quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dorothea Lange + John Steinbeck

O Sol a Oeste


The Road West, Dorothea Lange, New Mexico, 1938


"Um banco ou uma companhia (...) não respiram ar, não comem carne. Respiram lucros; comem os juros sobre o dinheiro. Se não o obtiverem morrem do modo porque vocês morrem: sem ar e sem carne", As Vinhas da Ira, Cap. V, pág. 40

"Porque não vão para o Oeste, Para a Califórnia? Há lá muito trabalho e nunca faz frio. Ali, em qualquer parte, podem estender a mão e apanhar uma laranja. Ali há sempre uma ou outra plantação onde trabalhar. Porque não hão-de vocês de ir?", Cap. V, pág. 42



Dorothea Lange (1895 - 1965), fotógrafa e fotojornalista americana, ficou conhecida principalmente pelas fotografias que tirou na altura da Grande Depressão . As suas fotografias são hoje um dos documentos mais vívidos da Grande Depressão e ícones da cultura norte-americana.
Lange aprendeu a fotografar em Nova Iorque, com Clarance H. White, fotógrafo reconhecido pelas suas fotografias extremamente expressivas e emotivas. O método de ensino de White era o de motivar os seus alunos ao invés de se limitar a ensiná-los as técnicas e a estética fundamentais da fotografia.
Em 1920 casa-se com o pintor Maynard Dixon, o qual, durante a Grande Depressão, pintou uma série de quadros de realismo social sobre os desempregados e todos aqueles profundamente afectados pela Depressão. Em 1935 divorcia-se de Dixon e casa com o economista Paul Taylor, professor de economia na Universidade da Califórnia. É ele quem introduz a Lange temas políticos e sociais e juntos documentam a miséria rural e a exploração dos trabalhadores migrantes.
As fotografias de Dorothea Lange inspiraram Steinbeck (1902-1968) a escrever o seu mais famoso romance, As Vinhas da Ira, que usou também algumas imagens da fotógrafa como ilustrações no seu livro sobre os trabalhadores imigrantes, Their Blood Is Strong.
As Vinhas da Ira, escrito em 1939, tinha também a intenção de testemunhar o sofrimento vivido pelos trabalhadores migrantes, dar a conhecer à América os americanos "esquecidos".
O romance conta a história de uma família, a família Joad que, como muitas outras famílias americanas do Texas, Colorado, Oklahoma e Novo México, partiram para o Oeste à procura não só de um meio de subsistência mas também de um sonho, o sonho de uma vida melhor, deixando para trás as terras que, ou lhes foram retiradas pelos bancos ou, para aquelas que sobreviveram aos bancos, foram ceifadas pelas Dust Bowls ou Dust Storms, ficando estes anos conhecidos como os The Dirty Thirties.
A estrada que acima vos apresento, não é a Route 66 da família Joad, mas é uma das muitas estradas com destino para Oeste onde Lange esteve, acompanhou e testemunhou a odisseia destas famílias.

Bibliografia:

DURDEN, Mark, Dorothea Lange, Ed, Phaidon Press Incorporated, Janeiro 2001
PHILIPS, Sandra S., SHARKOVSKI, John, WEYMAN, Therese Thau, Dorothea Lange: American Photographs, Ed. Chronicle Books, San Francisco, EUA, 1994.
PARTRIGE, Elizabeth, Dorothea Lange: A Visual Life, Ed. Smithsonian Institution Press, 1994.
SPIRN, Anne Whiston, Daring To Look: Dorothea Lange's Photographs & Reports From The Fields, Ed. The University of Chicago Press, Chicago, EUA, 2008.

Sitiografia:

http://en.wikipedia.org/wiki/Dorothea_Lange
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Steinbeck
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/03/20/AR2009032001778.html
http://www.pinkmonkey.com/booknotes/monkeynotes/pmGrapes01.asp

Sara Sardinha
Nº 35176

9 comentários:

  1. Antes de mais, parabéns pelo trabalho.

    Bom, acho que a escolha desta foto de Dorothea Lange foi muito boa. Posso dizer que já há muito tempo que não via uma imagem tão longa, de perder a vista!!!

    Mesmo só vendo a imagem, a primeira coisa que me veio á ideia foi "viagem". Depois ao ler o texto de facto vi essa viagem feita pelos emigrantes.
    A foto é também sinal de sonho, de esperança, e é com o horizonte que se pode ver isso.

    Vemos apenas uma longa estrada, e o que está do outro lado? O que está depois disso?
    È o desejo de uma vida melhor, são sonhos e esperanças, são coisas que a família Joad procurava.

    Milene Cardoso n,º37912

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  2. relação entre fotografia e texto é próxima, partilham contexto e intenções histórico-políticas.
    fotografia: simplicidade formal (analise composição) e ambiguidade absoluta da representação do espaço como movimento sem destino (mistério)
    texto: excertos um pouco mais longos para se poderem analisar?
    nota: teria mais sentido ter citado em inglês do original.

