segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Eric Fischl & Joyce Carol Oates


  Eric Fischl, New House 1982

 Oil on Canvas
 68 x 96 inches (173 x 244 cm)
 From "Early Paintings, 1979-1983".

"two insomniacs"

if one rises to stare out a window
the other feels the tugging, the draft of air
if one shuts his eyes
the other feels the leap of half-vision
that does not take hold

between them a few miles
the chopped-up ridges of a city
others' dreams that whine
like nighttime sirens

this is what they wanted
this is what the legends promised them
and if one telephones the other, the ringing
will anger the night and then subside
to nothing: they will both listen then to nothing
because this is what they wanted
and this is what they got

Joyce Carol Oates



Eric Fischl (1948-) é um pintor, escultor e gravurista estaduniense. A sua infância no meio suburbano de Long Island vem influenciar todo o seu trabalho, servindo como combustível para a revolta que sentia perante o ambiente fútil em que cresceu, onde reinava a restrição das emoções e a vontade de fazer transparecer uma imagem socialmente aceitável. 
Casado com a pintora paisagista April Gornik, Fischl trabalha atualmente como crítico na New York Academy of Art, continuando também a criar.



Joyce Carol Oates (1938-) é uma escritora oriunda de Nova Iorque. O seu trabalho passa por obras de prosa como romances, short stories, ensaios e criticas literárias, bem como poesia e dramaturgia. Premiada com o National Book Award em 1970, e nomeada para o Prémio Pulitzer em diversas ocasiões, Joyce hoje ensina na Universidade de Princeton, desde 1978.



A relação entre o poema e a obra estabelece-se através de uma narrativa (implícita no texto visual) comum. Estamos diante de uma relação humana interrompida pela distância, sendo a separação física entre dois seres restabelecida através do telefone, que introduz uma ligação e reimplanta o conceito de comunicação.
Tanto o poema como a obra apresentam um caráter direto, no sentido em que não resta muito espaço para ambiguidades, e incitam no público uma vontade de se relacionar com o que observa.

Bruna Duarte


Is this art ?

Boas !
Deixo aqui a gravação de uma peça realizada em 1998 com a participação de António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme. Assiste-se à conversa entre três amigos sobre um quadro, "uma tela branca, o fundo é branco, e, se fecharmos ligeiramente os olhos vemos umas riscas brancas transversais."

No que toca a arte contemporânea, que se afasta por norma dos valores tradicionais da arte, ouvimos muitas vezes frases como : "isto é arte?" /" até eu conseguia fazer isto" / "parece algo feito por uma criança"... Nesta peça, levantam-se questões sobre a institucionalização da arte, os critérios de valorização de um objecto artístico e, acima de tudo, o olhar de cada individuo na análise de uma obra — a capacidade crítica em relação à arte contemporânea.



Enjoy !
Ana Palhão

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Duchamp comentado

Museu Coleção Berardo
grátis *

sábado, 28 novembro, 16h00
David Santos, curador e crítico de arte,
fala sobre Le Porte-bouteilles (1914), de Marcel Duchamp
marcações aqui

  
 imagem aqui

James Turell & Rainer Maria Rilke




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James Turrell (1943-) is an American artist primarily concerned with light and space, known for his work in progress, Roden Crater — a natural cinder cone crater (Arizona) that he is turning into a massive naked-eye observatory. He has also worked as a pilot with over twelve thousand hours flying; maybe, that is why he considers the sky as his studio, material and canvas. New Yorker critic Calvin Tompkins writes, “His work is not about light, or a record of light; it is light — the physical presence of light made manifest in sensory form.”

Fargo, Blue, 1967

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Rainer Maria Rilke (1875-1926) was a Bohemian-Austrian poet and novelist, widely recognized as one of the most lyrically intense German-language poets. Several critics have described Rilke's work as inherently "mystical." His writings include one novel, several collections of poetry, and several volumes of correspondence in which he invokes haunting images that focus on the difficulty of communion with the ineffable in an age of disbelief, solitude, and profound anxiety. These deeply existential themes tend to position him as a transitional figure between the traditional and the modernist writers.



"You, darkness, that I come from"

You, darkness, that I come from
I love you more than all the fires
that fence in the world, 
for the fire makes a circle of light for everyone
and then no one outside learns of you. 

