sociedade consumista e politicamente injusta que inspira Kruger na sua arte, erguendo-se a imaginação “do arrepio da sombra” ou seja das mais profundas mentiras, enganos da sociedade.
A guerrilha que se ergue da constante chacina representa talvez a mesma sociedade consumista que é vitima da política, da economia, da publicidade tal como o gado que é morto para alimentar.
A artista procura o outro lado do ver mostrando-o na sua arte de uma maneira irónica e crítica.




Trabalho realizado por:
Ada Andreea Dirvareanu

domingo, 25 de abril de 2010

Warhol videasta

Andy Warhol foi um artista com muitas máscaras, de mil e um recursos. Espreitem este vídeo dos The Cars, os anos oitenta no seu melhor...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

She is a femme fatale 2

(para tornar o texto mais visível, clicar na imagem)

Revista Ítaca, FLUL

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jacob Riis - Florbela Espanca


Jacob Riis, Plank for a Bed, 1890


Poema:

Pior Velhice

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer
Dum riso são andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca,
Eu, naufraga da Vida, ando a morrer!

A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher,
Na minha fronte mística de louca
Martírios só poisou a emurchecer!

E dizem que sou nova ... A mocidade
Estará só, então, na nossa idade,
Ou está em nós e em nosso peito mora?!

Tenho a pior velhice, a que é mais triste,
Aquela onde nem sequer existe
Lembrança de ter sido nova ... outrora ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"


Nesta a fotografia, Plank for a Bed de Jacob Riis, existem pormenores que nos chamam à atenção.Um desses pormenores é a mão exposta no lado direito da fotografia, apontado para a senhora idosa.Por um lado uma das conclusões que podemos tirar desta mão, é que poderá ser alguém a ordenar lhe para expor o seu corpo perante uma pessoa desconhecida, neste caso o fotógrafo. Por outro lado também podemos dizer que poderá ser alguém a apontar para o que a senhora e para o que ela está a fazer, sem qualquer segunda intenção.

Relativamente à senhora, levando pelo lado de aceitação de uma ordem, observando o seu rosto, podemos constatar que está de olhos fechados podendo isto significar que esta não queria se expor, e uma maneira de se negar a tal, é não olhando para a máquina, mostrando assim a sua relutância à invasão da sua privacidade. Por outro lado, também podemos referir o facto do flash da máquina fotográfica; como já estudámos, Jacob Riis foi dos pioneiros na utilização do mesmo, e para evitar a cegueira do flash, a senhora idosa pode ter fechado os olhos para não ficar com cegueira temporária.

Observando o corpo da mulher idosa, podemos dizer que é um corpo velho, gasto, frágil e cansado, que pode ser comparado com a tábua que está a seu lado, também ela um objecto frágil, sublinhando assim a fragilidade da mulher.


Jacob Riis ficou conhecido por retratar bastante a vida dos mais empobrecidos à alta sociedade.

Outro pormenor interessante e que nos faz dar mais ênfase a pobreza e à velhice é o facto de a fotografia ser a preto e branco, pois são cores morta e inanimadas.

Relativamente ao poema por mim escolhido, a quadra que mais identifico com a fotografia, é a primeira quadra, pois o sentimento e ideia que me transmite, estão muito explicitas nesta mesma quadra pois a senhora idosa está triste demonstra que não tem vontade de viver, tem um ar cansado, desgastado, velho.



Emanuel Francisco Nº 42299

domingo, 18 de abril de 2010

Edward Weston - Herberto Helder

O lugar do corpo na escrita da paisagem

A Imagem:



White Dune, 45SO


O Poema:

Eu podia abrir um mapa: «o corpo» com relevos crepitantes
e depressões e veias hidrográficas e tudo o mais
morosas linhas e gravações um pouco obscuras
quando «ler» se fendia nalguma parte um buraco
que chegava repentinamente de dentro
a clareira arremessada pelo sono acima
insóna vulcânica sala contendo toda a febre «táctil»
furibunda maneira
esse era então uma espécie de «lugar interno»
áspera geologia alcalina e varrida e crua
exposta assim à leitura que se esqueceu do seu «medo»
o corpo com todas as «incursões» caligráficas
«referências» florais «desvios» ortográficos da família dos carnívoros
«antropofagias» gramaticais e «pègadas»
ainda ferventes
ou minas com o frio bater e o barulho escorrendo
«um mapa» onde se lia completamente o sangue e suas franjas
de ouro o irado desregramento da «traça
primeira» e o apuramento do mel com a labareda
inclusa o corpo na prancheta
para a lisura sentada onde se risca a posição mortal
«um papel» apenas a branca tensão do néon
no tecto o jorro de cima «declarando» qualquer rispidez
a suavidade toda uma bastarda
graça
de infiltração na sonolência ou explosiva
«vigilância» combustão das massas ao comprido
do «desenho» irregular
e só então assim desterrado do ruído nos subúrbios
ele apenas agora «composição» forte e atada de elementos
escarpas rapidamente
decorrendo
corpo que se faltava em tempo «fotografia»
de um «estudo» para sempre
como lhe bastava ser possível tão-só uma certa
temperatura
grutas aberturas minerais palpitações no subsolo
tremores
anfractuosidades esponjas onde pulsavam canais dolorosos
e a arfante matéria irrompendo nos écrans
com o susto leve das «manchas» que se uniam
essa energia sem espaço súbita «geometria» a costurar de fora
mordeduras velozes delicadezas
nervuras vivas
para seguir até ao fim «com os olhos»
como uma paisagem de espinhos faiscantes
«o contorno» que queima de uma lâmpada acesa
toda a noite no gabinete do cartógrafo.

