quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Jacob Riis e Judith Ortiz Cof

Jacob Riss, Organized Charity. Sweeping back the ocean. A girl on a beach with a broom, "sweeping" the surf. c. 1890.

Jacob August Riis (May 3, 1849 – May 26, 1914) Ribe, 1849-Barre, 1914) Fotógrafo norte-americano de origem dinamarquesa. Trabalhou como repórter de New York Tribune e Evening Sun. Pioneiro de fotografia sócio-documental. Famoso pelos seus trabalhos sobre os slums de Nova Iorque e sobre o trabalho infantil. Riss foi o primeiro fotógrafo a adaptar o flash para o uso no interior dos edifícios. Em 1889, publicou o livro com os seus trabalhos How the Other Half Lives inteiramente dedicado a camadas mais pobres da cidade.


"The Other"
A sloe-eyed dark woman shadows me.
In the morning she sings
Spanish love songs in a high
falsetto, filling my shower stall
with echoes.
She is by my side
in front of the mirror as I slip
into my tailored skirt and she
into her red cotton dress.
she shakes out her black mane as I
run a comb through my closely cropped cap.
Her mouth is like a red bull's eye
daring me.
Everywhere I go I must
make room for her; she crowds me
in elevators where others wonder
at all the space I need.
At night her weight tips my bed, and
it is her wild dreams that run rampant
through my head exhausting me. Her heartbeats,
like dozens of spiders carrying the poison
of her restlessness,
drag their countless legs
over my bare flesh.
Judith Ortiz Cofer
From Here is My Kingdom, edited by Charles Sullivan. New York: Harry N. Abrams, 1994.

Judith Ortiz Cofer (24 de Fevereiro de 1952) é uma escritora e poetisa norte-americana de origem porto-riquenha. O principal foco dos seus trabalhos reside na exploração do processo de assimilação entre a comunidade hispânica e a cultura norte-americana. 

Relação entre o poema e a obra
«Eu estou entre dois mundos que não se compreendem e nem sequer são capazes de se ouvir um ao outro. Criar pontes entre estes dois mundos é uma tarefa de Sísifo.»  
Anim Maalouf
Dedico esta carta ao “outro” que vive dentro de mim, e que me tem acompanhado desde sempre.
Não sei ao certo quando é que me deparei com a tua figura, nem me lembro se estranhei a tua presença. Sabia apenas que vivias dentro de mim, como uma espécie de magia negra, sombra que outrora ocupava o meu lugar.
 Tu sorrias e cuidadosamente tecias o meu mundo. O mundo composto por fragmentos que jamais ganharão uma forma. O teu silêncio deixa-me confortável, é como se tu estivesses para além do tempo no sossego da escuridão. Convivemos numa misteriosa relação condenada à eterna coexistência com o desconhecido. Tu que és eu, e eu que sou tu, de onde vens, onde nasceste, a tua língua é a língua dos “outros”? Se os “outros” sou eu, então de onde vens tu? A língua tua tão distante que quase me é desconhecida...
As pessoas têm dois nascimentos, o dia em que a pessoa nasce fisicamente, e o dia em qua ganha a consciência. O segundo marca o início de um indivíduo e a sua relação com o Mundo. Mas o que é a consciência, de que é composta? Será que é uma vertente da identidade pessoal ou apenas a concepção das coisas que nos rodeiam? Vivemos num mundo cada vez mais global, mas o problema da identidade permanece estável na sociedade pela incrível influência que tem sobre as culturas e mentalidades. 

Bibliografia
Maalouf, Amin  
 2009    As Identidades Assassinas. Sociedade em Debate. Lisboa: Difel
ORVELL, Miles
2003    American Photography. New York: Oxford UP
POHL, Francis K. FramingAmerica: A Social History of American Art.
2012     New York: Thames & Hudson.
SULLIVAN, Charles
1994    Here is My Kingdom. New York: Harry N. Abrams.
Sites consultados 
http://collections.mcny.org/Collection/Organized-Charity.-Sweeping-back-the-ocean.-2F3XC582X3YU.html
http://www.poetryfoundation.org/bio/judith-ortiz-cofer
http://quod.lib.umich.edu/p/postid/pid9999.0003.104/--ethnicity-feminism-and-semantic-shifts-in-the-work-of-judith?rgn=main;view=fulltext
Darya Plemeshova nº8961

3 comentários:

  1. Antes de mais, parabéns por este teaser! Fiquei muito intrigada e curiosa para ouvir a tua apresentação :)

    Também achei interessante a ponte intertextual que estabeleces: olhando para a foto, fiquei realmente com a sensação de que a figura está dividida entre o mundo terreno (representado pela areia) e o mundo mítico (representado pela água). A vassoura que a figura tem na mão recorda-me um remo e enfatiza essa divisão entre mundos: como se o mundo terreno contivesse todos os males, e a figura estivesse a remar freneticamente em direcção ao mundo mítico, idílico.

    Também considerei o poema muito interessante, pois também enfatiza essa divisão de mundos: o "mundo exterior" que é aquilo que mostramos aos outros, e o "mundo interior" que são os sentimentos e pensamentos que não nos atrevemos a contar, muitas vezes, nem à nossa própria sombra. A última parte do poema, em especial, ("Her heartbeats / like dozens of spiders carrying the poison / of her restlessness, / drag their countless legs / over my bare flesh") transmitiu-me esse lado sombrio que, às vezes, nos esforçamos por manter dentro de nós.
    Também associei este poema à bipolaridade, uma vez que temos duas figuras com personalidades diferentes. A "outra" parece-me ser a mais dominante nesta luta interior.

    Mais uma vez, parabéns pelo trabalho deveras interessante!
    (Chamo só a atenção para a origem da poeta; ela é "porto-riquenha".)

    Patrícia Silva, nº41166

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  2. Muito interessante a imagem de Riis, que, mais do que documental, parece, de facto, apontar para um universo feérico, conducente a uma leitura sobretudo simbólica. Leio o poema não só como a representação do drama psicológico da separação interna, mas também como referência à experiência vivencial de uma sociedade multicultural, onde o convívio com diferentes modos de estar nos confronta com as nossas próprias escolhas quotidianas. Gostei tanto do seu texto-carta! Estou muito curiosa por ver a sua apresentação, sim.

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  3. Muito obrigada pelo feedback e a dica sobre o erro. Sim de facto esta obra do Riis tem perenções para além da fotografia documental . A minha leitura destas obras faz o paralelismo com o mito de Sísifo. A luta sem sentido com a força irresistível.

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