sábado, 14 de março de 2009

William S. Soule (US, 1836-1908) , Chief Ten Bears (c.1790-1872)



Foto do caçador Ralph Morrison, morto e escalpado por índios Cheyenne nos arredores de Fort Dodge, a 7 de Dezembro de 1868

Discurso do chefe Comanche Ten Bears no Tratado de Medicine Lodge Creek, Julho de 1868

"(...)You have said that you want to put us on a reservation, to build us houses and make us medicine lodges. I do not want them. I was born under the prairie, where the wind blew free and there was nothing to break the light of the sun. I was born where there were no enclosures and everything drew a free breath. I want to die there and not within walls. I know every stream and every wood between the Arkansas and the Rio Grande. I have hunted and lived over that country.I live like my fathers before me and like them i lived happily. So why do you ask us to leave the rivers, and the sun, and the wind, and live in houses?(...)The Texans have taken away the places where the grass grew the thickest and the timber was best. Had we kept that, we might have done the things you ask. But it is too late. The whites have the country which we loved, and we wish only to wander on the prairie until we die..."

William Stinson Soule é, hoje em dia, muito conhecido pelas suas fotos de índios ainda selvagens e fiéis ao seu modo de vida livre.
Ferido durante a Guerra Civil onde combatera nas fileiras da União, decidira-se por viajar para o Oeste, para recuperar a saúde. Soule tivera um estúdio de fotografia em Boston e agora levava consigo o seu material...
Sem dúvida as fotos que iria agora (1867-75) tirar seriam dum género muito diferente. Ao chegar a Fort Dodge no oeste do Kansas, arranjou emprego na loja do forte e logo se apercebeu que estava no centro duma outra zona de guerra que poderia fornecer oportunidades fotográficas únicas. Deixados em paz durante os anos da guerra civil, com a interrupção do fluxo de colonos, os índios das planícies começavam agora a sentir-se encurralados com a construção de novos fortes nos seus territórios e estavam decididos a resistir até ao fim.
A foto acima foi a primeira tirada por Soule no Kansas, e era um testemunho bastante cru da realidade de guerra permanente nas planícies. Soule estava verdadeiramente no centro de todos estes acontecimentos, e assim podia suceder que os mesmos índios que visitavam o forte numa certa manhã e que convidava para posarem, à tarde estivessem envolvidos num qualquer ataque .
Século e meio depois, as suas fotos são testemunhos fiéis duma época e duma cultura prestes a desaparecer para sempre. Muitas das suas fotos têm um interesse etnográfico tão grande como as pinturas de George Catlin, trinta anos antes.
Se a foto era uma reportagem fotográfica, esta no entanto acabava por só mostrar o ponto de vista de um dos lados e prestar-se a manipulações ideológicas . Já o discurso do velho chefe Ten Bears ilustrava perfeitamente o ponto de vista do outro lado, de um povo que caminha para o seu fim espiritual. É um dos mais conhecidos exemplos de oratória das planícies, e fascinou os brancos que o escutaram, pela sua cândida sabedoria. A frase final é de profunda tristeza e resignação. Poderá talvez argumentar-se que se a foto representava o estereótipo do "índio assassino", o discurso representava um outro, o do "Bom Selvagem". De facto a realidade não é a preto e branco, e Ten Bears não dizia que uma parte importante da sua cultura e economia, consistia nos ataques que em cada Outono faziam no Norte do México, onde iam buscar escravos (mulheres) e cavalos. Seja como for, focava o essencial que era a impossibilidade de conciliação entre duas culturas opostas, e o fim inevitável de uma delas.
No que respeita à foto,a verdade é que este tipo de atrocidade era praticado por todos, índios ou brancos. Claro que os índios não tinham fotógrafos e assim não existem fotos de índios escalpados. Importa notar que este tipo de fotos, muito raras, davam um rosto a uma guerra que para muitos americanos estava a meio continente de distância. Para nós, está também longe no tempo, mas a sua dureza permanece, infelizmente, actual.

Post realizado por Eurico Matias, nº36402, Estudos Norte-
Americanos


Bibliografia:

Nye. Wilbur Sturtevant, "plains indian raiders-the final phases of warfare from the Arkansas to the Red river, with original photographs by William S. Soule", University of Oklahoma Press, 1968

Marshall, "Crimson prairie-the indian wars", Dacapo, 1972

Fehrenbach, T.R., "Comanches, the destruction of a people", Da Capo, 1994

Nota: No dia da apresentação, junto com o esquema, distribuirei mais fotos de Soule.

