quarta-feira, 5 de maio de 2010

Robert Smithson & William Burroughs

Robert Smithson
Spiral Jetty, April 1970
Great Salt Lake, Utah
Black rock, salt, earth, red water (algae)
3 1/2 x 15 x 1500 feet
Estate of Robert Smithson / Licensed by VAGA, New York, NY Image courtesy James Cohan Gallery, New York Collection: DIA Center for the Arts, New York
Photo: Gianfranco Gorgoni


Robert Smithson (1938-1973)

Smithson iniciou-se no meio artístico como pintor onde a temática do corpo estava bem presente mas após um interregno de três anos, abandona as considerações ao corpo e interessa-se mais por entropia, procura relacionar a matemática com a arte. O conceito de entropia no discurso matemático, quando aprofundado, é tão filosófico como a arte. Esse era o fascínio de Smithson. Aquela energia que não era controlada e que sempre ocorria, fruto do tempo com repercussões no espaço. Smithson previu as alterações do nível das águas e a sua obra esteve já várias vezes submersa mas isso foi o que permitiu as alterações de cores que acontecem frequentemente, como reacção natural dos fenómenos da natureza.
A Spiral Jetty tem cerca de 6 toneladas de pedra de basalto preto e terra, em forma de espiral com um diâmetro de 1500 pés, saída de uma montanha para um lago.

A Spiral Jetty é possivelmente a mais popular obra de Land Art.
Land Art é um movimento artístico que surge na década de 60 no Minimalismo e na arte conceptual. A ideia era fazer com que a arte saísse das galerias e dos museus, literalmente, como crítica ao contexto socioeconómico que circundava o meio artístico. Quem quisesse ver a obra teria de se deslocar até ela. No caso de Spiral Jetty o percurso era bem duro. No entanto, os trabalhos de Land Art são de dimensão espiritual, uma vez que, a experiência do contacto com a obra não ocorre apenas no campo visual, a experiência de estar na própria obra, de a explorar fisicamente produz um efeito determinante na interpretação que se obtêm e que se realiza no campo sensorial.

Smithson escolhe Rozel Point como local para a sua escultura depois de observar a cor da água que era cor-de-rosa, por causa das algas que ali cresciam e pelo efeito que teria combinada com os cristais de sal. Foi deliberada a sua intenção em interagir com a natureza sem a colocar em risco. Ele era também um ambientalista e as suas preocupações ecológicas faziam parte da sua concepção artística. As suas motivações iam desde a cosmologia, ao pós-industrial, antigas civilizações, pré-história e formas geológicas. O seu interesse residia em matérias que perssistiram ao longo dos tempos, tais como a lama, a lava dos vulcões, as rochas e até o sal. Esta matéria que outrora existiu é a mesma que conhecemos hoje, resistiu ao que nenhum homem ainda conseguiu, ao tempo. Essa matéria, alvo do fascínio de Smithson é o que constitui grande parte do nosso planeta. É o corpo da Terra. O corpo que Smithson utiliza nesta fase, é a matéria que constitui o planeta. A sua intervenção pode ser entendida como um adorno, uma forma bela. Alguns sugerem que a forma em espiral se deve à influência da literatura de ficção científica de J. G. Ballard.

Smithson gostava de que as suas obras se fossem alterando com o passar do tempo e adorava que essas transformações fossem visiveis.

“O tamanho determina um objecto, mas a escala determina a arte. Uma fissura num muro, se olhada em termos de escala e não de tamanho, poderia ser chamada de Grand Canyon” Robert Smithson


Obra literária
Thanksgiving Prayer, William Burroughs

To John Dillinger and hope he is still alive.
Thanksgiving Day November 28 1986"

Thanks for the wild turkey and
the passenger pigeons, destined
to be shat out through wholesome
American guts.
Thanks for a continent to despoil
and poison.
Thanks for Indians to provide a
modicum of challenge and
danger.
Thanks for vast herds of bison to
kill and skin leaving the
carcasses to rot.
Thanks for bounties on wolves
and coyotes.
Thanks for the American dream,
To vulgarize and to falsify until
the bare lies shine through.
Thanks for the KKK.
For nigger-killin' lawmen,
feelin' their notches.
For decent church-goin' women,
with their mean, pinched, bitter,
evil faces.
Thanks for "Kill a Queer for
Christ" stickers.
Thanks for laboratory AIDS.
Thanks for Prohibition and the
war against drugs.
Thanks for a country where
nobody's allowed to mind the
own business.
Thanks for a nation of finks.
Yes, thanks for all the
memories-- all right let's see
your arms!
You always were a headache and
you always were a bore.
Thanks for the last and greatest
betrayal of the last and greatest
of human dreams.

