domingo, 16 de maio de 2010

Gertrude Kasebier & Jonathan Coe



Texto

"(..) Tudo em mim me diz que tu tinhas de existir. Há uma justeza tão grande em ti... A ideia de tu nunca teres existido, de tu nunca teres nascido, parece-me tão palpavelmente errada, tão monstruosa, tão antinatural.. O que a tua existência me leva a compreender, é isto: que a vida só começa a fazer sentido quando nos damos conta de que por vezes duas ideias completamente contraditórias podem ser verdade.
Tudo o que conduziu a ti estava errado. Portanto, tu não deverias ter nascido.
Mas tudo em ti está certo: portanto, tu tinhas de nascer.
Tu eras inevitável"

"The Rain Before It Falls" Jonathan Coe

Biografia de Gertrude Kasebier

Gertrude Kasebier nasceu em Des Moines, Iowa, no ano de 1852.
Em 1864 a família muda-se para Nova Iorque, e passado uns tempos morre-lhe o pai. Pouco depois, a mãe de Gertrude tratou de assegurar o futuro da filha, e casa-a com Eduard Kasebier em 1874 no dia do seu 22º aniversário. Gertrude sempre teve um espírito livre e independente, e para a sua mãe podia ser que um marido e filhos a acalmariam, e ajudariam a assentar.
No entanto, Gertrude nunca abandonou o seu sonho de ser artista e em 1889, aos 37 anos começa a estudar pintura e desenho no Pratt Institute, e é por volta da mesma altura que começa a fotografar a família.
Em 1894 parte numa viagem para a Europa para estudar e aprofundar os seus conheciemntos de fotografia e pintura, e após o seu regresso abre em Nova Iorque um estúdio fotográfico em 1897, contra a vontade do marido, mas com o seu apoio financeiro (não nos podemos esquecer que na altura a fotografia não estava ao alcance de qualquer um, e que era bastante dispendioso).
O estúdio tem um sucesso tremendo, e era indiscutivelmente vista como uma das principais fotógrafas do seu tempo.
Em 1902 torna-se um dos membros fundadores do "Photo Secession group", juntamente com Alfred Stieglitz, que tinham como objectivo elevar a fotografia até a uma forma arte, e que procuravam ter o mesmo respeito e prestígio ganho pelos artistas de processos convencionais, queriam reconhecimento como sendo um meio de expressão artistica, independentes da arte académica.

Apesar de ter fotografado muitas personalidades conhecidas da altura, como Mark Twain e Buffalo Bill, as imagens pelas quais é mais conhecida, são os retratos de família e amigos, e temas como a maternidade e retratos de nativo-americanos.

As suas fotografias são suaves,e retrata a mulher como um ser carinhoso, espiritual e maternal.

Após divergências com Stieglitz em 1912 abandona o Photo Secession group.

Continuo a fotografar, a ensinar e a exibir até por volta de 1925, quando a visão lhe começou a falhar. Morreu com 82 anos em 1934, e em 1979 foi com muito mérito incluida no International Photography Hall of Fame.


Biografia de Jonathan Coe


Jonathan Coe nasceu em 1961 em Birmingham. Estudou no Trinity College em Cambridge, e completou o seu doutoramento na Warwick University, onde ensinou Poesia Inglesa.

Coe desde sempre mostrou ter grande interesse na música e na literatura, e nos seus livros é grande a influência destes seus interesses, sendo a música uma constante em quase todas as suas obras.

Publicou o primeiro romance em 1987 e até agora tem 9 livros editados, todos eles bem recebidos pela critica, e três deles premiados pela critica literária. ("What a carve up"; "The Rotter's Club"; "The House of Sleep")

Em 2004 foi ordenado Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras. Este grau é conferido pelo Ministério da Cultura Françês, que visa recompensar quem se distingue pelas suas criações no dominio artistico ou literário, ou pela sua contribuição para o reino das Artes e das Letras em França e no mundo.

Coe conseguiu a notável proeza de desenvolver confiança e um estilo distinto, sem jamais perder a jovialidade e a versatilidade tão caracteristicas dos seus trabalhos iniciais.

É um dos mais interessantes autores britânicos contemporâneos, e o humor que usa, por vezes quase excessivamente, misturado com seriedade, tem como objectivo não uma escapatória à realidade, mas sim um reflexo do nosso mundo estranho.

Coe continua a amadurecer com cada um dos seus romances e é visto pela critica como uma expecional promessa na literatura contemporânea.

