Edward Hopper (1882-1967)
Nighthawks, 1942 Óleo sobre tela, 84.1 x 152.4 cm
Art Institute of Chicago Building, Chicago
|
"But I've always kinda
Been partial to calling
Myself up on the phone and asking
Myself up on the phone and asking
Myself out, you know?
Oh yeah, you call yourself up too huh?
Yeah, well only one thing
Oh yeah, you call yourself up too huh?
Yeah, well only one thing
About it, you're always around
Yeah I know, yeah you know”
Yeah I know, yeah you know”
Tom Waits, Nighthawks at the Diner (1975)
Edward Hopper (1882-1967), natural de Nova Iorque, foi um pintor realista que refletiu sobre a solidão da vida moderna estado-unidense. O seu interesse por arquitetura, evidente nas suas pinturas, revelou-se precocemente, chegando este a equacionar seguir uma carreira em arquitetura naval. Hopper frequentou a New York School of Art onde, através de Robert Henri (1865-1929), figura preponderante na Ashcan School, contactou com a obra de artistas impressionistas, tais como Edgar Degas (1834-1917) e Édouard Manet (1832-1883).
O legado artístico de Hopper é marcado por uma particular atenção ao traçado geométrico, especialmente visível no tratamento dos elementos arquitetónicos. Em Nighthawks (1942) esta caraterística encontra-se salientada pela modelação da cor plana, criando uma superfície pictórica sem grandes acidentes. A concentração da ação no lado direito decorre da confluência das linhas da perspetiva, dadas essencialmente pelos elementos arquitetónicos. A sintetização de elementos pictóricos leva o espetador ao escrutínio da ação que decorre no bar. A luminosidade dessa zona cria um contraste com a aridez e a penumbra do exterior, gerando uma dualidade interior/exterior. Esta estratégia posiciona-nos como voyeures, posição acentuada pela dimensão da pintura (84,1x152,4 cm) e pelo facto de não haver reflexos no vidro mais extenso do café (que se inicia do lado direito da pintura), o que convida à intrusão do observador na cena.
Quanto às pessoas representadas, o mais digno de nota será a ausência de interação entre elas. De facto, os olhos baixos e as posições corporais das quatro figuras não sugerem convívio, mas sim a solidão e a melancolia do citadino. A ruas despidas e sombrias sublinham o recolhimento introspetivo dos clientes reunidos no bar.
O disco de Tom Waits (1949-), Nighthawks at the Diner (1975), foi inspirado na obra de Hopper acima considerada, com a qual partilha o título. Para estabelecer uma relação intertextual focámo-nos na música “Intro to ‘Better of Without a Wife’”, onde nos deparamos com um sujeito introspetivo e delirante, que reflete sobre a sua vida sob o efeito de uma embriaguez marcada por um sentimento de solidão e isolamento. A partir do verso “Oh yeah, you call yourself up too huh?” é-nos sugerido que, tal como no quadro de Edward Hopper, a solidão é, por extensão, de todos nós, habitantes do mundo contemporâneo.
Sugestões de visualização
- Dahl, J; Fisk, J; Rudolph, A. The influence of Edward Hopper on the cinema. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=52lzwXmJrYI Acedido a 19 de Fevereiro de 2018;
- Deutsch, G. Shirley: Visions of Reality Official Trailer (2014). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rcQ4JKxxukY Acedido a 18 de Fevereiro de 2018;
- Egan, B. Nighthawks by Edward Hopper. Disponível em: http://www.popspotsnyc.com/nighthawks/ Acedido a 18 de Fevereiro de 2018.