Antropofagias, Texto 4


Edward Weston

“The camera should be used for a recording of life, for rendering the very substance and quintessence of the thing itself, whether it be polished steel or palpitating flesh”. E.Weston

Nascido a 24 de Março de 1886 em Highland Park, Illinois e falecido a 1 de Janeiro de 1958 em Wildcat Hill, Carmel, Califórnia, Edward Weston começou a fotografar com 16 anos de idade, após ter recebido como presente, uma câmara fotográfica do seu pai.
Em 1906, Weston vê a sua primeira fotografia publicada na revista Camera and Darkroom, tendo o seu trabalho como fotógrafo itinerante começado pouco depois, quando se muda para a Califórnia e onde começa a fotografar crianças, animais de estimação e alguns funerais.
Ciente da importância da formação técnica, Weston frequenta o Illinois College of Photography, regressando posteriormente à Califórnia, onde começa a desenvolver um trabalho de assinalável qualidade, destacando-se os trabalhos de pose e iluminação, aplicados à fotografia de retrato, num assumido estilo picturalista.
Em 1911, após casar e tornar-se pai do que seriam futuros fotógrafos (Brett e Cole Weston), Edward Weston abre o seu próprio estúdio, como retratista, em Tropico (actual Glendale), Califórnia, onde desenvolve o seu trabalho durante duas décadas.
Galardoado e reconhecido no seu tempo, destacando-se essencialmente como retratista e fotógrafo de dança moderna, Weston conhece a fotógrafa Margrethe Mather, que se tornará sua assistente e modelo fotográfico.
Em 1922, a carreira artística de Weston conhece um ponto de viragem, após uma visita efectuada à fábrica de aço ARMCO, em Middletown, Ohio, onde Weston contacta com novas realidades, depuradas e livres de artificialismos, que o fazem renunciar ao estilo picturalista, em favor das formas abstractas e da definição de pormenores. Weston contacta nessa altura, em Nova Iorque, com artistas como Alfred Stieglitz, Paul Strand, Charles Sheeler e Georgia O'Keefe.
Um dos períodos consagrados à fotografia de nús ocorre em 1923, no México, onde Weston conhece artistas como Diego Rivera, Frida Khalo, David Siqueiros e José Orozco.
Uma das fases mais importantes da carreira artística de Weston dá-se a partir de 1926, quando regressa novamente à Califórnia e começa a fotografar paisagens e formas naturais, nús e grandes planos de conchas marinhas e legumes (pimentos, couves), evidenciando as suas texturas e formas escultóricas. São também desse ano as fotogafias de rochas e árvores em Point Lobos, Califórnia.
Em 1932, conjuntamente com Ansel Adams, Willard Van Dyke, Imogen Cunningham e Sonya Noskowiak, Weston funda o que se intitulará Grupo f/64, nome escolhido devido à especificidade deste termo óptico, que assegura a máxima nitidez de imagem, quer em planos próximos ou distantes.
O ano de 1936 representa o que é para muitos o melhor período de Weston, por ser também o mais experimental, incidindo sobre nús, dunas e paisagens desérticas, em Oceano, Califórnia, e sobre o qual a presente apresentação /trabalho se insere.
Para além de ser o primeiro fotógrafo agraciado, no ano de 1937, com um fundo do Guggenheim Fellowship, que lhe permitiu viajar através da Califórnia e dos seus estados vizinhos durante dois anos, Weston contribuiu ainda com algumas das suas imagens para uma nova edição de Leaves of Grass, de Walt Whitman, no ano de 1941.
Refira-se, a título de curiosidade, que partir de 1915, Weston começou a reunir crónicas sobre a sua vida e obra, a que deu o nome de daybooks. Eis aqui um desses excertos:

“My way of working – I start with no preconcieved idea – discovery excites me to focus – then rediscovery through the lens – final form of presentation seen on ground glass, the finished print previsioned – complete in every detail of texture, movement, proportion before exposure – the shutter's release automatically and finally fixes my conception, allowing no after manipulation”.