But the darkness pulls in everything
shapes and fires, animals and myself, 
how easily it gathers them!
powers and people-

and it is possible a great presence is moving near me. 
I have faith in nights. 
...

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Connection between the two works of art

Both authors are fascinated by the contrast (and by the coexistence) of darkness and light, by this mystery that brings the unique experience of transcendence. One is therefore invited to step out of his/her comfort zone to enter the darkness, in order to get to know him/herself better. As human beings, we are naturally scared of dark, of the unknown. To face darkness means to suspend for a moment our effort to control everything around us, to gain a new knowledge and to gain an experience that might make our perception of the world different.

Patrícia Proksová


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Bruce Nauman e Walt Whitman


                                              Bruce Nauman One Hundred Live and Die (1984)                                                                            Naoshima Contemporary Art Museum

                                                             
Bruce Nauman

        É um dos artistas mais versáteis dos EUA. Começou a sua carreira nos anos 1960 e desde então tem vindo a misturar Minimalismo, Conceptualismo, performance e vídeo nas suas obras. Concentra-se no comportamento das pessoas como ponto de partida para a criação, a partir de sessões de pesquisa e momentos de reflexão, tendo em conta os seus interesses políticos e éticos. Daqui resulta a criação de uma obra que pretende servir como espelho, refletindo o individual e, mais tarde, o plural (o público).



Song of Myself, Walt Whitman



          Have you practiced so long to learn to read?
          Have you felt so proud to get at the meaning of poems?

          Stop this day and night with me and you shall possess the origin of all poems,
          You shall possess the good of the earth and sun, (there are millions of suns left,)
          You shall no longer take things at second or third hand, nor look through the eyes of the dead, nor feed on the specters in books,
          You shall not look through my eyes either, nor take things from me,
          You shall listen to all sides and filter them from yourself.


    Relação obra/poema
      A obra de Nauman One Hundred Live and Die apresenta-nos cem propostas de vida, todas com o mesmo fim. O contraste entre a vida e morte é assim explorado num cenário pouco habitual. Através do jogo de luzes néon aliadas ao texto é criada uma tensão entre o espaço físico em que se encontra a obra e o psicológico, o que resulta na impossibilidade de o espetador ficar indiferente, pois ele próprio é também criador da obra. Com base nesta última ideia, poderá ser mais fácil a compreensão de Whitman e a sua maneira de ver o corpo, convidando-nos a encontrar a origem da criação — “Stop this day and night with me and you shall possess the origin  of all poems”.
                                                                                                                                          Maria Rocha

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Edward Kienholz & Charles Bukowski

Edward Kienholz, The Beanery, 1965

 © Nancy Reddin Kienholz/Stedelijk Museum Amsterdam

"A bar is a sad place, a place full of strangers who are killing time, postponing the idea that they're going to die." Ed Kienholz

"My Vanishing Act"

when I got sick of the bar
and I sometimes did
I had a place to go:
it was a tall field of grass
an abandoned
graveyard.
I didn't consider this to be a
morbid pastime.
it just seemed to be the best
place to be.
it offered a generous cure to
the vicious hangover.
through the grass I could see
the stones,
many were tilted
at strange angles
against gravity
as though they must
fall
but I never saw one
fall
although there were many of those
in the yard.
it was cool and dark
with a breeze
and I often slept
there.
I was never
bothered.

each time I returned to the bar
after an absence
it was always the same with
them:
"where the hell you
been? we thought you
died!"

I was their bar freak, they needed me
to make themselves feel
better.
just like, at times, I needed that
graveyard.

Bukowski, Charles: My Vanishing Act [from You Get So Alone At Times That It Just 
Makes Sense (1986), Black Sparrow Press]


Edward Kienholz

23/10/1927 - 10/06/1994


As obras de Ed Kienholz, de carácter imersivo e tridimensional, apresentam uma reflexão sobre questões contemporâneas, políticas e sociais, prementes na última metade do século vinte. Assemblage  é o método usado pelo artista na maior parte das suas obras, cujo material inclui despojos, lixo e objectos encontrados em flee-markets e que, pela sua condição degradada e danificada, pretendem evocar os "podres" da sociedade (neste caso, a norte-americana). 