Referências webgráficas
- Curadores de "The Art Story: Modern Art Insight". Edward Hopper. Disponível em: http://www.theartstory.org/artist-hopper-edward.htm Acedido a 16 de Fevereiro de 2018;
- Curadores de "The Art Institute of Chicago". Nighthawks. Disponível em: http://www.artic.edu/aic/collections/artwork/111628 Acedido a 16 de Fevereiro de 2018;
- Curadores de "The Art Institute of Chicago". Nighthawks. Disponível em: https://lakeimagesweb.artic.edu/iiif/2/39d43108-e690-2705-67e2-a16dc28b8c7f/full/!800,800/0/default.jpg Acedido a 17 de Fevereiro de 2018
- Waits, T. Intro to ‘Better of Without a Wife. Disponível em: https://genius.com/Tom-waits-intro-to-better-off-without-a-wife-lyrics Acedido a 18 de Fevereiro de 2018;
- Tom Waits, “Intro to ‘Better of Without a Wife’”: https://www.youtube.com/watch?v=rU-sCw1xnLU
Lily Kingston Chadwick - nº145710
Maria Madalena Vieira - nº50106
Teresa Maia - nº147188
Maria Madalena Vieira - nº50106
Teresa Maia - nº147188
Ao ler as vossas linhas de leitura e a observar os videos que propuseram, vi, entre dos vários que falam do artista, este video sobre a obra (https://www.youtube.com/watch?v=7j5pUtRcNX4 - não sei se têm conhecimento dele), que dá uma visão um pouco mais optimista sobre a peça. A solidão é uma característica do Edward Hopper e quando pinta a noite, representa uma altura do dia em que nos tornamos mais vulneráveis à solidão. Mas, também, o quadro tem a presença de uma luz forte, pode ser algum sinal de optimismo no meio da solidão.
ResponderEliminarRafaela Faria nº 147497
Antes de mais pedimos desculpa pelo atraso com que respondemos ao teu comentário! Obrigada também pela recomendação do vídeo (do qual confessamos não ter tido conhecimento antes), que faz aliás, uma exploração belíssima do quadro de Hopper. Tal como creio ter falado durante a nossa apresentação, longe de ser um conceito unidimensional, a "solidão" poderá igualmente remeter para um isolamento indesejado, como para um estado de convivência com o próprio que nos ancore (positivamente)no mundo. Em relação à obra de Hopper, e referenciando a interpretação exposta no vídeo, eu (Lily) tenderia a concordar com a mesma. Nunca saberêmos, no entanto, se no seu (pelo menos superficial) destacamento das preocupações predominantes na altura (e manifeste na sua recusa de desligar as luzes do seu estúdio), que tipo de solidão terá predominado em Hopper - ou, que tipo de solidão terá transposto para "Nighthawks".
EliminarDeixo ainda, o link para um artigo que achei curioso e que acentua a diferença entre "solitude" - a vertente tendencialmente "positiva" - e "loneliness" - usualmente tida como "negativa": https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2018/apr/28/how-to-be-alone-having-things-do
Lily Kingston Chadwick - nº145710
Maria Madalena Vieira - nº50106
Teresa Maia - nº147188
O facto de esta obra de Hopper se ter tornado icónica, dando lugar a várias releituras na cultura popular dos EUA (como está patente num post anterior do nosso blogue) demonstrará também a ressonância do tema da solidão na psique coletiva contemporânea. Volto a indicar o conto "A Clean, Well-Lighted Place", do E. Hemingway, como uma leitura "idêntica" do espaço do café.
ResponderEliminarObrigada, desde já, pela sua resposta! Tendo lido agora "A Clean, Well-Lighted Place", não pudémos deixar de fazer o nosso pensamento retornar à intervenção da Rafaela, refletindo agora sobre o que poderá separar "solitude" de "loneliness". Isto é, em que medida será o ambiente determinante na formação de pensamentos na nossa - como também das personagens do quadro de Hopper - solidão. Parece-nos que, seguindo a linha de pensamento transposta no conto de Hemingway, será a companhia dos restantes três indivíduos que poderá fazer que a experiência de cada um dos indivíduos em "Nighthawks" não translade para uma de "loneliness", permanecendo em vez num momento de reflexividade não negativo.
EliminarLily Kingston Chadwick - nº145710
Maria Madalena Vieira - nº50106
Teresa Maia - nº147188