Gostaria de vos apresentar a artista Milo Moiré, que nasceu na Suíça, em 1983, e faz performances abordando vários temas, tal como a sexualidade feminina, a nudez na sociedade, a corporalidade e o conceito de autenticação das obras de arte. Como performer, a artista explora estes temas usando o seu corpo, que, integrado na acção, passa a fazer parte da própria obra.
Moiré reclama diversas influências, tais como:
-
Paul McCarthy, músico e performer, que também realizou escultura e filme;
-Marina
Abramović, performer que explora a relação entre a arte e o espetador e os limites da mente/corpo;
- Maria Lassnig, pintora que explora a consciência do corpo;
-Edvard
Munch, um dos precursores do Expressionismo alemão, famoso pela pintura O grito (1893)
-H.R. Giger, pintor e escultor surrealista.
Eis um vídeo de uma das suas performances, realizada frente a uma feira de arte em Berlim, e da qual resulta uma pintura. Nua, em cima de uma plataforma montada sobre uma tela, Moiré lança da vagina ovos de tinta que criam uma composição aleatória; no final, a artista dobra a tela ao meio, aludindo ao teste Rorschach. É de sublinhar que a performer estudou Psicologia e esta obra parece ter influência direta da sua formação académica. Por outro lado, a artista está a ser "mãe" da sua
arte, dando-a "à luz". O sentimento de maternidade é comum a vários artistas que consideram o seu trabalho como algo marcado pelo seu ADN.
A artista explora a sexualidade feminina, como vimos no vídeo acima apresentado, e, de um modo mais explícito, a nudez, em Mirror Box. Nesta performance, Milo Moiré anda na rua com parte do corpo coberto por uma caixa espelhada que divide os espaços privado e público. Por dentro, a caixa releva parte do seu corpo nu; por fora, reflecte a sociedade que olha. O público pode mesmo, com autorização explícita da artista, tocar o seu corpo. Nas palavras de Moiré: “I am standing here today for women’s rights and sexual self-determination. Women have a sexuality, just like men have one. However, women decide for themselves when and how they want to be touched and when they don’t”.
Assim, esta performance tem o objectivo de combater o pudor, defendendo a igualdade de género em termos de exposição do corpo no espaço público, combatendo também os abusos sexuais. Ou seja, a artista problematiza o papel da mulher, argumentando que esta deve deixar de ser caracterizada como "vítima" e como "objecto de desejo". Vemos uma humanização da figura feminina, que passa a ter um papel ativo, enquanto alguém capaz de tomar decisões e, portanto, de ter uma voz. Assistimos ainda a uma inversão de papéis entre o objecto de arte e o observador, através do jogo estabelecido pela caixa espelhada.
Assim, esta performance tem o objectivo de combater o pudor, defendendo a igualdade de género em termos de exposição do corpo no espaço público, combatendo também os abusos sexuais. Ou seja, a artista problematiza o papel da mulher, argumentando que esta deve deixar de ser caracterizada como "vítima" e como "objecto de desejo". Vemos uma humanização da figura feminina, que passa a ter um papel ativo, enquanto alguém capaz de tomar decisões e, portanto, de ter uma voz. Assistimos ainda a uma inversão de papéis entre o objecto de arte e o observador, através do jogo estabelecido pela caixa espelhada.
A atitude provocadora e activista da artista sublinha a proximidade entre objecto/observador no decorrer da experiência estética e também a diferença entre nudez e perversão/obscenidade. Podemos, pois, levantar questões como:
- Qual a diferença entre o nu em quadros clássicos e a nudez de uma mulher na via pública?
Uma outra performance da artista denomina-se The Script System e nela Moiré circula nua pelo espaço urbano, tendo inscritos na pele os nomes das peças de vestuário que usaria naquele dia. Assim, o sentido do vestuário é reduzido a signos linguísticos.
As
opiniões dividem-se quanto à sua arte, sobre a qual se levantam diversas questões:
- Quem pode definir o que é arte?
- Qual o papel do mercado na definição da arte?
Ao longo deste post fui deixando questões em aberto, caso interesse a algum colega/o intervir.
Bibliografia:
Cordulack, Shelley Wood. 2002. Edvard Munch and the Physiology of Symbolism. Fairleigh Dickinson University Press.
Richards, Mary. 2009. Marina Abramovic. Routledge.
Cauquelin, Anne. 2005. Arte Contemporânea - Uma Introdução. Martins.
Jéssica Oliveira, 145636
Grata pela partilha desta interessante e provocadora abordagem que levanta uma série de questões pertinentes na sociedade contemporânea, na senda de uma série de mulheres performers que usam o corpo como meio de alertar para os paradoxos sexistas que, infelizmente, ainda nos regem.
ResponderEliminarO seu blog foi o que melhor explicou o objetivo da arte de Milo Moiré. Obrigada por compartilhar conosco.
ResponderEliminar