sábado, 7 de novembro de 2015

Mark Rothko e Nathanile Hawthorne


Mark Rothko, No. 61 (Rust and Blue) [Brown Blue, Brown on Blue], 1953   
The Museum of Contemporary Art, Los Angeles


"The Ocean", Nathaniel Hawthorne

The Ocean has its silent caves,
Deep, quiet, and alone;
Though there be fury on the waves,
Beneath them there is none.
The awful spirits of the deep
Hold their communion there;
And there are those for whom we weep,
The young, the bright, the fair.

Calmly the wearied seamen rest
Beneath their own blue sea.
The ocean solitudes are blest,
For there is purity.
The earth has guilt, the earth has care,
Unquiet are its graves;
But peaceful sleep is ever there,
Beneath the dark blue waves.

The Mariner's Library or Voyager's Companion (1833)


Mark Rothko (1903-1970) foi um pintor russo de ascendência judaica que viveu a maior parte da sua vida nos E.U.A. Esteve a maior parte da sua vida associado ao movimento do  “Expressionismo Abstracto” e, dentro deste, ao “Color Field Painting”, apesar de o artista não se identificar com estas etiquetas.
A sua época mais prolífera abrange desde o final da década de 1940 até à sua morte em 1970, com as famosas “multiform paintings”. Estas pinturas de óleo sobre tela são ricas em cores e têm normalmente formas rectangulares horizontais. São chamadas “organismos vivos” por Rothko devido às suas supostas componentes espirituais e transcendentais. Os quadros eram (e são) mais vistos como experiências emocionais e meditativas do que num sentido técnico, decorativo ou formalista. São pinturas que funcionam como entradas para mundos com vida própria e particularidades trans-dimensionais. Várias das técnicas usadas para gerar este tipo de efeitos nos espectadores advêm do “Color Field Painting”: sobreposição de cores (que consequentemente sugerem múltiplas formas) e a fluidez e relação entre estas. Outros artistas (como Clyfford Still ou Barnett Newman) também adoptaram este estilo, mas nenhum chegou ao nível excepcional de Rothko.
A tendência ao isolamento acentuou-se nos seus últimos anos de vida, em que transpareceu na sua obra uma crescente melancolia, a partir dos seus cada vez mais trágicos “Dark Paintings”. Efectivamente, o artista acabaria por se suicidar em 1970.
A sua influência é imensa no mundo da arte ainda hoje em dia, sendo considerado um dos maiores e melhores pintores americanos do pós-guerra.

Nathaniel Hawthorne (1804-1864) foi um escritor estado-unidense mais conhecido por estar ligado ao movimento literário conhecido como “Dark Romanticism”.
Escreveu alguns romances, entres eles The Scarlet Letter, muitos contos, e poucos poemas. Henry James e Herman Melville estão entre os seus apreciadores, sendo que o ultimo lhe dedicou Moby Dick.

Relação entre os dois textos
A primeira sensação que tive ao ver o quadro foi a de um oceano imenso. As cores estão todas interligadas, definindo-se mutuamente, dando fluidez e movimento à pintura. As cores são inúmeras mas as mais evidentes são o vermelho-acastanhado escuro em cima (secção maior da pintura), o azul claro no meio (secção menor) e cinzento-azulado em baixo. O quadro está também delimitado por uma linha azul escura circundante. Todas estas características dão ao espectador uma sensação de imersão, mergulho e meditação.  A reflexão sobre a posição relativa das cores serviu para fortalecer a minha primeira impressão — o quadro evoca o mar/oceano.
O vermelho acastanhado faz lembrar uma violência/destruição profunda. Barulho e confusão estão ligados ao sangue e a emoções fortes nesta cor, algo que me recorda ondas e tempestade.
O azul claro da faixa do meio é a cor mais luminosa da pintura e talvez a menos sensacionalista. Considerando o quadro como um todo, esta contraste com as outras duas cores e pode compensar o tom melancólico prevalecente. Esta faixa de cor pode evocar o reflexo do mar, a superfície do oceano.
O cinzento-azulado remete para o fundo do mar e a sua pureza. O silêncio reina neste mundo de mistérios e cavernas submersas sem fim. É aqui que está a base de todo o oceano, é aqui que está a origem. Tudo o resto se deixa influenciar por esta cor.
Considerando a pintura como um todo, não deixo de reiterar que isto é um organismo vivo que nos quer puxar para dentro dele para viver no seu mundo. Tal como um oceano nos engole se nos aproximarmos, esta pintura exige a nossa atenção quando a vemos.

O poema aborda todos estes temas respectivamente:
“Though there be fury on the waves.."
“The earth has guilt, the earth has care,
Unquiet are its graves---“

Estas passagens fazem parte do humano e das emoções fortes, tal como as ondas e as tempestades num oceano vermelho-acastanhado.

“The Ocean has its silent caves,
Deep, quiet, and alone”….
“The ocean solitudes are blest,
For there is purity”….

Estes versos evocam o fundo do mar, o seu mistério.
Tanto o leitor do poema como o espectador do quadro são convidados a uma experiência de interioridade, através da imagem do mergulho no oceano.

Bibliografia

James E. B. Breslin, Mark Rothko A Biography.





Lourenço Motta Veiga,  Nº51037



1 comentário:

  1. Gostaria de ver aprofundada a questão espiritual em Rothko e a possível relação com o contexto do romantismo estado-unidense, em particular no modo como o fundo do oceano é aqui representado como um espaço de almas (atormentadas em repouso?). Também a questão do movimento poderá ser interessante para aprofundar o diálogo entre os dois textos.

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