8 comentários:

  1. Eurico:
    Estou a gostar do seu trabalho: escolheu a obra de arte e apresentou um contexto. Não se esqueça que falta o texto literário com o qual estabelecer um diálogo.
    Diana Almeida

    ResponderEliminar
  2. Não conhecia este fotografo e para mim é um pouco estranho ver este tipo de fotografias.

    A guerra é o tema preferido de todos os foto-jornalistas (basta vermos as fotografias vencedoras do world press photo).
    E todos os dias somos bombardeados com essas mesmas imagens - cenários de guerra e "extinção" de raças.

    Eurico, este trabalho é bastante interessante. Como infelizmente faltei à última aula, ainda não tive oportunidade de ver a temática que vais retratar mas estou interessada em ver mais fotografias de William Soule.

    Tenho uma dúvida, podemos comentar o trabalho dos nossos colegas? É para ser feito na aula ou aqui no blog?

    Ana Cláudia Silva, Nº 35142, Artes do Espectáculo

    ResponderEliminar
  3. É de facto um tema muito interessante.
    Depois de termos visto em aula o quanto a América é e sempre foi um país religioso, é incrível analisarmos as tamanhas atrocidades cometidas para com o seu semelhante "primitivo" e "selvagem".
    Se havia em alguns o desejo de criar um novo mundo, diferente do velho continente, seria realmente necessário ter subjugado e brutalizado de tal modo o "velho" habitante desse novo mundo?
    Mas, até que ponto habitaria o índio pacificamente com o "branco"? De facto, não consegui perceber no seu texto quem atacava e quem se defendia. Contudo, o "branco" não deixa de ser o intruso que invade a terra preciosa do índio e este necessita protege-la.

    Bem, peço desculpa se comecei a divagar sobre os direitos dos índios... tenho de facto essa tendência para a divagação.
    Continuação de bom trabalho.

    Nicole Cotter, nº 35169, Artes do Espectáculo

    ResponderEliminar
  4. Olá Ana Claudia! Obrigado pelo comentário. De facto é curioso observar como as pessoas são tão parecidas em todas as épocas e lugares, e as atrocidades estão presentes em todas as guerras. Vou mostrar mais meia dúzia de fotos no dia da apresentação e julgo que os comentários devem ser feitos aqui no blog.
    Eurico Matias, Estudos Norte-Americanos

    ResponderEliminar
  5. Olá Nicole, obrigado por comentares! Na realidade ambos atacavam e defendiam, conforme os casos. E nem sempre atacavam os alvos certos, mas os que estavam mais à mão, com a morte de muitos inocentes em ambos os lados. No entanto deve ser ressalvado que foram os índios as pricipais vítimas, por vezes alvo de genocídio por parte de ditos civilizados.
    Eurico Matias, Estudos Norte-Americanos

    ResponderEliminar
  6. Olá, Professora! O texto literário já lá está, mas se faz assim tanta questão, ponho outro.
    Eurico Matias, Estudos Norte-Americanos

    ResponderEliminar
  7. Assim como o Realismo, a fotografia visa condenar as facções de poder, que não hesitavam em esmagar quem quer que fosse, neste caso concreto os índios, para concretizar os seus objectivos.
    Pode-se dizer que neste episódio a fotografia não teve qualquer relevância, pois só mostra uma face da realidade, contudo se não fosse esta ocasião, mais tarde, não poderíamos ter conhecimento do sofrimento a que alguns povos, nomeadamente os judeus, foram submetidos na II Guerra Mundial (podemos ter acesso a algumas das fotografias dos campos de concentração em livros como “Os médicos da morte”, de Philippe Aziz).

    ResponderEliminar
  8. Obrigado por escreveres! O paralelo com o genocídio Judeu é interessante e pode ter razão de ser. Agora noutros pontos, não é claro onde queres chegar. Em que é que esta fotografia condena facções de poder? A vítima não é um branco? O facto de só mostrar uma parte da realidade, não significa que não tenha qualquer relevância, pelo contrário. Tornava uma realidade longínqua em algo palpável, o que explica o seu uso como propaganda. E já agora, as fotos do sofrimento Judeu (bem real), também só mostram uma parte da realidade, por isso não têm qualquer relevância?
    Eurico Matias, Estudos Norte-Americanos

    ResponderEliminar