Relação obra/texto

Tanto Kasebier como Coe, apesar de separados pelo tempo, apresentam nas suas obras temas emocionalmente complexos.
Kasebier tenta captar uma visão simbólica mas no entanto intimista.
Para mim o texto pode ser interpretado como um possível discurso da mãe para o filho.
O uso da luz no ambiente simples enche o lugar com o céu e envolve as figuras com a divindade. Apesar de podermos olhar para a fotografia, e vir-nos à cabeça uma possível comparação de alguma imagem da Virgem Maria com Jesus, Kasebier não apoiava explicitamente uma interpretação religiosa da imagem.
Como na maior parte dos trabalhos de Kasebier, a forma e o padrão são enfatizados nesta fotografia.

Sitografia:
www.wikipedia.org
www.shorpy.com/gertrude-kasebier
www.complete-review.com
www.andrewsmithgallery.com




Francisca Gaivão nº35505

5 comentários:

  1. Olá Francisca,

    interessante escolha de trabalho. As fotografias da Gertrude Kasebier têm sempre uma estética e luminosidade surpreendentes. Achei curioso teres mencionado a comparação com a Virgem Maria, pois assim que olhei para a imagem me lembrei da Pietà, do Michelangelo, apesar de neste caso a mulher segurar um bebé.
    De facto esta fotografia capta um momento intímo da relação maternal, contudo o espaço parece ser velho e sujo. Lembrou-me um estábulo, que também poderá ter algumas conotações biblícas.

    Penso que também há no excerto e na fotografia o desenvolver da maternindade, pelo momento em si e pelas oscilações emocionais que o texto reflecte.

    bom trabalho e boa apresentação

    Ana Nunes
    nº 37093

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  2. Francisca,

    Creio que, com a urgência de publicar o post, não apareceu a legenda da fotografia: "The Manger" de 1900, parece-me bastante relevante uma vez que Kasebier, como afirmas, não defendia uma ligação religiosa a esta imagem, no entanto é bastante difícil não a identificar com a virgem Maria e Jesus. Quer pela iluminação, quer pela simbologia, pois jesus nasceu num estábulo e vulgarmente aparece deitado numa manjedoura.
    Também concordo com a Ana, quando refere a presença, no texto escrito e no visual, do desenvolver da maternidade como uma incerteza e uma inevitabilidade, e talvez um segredo escondido naquele espaço.

    Bom Trabalho
    Catarina Ramalho
    Nº37682

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  3. Olá Francisca.

    O que ambos os textos me sugerem é uma ideia de reconciliação /aceitação, com o que não sendo a princípio desejado, se torna amado.
    Na belíssima foto de Gertrude Kasebier vemos uma mãe segurando ternamente o seu bébé. As vestes da mãe aproximam-na, a meu ver, de uma noiva que celebra uma nova vida. De resto, não me parece que santidade (imagem de Maria) se relacione com arrependimento.
    No texto de Jonatham Coe, a inevitabilidade surge como remate, apontando para o destino da natalidade.
    Em ambos os casos está presente a nova vida, celebrada e superior a qualquer desejo.

    Boa apresentação!

    Fernando Claudino
    Aluno n.º 36447

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  4. Olá Francisca!
    É inevitável a comparação a Pietá que os colegas referem, factor que é acentuado pela luz que emana da esquerda como uma "iluminação".
    Na tua análise referes que o texto poderia ser um diálogo entre uma mãe e um filho... mas também não poderia ser entre a personagem do livro e Deus? O escritor parece-me fazer uma clara interpelação a um ser superior quando refere "há uma justeza tão grande em ti".
    É apenas uma outra sugestão de leitura que a mim me pareceu a mais óbvia, dado o cariz religioso que está inerente na imagem por ti escolhida.

    Boa Sorte, Francisca=)!

    Ana Duarte, nº37092

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  5. Oi Francisca!!!!

    Sendo a relação entre mãe e filho, tema muitas vezes explorado nos retratos de Kasebier, penso que o texto escolhido muito tenha para acrescentar à imagem!!! Quando li o texto, o que me veio à mente foi a mulher e o seu instinto. Kasebier tinha um marido repressor, quando ela quis abrir o seu estúdio em NY, ele foi contra. Lembremos ainda, da exclusão das mulheres no mundo das artes. Imagino que ela teve que lutar muito por aquilo a que acreditava e nessa imagem explora o instinto maternal que toda mulher carrega. Na verdade, a ambiguidade que as mulheres têm vindo a carregar, como um fardo ou cantar como um fado. Sabe aquela coisa? Cuidar da carreira ou da família? E Coe transporta isso para as palavras: "O que a tua existência me leva a compreender, é isto: que a vida só começa a fazer sentido quando nos damos conta de que por vezes duas ideias completamente contraditórias podem ser verdade". Enfim...

    Boa sorte e espero que a minha opinião possa te ajudar a questionar a imagem!!!

    Juliana Ono nº 35160

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