sexta-feira, 25 de maio de 2018

'Enjoy Poverty (Please!)'

Renzo Martens (1973-) é o cineasta holandês que realizou um documentário na República do Congo intitulado "Episode IIIEnjoy Poverty" (2008). Neste registo de 90 minutos, Martens critica a presença dos media no país e o facto de as imagens da pobreza serem as exportações mais lucrativas do Congo. 
estratégia que Martens utiliza para veicular uma crítica através da sua obra é a subversão. Fá-lo instruindo os fotógrafos locais a fotografar a sua própria comunidade empobrecida e a ganhar dinheiro com isso, tal como os fotógrafos ocidentais são pagos por trabalhos em África. Para além disto, instala uma placa de neon que diz “Enjoy Poverty” como uma diretriz para os congoleses tirarem proveito da própria situação para ganharem dinheiro. O documentário vai alternando imagens recolhidas por Martens, com footage de campos de refugiados (focando o logotipo da UNICEF) e de cadáveres.
O filme recebeu críticas contraditórias ao ser exibido na 6ª Bienal de Berlin, na Tate Modern (Londres), no Stedelijk Museum Bureau (Amesterdão), no Centre Pompidou (Paris) e na Careof (Milão), tendo sido acusado de perpetuar o problema que se propôs criticar. 
Em entrevista, Martens revelou-se ansioso por poder realizar um novo projeto em África, sublinhando as suas intenções ativistas: “Well, for the workers living on the plantation the artistic quality that Episode III proposes may have been of little interest. They may well prefer a worse piece of art, if only it would bring food to the table. So I am planning to do that: bring food to the table”.
Sem me alongar mais, gostaria de vos deixar algumas perguntas para vos ajudar a refletir sobre o caso exposto e desafiar-vos a comentarem o post com as vossas respostas.
1- De um ponto de vista ético e moral, concordam com o que Renzo Martens fez?
2- Tendo em conta a atribuição dos créditos e lucros do documentário, acham que houve algum benefício para os congoleses?
3- Será possível interpretar a intervenção deste cineasta europeu em África como uma vertente de neocolonialismo artístico?



Assim como a minha colega Rafaela Ramos de Faria fez no post Série Infra, Richard Mosse, gostaria de dedicar este meu post ao nosso Professor Carlos Garrido Castellano que lecionou a unidade curricular Introdução às Artes Africanas (2017/2018). 

Fontes

Teresa Maia, nº147188

1 comentário:

  1. Impressionante o trailer, com o seu tom provocatório e paródico, mas, em simultâneo, profundamente tocante pela singeleza com que as pessoas retratadas pedem ajuda aos cidadãos ricos do mundo, i.e., a nós. Não conseguindo responder cabalmente às questões levantadas pela Teresa, parece-me estarmos aqui diante do maior dilema moral do Ocidente, a ignorância propositada face às condições de profunda desigualdade que marcam o mundo contemporâneo e a acusação de oportunismo daqueles que, apesar de tudo, dão a ver esse gigantesco continente invisível, a África.

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