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  3. Olá Sara,
    A Milene fala em sonho e esperança quando vê a fotografia. De facto, o segundo excerto do texto incentiva as pessoas a ir, a percorrer essa longa estrada sem fim que as guiará a uma vida melhor.
    Mas o primeiro excerto não me parece assim tão optimista quanto isso. Aliás, parece quase o oposto. Fala sobre a vida dos americanos que tiveram de sair das suas casas e das suas terras devido à impossibilidade de permanência nesses sítios, causada pelos capitalistas cegos pelo dinheiro. E apesar de todas as conveniências em mudar para o oeste, como refere o segundo excerto, é sempre difícil partir de um sítio ao qual se dá o nome de casa e caminhar para o desconhecido. Um desconhecido melhor é certo, mas longe de tudo aquilo que se conhece, tudo aquilo que é “amigo”. E a procura de um sonho pode muitas vezes não resultar da maneira pretendida. O sonho aqui entendido como o desejo de melhores condições de vida.
    Assim, a estrada será a dúvida, o medo, mas ao mesmo tempo a esperança. A esperança por uma vida melhor.

    Nicole Cotter nº35169, Artes do Espectáculo

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  4. Cheguei à conclusão que a estrada tem um significado muito importante e pode ser considerado um ícon americano.
    Pode ser símbolo de progesso como foi referido num trabalho anterior, mas como também é visível no texto relacionado pode simbolizar um meio para atingir um fim - o meio utilizado por imigrantes e migrantes para chegarem ao seu destino, a uma terra prometida!

    Não conheço o livro mas parece-me uma óptima sugestão de leitura. Espero em breve poder lê-lo.

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  5. "As vinhas da ira" é sem dúvida um romance impressionante e a estrada é fundamental para o desenrolar da história. A estrada têm também muita importancia como símbolo de possíbilidades, de novos horizontes, de liberdade e de novo começo. Durante a depressão imagino que a estrada tenha sido o último recurso a derradeira esperança para muitas pessoas totalmente depauperadas em resultado da Depressão. Hoje em dia estamos a assistir novamente à repetição das histórias da depressão e a simbologia da estrada como oportunidade de mudança e procura de novas possibilidades pode estar a voltar ao imaginário das sociedades.

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  6. Sara:
    Aproveite o lapso temporal até à apresentação oral para seguir minhas sugestões iniciais. Texto citado em inglês, com excerto(s) mais longo(s) para poder fazer análise!

    Comentários pertinentes sobre importância simbólica da estrada, aplicáveis tb à imagem de Ansel Adams.

    Diana

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  7. Olhar para uma longa estrada vazia é sentir em nós mesmos esse vazio (infinito). Ao longe, o horizonte, uma linha ténue que não existe mas que é a nossa esperança.
    O que experienciaram os migrantes durante essa viagem? Uma série de sentimentos opostos, certamente... o medo, a coragem, o receio, a esperança.
    O vazio que a fotgrafia expressa - que é o da viagem - traduz-se no vazio em que os migrantes se transformam: viajar para terras desconhecidas sinifica perder um pouco de nós próprios, parte da nossa identidade ja que deixar a nossa terra-natal é abandonar raízes, pequenas grandes coisas que construímos ao longo do tempo. É a nossa casa.
    O segundo excerto problematiza a questão das necessidades básicas: «Porque não vão para o Oeste, Para a Califórnia? Há lá muito trabalho e nunca faz frio.» Partir para sobreviver. O problema não é viver mas sobreviver.

    Afinal, em que consiste felicidade?

    - Sarita, aconselho-te a colocar mais alguns excertos para aprofundares melhor o tema. Um abraço e bom trabalho!

    Sara Santana

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  8. Sara Sardinha: Qt a sugestão de sua colega, julgo que seria talvez melhor aumentar tamanho dos excertos para podermos compreender melhor seu contexto e fazer uma análise aprofundada. Já que terá de os procurar em inglês, pode fazer esse trabalho.
    Diana

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  9. Olá colegas! Antes de mais peço imensas desculpas pelo atraso na resposta aos vossos comentários.
    Obrigado Professora Diana, Sara Santana, Milene, Ana Cláudia e Nicole Cotter!
    A demora da minha resposta deve-se ao facto de que não possuo ligação à internet em casa e ando muito ocupada com o estágio que me tem tomado grande parte do tempo.
    No que respeita ao texto, vou colocar em breve os mesmos excertos que apresentei em inglês. Não irei colocar mais excertos, compreendo, Sara e Diana, a vosa necessidade de entender melhor a ligação excertos-imagem mas prometo ser bem clara aquando da apresentação. O meu objectivo no blog foi o de suscitar discussão, e não quis interferir nisso com excertos que poderiam fazer uma leitura óbvia e tendenciosa da imagem, tirando-vos a liberdade de a verem como vos entender.
    Na minha apresentação vou levar mais algum material que vai ajudar nessa leitura e, espero eu, faça aquecer a discussão.
    Peço mais uma vez desculpem-me por não ter sido tão célere como desejava e agradeço mais uma vez os vossos comentários que também me têm ajudado imenso a "desenhar" o meu trabalho. Estou muito contente, os comentários problematizarem precisamente aquilo que eu queria.
    Um bom resto de semana.
    Sara S.

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