Herberto Helder

Nascido a 23 de Novembro de 1930 no Funchal (Madeira), Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira parte em 1946 para Lisboa, onde frequenta os estudos liceais. Em 1948 matricula-se na Faculdade de Direito de Coimbra e, em 1949, muda para a Faculdade de Letras onde frequenta, durante três anos, o curso de Filologia Romântica, não tendo concluído o curso.
Oscilando a sua actividade profissional entre a banca e a publicidade, Herberto Helder publica o seu primeiro poema em Coimbra, no ano de 1954.
Em Lisboa, no ano de 1955, contacta com o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder Macedo, publicando em 1958 o seu primeiro livro, O Amor em Visita, editado por Luiz Pacheco, o que pode em parte relacionar a sua escrita inicial com uma espécie de surrealismo tardio. Durante os anos que se seguem, vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais exerce profissões pobres e marginais.
Em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes publica os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional como redactor de noticiário internacional. Ainda nesse mesmo ano, publica Os Passos em Volta e produz A máquina de emaranhar paisagens. Data de 1968 a sua participação na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, o que o envolve num processo judicial no qual é condenado, o que provoca o seu despedimento da Rádio e da Televisão portuguesas.
Em 1970 viaja por Espanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca, e escreve Os Brancos Arquipélagos. Em 1971 desloca-se para Angola, onde trabalha como redactor da revista Notícia. Enquanto repórter de guerra, é vítima de um grave desastre, ficando hospitalizado durante três meses. Data ainda desse ano a publicação de Vocação Animal e a produção de Antropofagias.
Regressa a Lisboa e parte de novo, desta vez para os Estados Unidos da América, em 1973, ano durante o qual publica Poesia Toda, obra que contém o conjunto da sua produção poética, fazendo uma tentativa frustrada de publicar Prosa Toda.
Em 1975, passa alguns meses em França e Inglaterra, regressando posteriormente a Lisboa, onde trabalha na rádio e em revistas. Em 1976, Herberto Helder participa na edição e organização da revista Nova que, sendo posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, reconhecia na Literatura portuguesa, características que a aproximaram às Literaturas latino-americana, africana e espanhola, declinando uma direcção literária revolucionária.
Nos anos que se seguiram, publicou as obras Cobra, O Corpo, O Luxo, A Obra, Photomaton e Vox, A Cabeça entre as Mãos, As Magias, Última Ciência, Do Mundo e, mais recentemente, A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (2008). Ofício Cantante (2009) constitui a última versão, modificada, de Poesia Toda.
Sendo considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, avesso a prémios, entrevistas e honrarias, Herberto Helder cultiva, desde há muito, uma existência quase eremita, aparentemente divorciada da sociedade.
Ao longo da sua obra, Herberto Helder visita temas como a mulher-mãe, o cosmos, a língua, a deambulação e identidade humanas, para além das geografias do corpo, do espaço e do tempo. É pai do jornalista Daniel Oliveira.


O lugar do corpo na escrita da paisagem – Reflexão

Edward Weston acreditava no diálogo contínuo entre todas as formas, cuja origem provinha da natureza, assente numa interacção constante entre micro e macrocosmos.
A imagem de Weston sugere um corpo humano, inscrito numa paisagem desértica.
O poema de Herberto Helder sugere um corpo, a partir de um mapa cartografado.
Nos dois casos, a contaminação está presente, seja pela sugestão de um corpo nú, vasto como uma montanha (em Weston), seja na transformação da matéria em corpo térmico-explosivo, objecto de prazer antropofágico (em Helder).
Em ambos os textos (visual e literário) aqui apresentados, o corpo surge como uma forma impressa, dotada de relevos e contornos próprios, caligafados numa geologia antropomórfica da paisagem.
Existe, do mesmo modo, uma interpretação sexual ambígua, aplicada ao universo das formas geométricas, lavradas na paisagem de Weston, ou mergulhadas em pulsão sanguínea, no texto de Helder.


Bibliografia:

Weston, Edward & Newhall, Nancy, Edward Weston's Book of Nudes, The J. Paul Getty Museum, Los Angeles, USA, 2007.
Mibelbeck, Reinhold, Fotografia do Século XX, Museu Ludwig de Colónia, Taschen, Colónia, Alemanha, 2001.
Trcka, Anton Josef, Weston, Edward, Newton, Helmut, The Artificial of the Real, Kestner Gesellschaft, Scalo, Hannover, Germany, 1998.
Ewing, William A., The Body, Photoworks of the Human Form, Thames and Hudson, London, UK, 1994.
Helder, Herberto, A Faca Não Corta o Fogo, Súmula & Inédita, Assírio & Alvim, Lisboa, 2008
Helder, Herberto, Ou o Poema Contínuo, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.
Cambridge Advanced Learner's Dictionary, Cambridge University Press, UK, 2005.
Dicionário de Língua Portuguesa, Porto Editora, 2006.


Sitiografia:

http://www.edward-weston.com/
http://www.edward-weston.com/edward_weston_original_38.htm http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/helder/biogra.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Herberto_H%C3%A9lder



Fernando Claudino
Aluno n.º 36447