Reflexão

Neste poema de W.Burroughs está presente o espírito crítico partilhado por Smithson ainda que manifestado difentemente. O agradecimento, profundamente irónico, de Burroughs pelo envenenamento do continente segue a linha de raciocínio de Smithson na escolha do local para a Spiral Jetty, já que este estudou vários locais inóspitos nos arredores de Nova Jersey, zonas industrias com marcas visiveis no terreno desde a desflorestação até à poluição das águas. A critica social no poema pode ser entendido como uma espiral que sendo o problema, alberga também a solução e é repetindo os ciclos que os podemos perceber. A relação que que estabeleço entre a espiral “negativa” de Burroughs e a espiral “positiva” de Smithson, é de complementariedade.. Um leva-nos a para um percurso descendente mas com o qual temos de nos confrontar para conhecer a realidade e o outro, Smithson, leva-nos de onde Burroughs nos deixou, num percurso em ascenção que no entanto tem como base a rudeza, do lugar onde a Spiral Jetty foi concebida, em tudo semelhante à rudeza do poema de Burroughs.

5 comentários:

  1. Olá Bruno
    Gostei muito desta escolha, das obras e dos artistas.
    estava a ler a tua leitura e estava a pensar que também consigo ver uma ligação em espiral, entre as duas obras.
    especialmente, pela repetição do "thanks", como um crescendo que culmina no "Thanks for the last and greatest/ betrayal of the last and greatest/ of human dreams", que eu poderia interpretar como o chegar ao final da espiral... e agora? traímos o sonho, chegámos ao final do caminho? que fazer agora?
    bom trabalho!
    Catarina Marques, nº 27173

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  2. Hello,
    I agree with you that Burroughs's "thanksgiving" is generally ironical. Other thing I have noticed: it is interesting statment, that "A relação que que estabeleço entre a espiral “negativa” de Burroughs e a espiral “positiva” de Smithson, é de complementariedade..". Could you develop it more? I am not sure, that my comunicative portuguese is working with it.
    Greetings,
    Jagienka Szymańska
    (Eramus student)

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  3. Hello Jaga
    What I meant was that Burroughs' poem drives you into a negative, uncomfortable state of consciousness, through facts hard to deal with as an American in particular and this is what I considered a negative spiral. So, it's hard, but it's real, and it's the result of our development which in stand of being a constructive one (+) it seems more a self destructive process (-). And the Spiral Jetty it's built in a place where nothing lives, but it's able to provide a new and harmoniousness form to that place, to the art and to the world. With also the time marks, like Burroughs poem. But Smithson uses the unfertile ground (-) to create a new form and shape of the time for the people (+).
    (…)
    bruno

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  4. Ola Catarina,
    Sim o poema vai nesse sentido mas a confrontação com a realidade é a prova de que o sonho permanece vivo mas não realizado. Os sonhos, como o poema e a Spiral Jetty chegam até nós de fora para dentro, mas quando os interpretamos já estamos a fazer uma construção nossa, de dentro para fora. Esta recursividade torna o caminho infinito e ilimitado sendo que parte da “viagem” se repete, o que nos permite ir moldando a passagem.
    (…)
    bruno

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  5. Bruno,

    Acho esta obra tão incrível quanto misteriosa. Fiquei tão entusiasmada, que fui procurar saber mais sobre ela.
    Concordo com a perspectiva de nova harmonia naquele espaço, mas creio ser incorrecto quando dizes que é um espaço onde nada vive. Creio que Smithson investigou bastante o espaço escolhido, e a sua eleição foi com base nas características existentes, como as algas e bactérias tolerantes ao sal, que dão o tom rosa à água.No fundo interagiu com as condições do local, trazendo uma nova harmonia, reorganizando a vida existente.
    Também há outro ponto de vista que me parece interessante reflectir. Uma vez que falaste no corpo da Terra, há algumas culturas que sugerem a existência de pontos energéticos, tanto no corpo humano, como no planeta. A Spiral Jetty poderia estar a assinalar um desses pontos. Neste caso, ao contrário do que a Catarina sugere, em vez do fim da espiral representar uma fatalidade, poderia ser o princípio de algo, ou mesmo uma passagem para outro universo, segundo um artigo no Guardian, em que sob o Great Salt Lake estaria o centro de um universo antigo... http://www.guardian.co.uk/books/2009/apr/27/tacita-dean-jg-ballard-art

    Também encontrei este vídeo da altura da sua construcção, muito bom: http://www.youtube.com/watch?v=fTx4Pp4aPXA&feature=related


    Catarina Ramalho
    Nº37682

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