Charles Bukowski
16/08/1920 - 09/03/1994

Poeta Ameriano, natural da Alemanha, cuja vasta obra se debruça em grande parte sobre questões políticas e sociais. O comum cidadão americano de classe baixa, a fadiga do trabalho, o álcool, a relação com o sexo feminino e a escrita em si são temas recorrentes na sua obra, cujo estilo é coloquial, cru e muitas vezes obsceno.

The Beanery

...


Um excerto do documentário Kienholz On Exhibit, de June Steel que pretende documentar a reacção do público face à exposição de Kienholz no Los Angles County Museum of Art (LACMA), em 1966. Ainda que a obra "The Beanery" apareça apenas nos dois últimos minutos deste video, é de interesse vê-lo tanto pelas várias obras apresentadas como pelas diferentes reacções que estas provocam no público.



Bibliografia:
www.theartstory.org
www.stedelijk.nl/en
www.bukowski.net

Bolin, Paul E. and Doug Blandy, "Beyond Visual Culture: Seven Statements of Support for Material Culture Studies In Art Education", Studies in Art Education, Voll. 44, Nº 3 (2003), pp. 246-263
Published By: National Art Education Association

Inês Furtado Nº48711

domingo, 22 de novembro de 2015

Willem de Kooning e Walt Whitman


Willem de Kooning, Untitled, 1966
Charcoal on paper, 25,4 x 20,3 cm
The Museum of Modern Art, Nova Iorque



Willem de Kooning 
Pintor estado-unidense, nascido em Roterdão. Um dos pintores mais celebrados do Expressionismo Abstracto que inclui nas suas obras uma fusão de movimentos artísticos como o Cubismo, o Surrealismo e o Expressionismo. Em 1950, cria uma série de quadros sobre mulheres, intitulada "Woman", que são ainda hoje as obras mais discutidas do artista.


Walt Whitman
This is the female form,
A divine nimbus exhales from it from head to foot,
It attracts with fierce undeniable attraction,
I am drawn by its breath as if I were no more than a helpless 
vapor, all falls aside but myself and it,
Books, art, religion, time, the visible and solid earth, and what was 
expected of heaven or fear'd of hell, are now consumed,
Mad filaments, ungovernable shoots play out of it, the response 
likewise ungovernable,
Hair, bosom, hips, bend of legs, negligent falling hands all dif 
fused, mine too diffused,
Ebb stung by the flow and flow stung by the ebb, love-flesh swell-
ing and deliciously aching,
Limitless limpid jets of love hot and enormous, quivering jelly of 
love, white-blow and delirious juice,
Bridegroom night of love working surely and softly into the pros-
trate dawn,
Undulating into the willing and yielding day,
Lost in the cleave of the clasping and sweet-flesh'd day.

This the nucleus—after the child is born of woman, man is born 
of woman,
This the bath of birth, this the merge of small and large, and the 
outlet again.

Be not ashamed women, your privilege encloses the rest, and is the 
exit of the rest,
You are the gates of the body, and you are the gates of the soul.

The female contains all qualities and tempers them,
She is in her place and moves with perfect balance,
She is all things duly veil'd, she is both passive and active,
She is to conceive daughters as well as sons, and sons as well as 
daughters.

As I see my soul reflected in Nature,
As I see through a mist, One with inexpressible completeness, 
sanity, beauty,
See the bent head and arms folded over the breast, the Female 
I see.


Relação entre o poema e a obra

O desenho de Willem de Kooning propõe uma desconstrução do corpo feminino. É-nos apresentado um corpo fragmentado, um corpo estranho, em contraste com o que o poeta Walt Whitman descreve nos dois primeiros versos do poema ("This is the female form, / A divine nimbus exhales from it from head to foot"). Se a verdade é que somos, de facto, atraídos ao ver a imagem desta mulher perturbadora não é de todo pela sua forma divina e bem desenhada (deformação vs. ideal).

Neste esboço a figura feminina, nua e com o corpo em forma de cruz, remete para a ideia da submissão da mulher ao homem (vejam-se os versos: "mine to difuse", "she is both passive and active"). Trata-se, pois, de um corpo idealizado pelo  voyeurismo masculino.


Ana Palhão