Thomas Cole
"Home in the Woods" (1847)
(óleo sobre tela, 44x66)
"Home in the Woods" (1847)
(óleo sobre tela, 44x66)
“Aqui está o santuário que envergonha as nossas religiões e a realidade que desacredita os nossos heróis. Aqui descobrimos ser a Natureza a circunstância que amesquinha todas as demais circunstâncias, e que julga, como um deus, todos os Homens que vêm a ela. (…) De bom grado franquearíamos as barreiras que as tornam comparativamente impotentes, fugiríamos à artificialidade e às segundas intenções, deixaríamos que a Natureza nos penetrasse. A branda luz das florestas é como uma manhã perpétua; é estimulante e heróica. (…) As árvores incomunicáveis começam a persuadir-nos a viver na sua companhia e despem a nossa vida de bagatelas solenes. Aqui, nada se interpõe entre o céu divino e o ano imortal; nem História, nem Igreja, nem Estado. Quão facilmente poderíamos caminhar pela paisagem que se abre à nossa frente, absorvidos por novos quadros, os pensamentos sucedendo-se céleres uns aos outros, até que, aos poucos, a lembrança do lar fosse desalojada da mente, toda a memória obliterada pela tirania do presente, e a Natureza nos conduzisse em triunfo.” (p. 147)*
“O vento sul, musical, enevoado, oloroso, que converte todas as árvores em harpas eólicas.” (p. 148)
“A minha casa está situada num terreno baixo, com vista limitada, na orla da vida. Mas vou, com meu amigo, à margem do nosso riacho e, com uma remada, deixo para trás as personalidades e a política da vila (…) e ingresso num delicado reino de crepúsculo e luar, talvez luminoso demais para que nele o Homem poluído possa ingressar sem noviciado e provação.” (p. 149)
“Somente na medida em que convocam a Natureza em seu auxílio podem os donos do mundo alcançar o auge da magnificência.” (ibid.)
Ralph Waldo Emerson
"Natureza" (1836)
Thomas Cole (1801-1848) foi um paisagista de origem inglesa que emigrou para os Estados Unidos, juntamente com os seus pais, em 1818. É considerando o fundador da Hudson River School, um movimento que, através do romantismo e do naturalismo, retratava paisagens da Natureza. As obras de Cole, enquadradas nessas mesmas correntes, cuidavam de exaltar o sublime romântico da paisagem natural, conceito que contrastava com a concepção de território, isto é um contraste entre o espaço divino e infinito e o domínio que o Homem passou a exercer sobre a Natureza.
R. W. Emerson (1803-1882) foi um ensaísta, filósofo e poeta dos Estados Unidos que estudou em Harvard com o objectivo de tornar-se pastor, actividade que acabou por abandonar. Mais tarde, depois de viajar pela Europa, onde conhece figuras importantes das letras, entre as quais, John Stuart Mill e Thomas Carlyle, volta para os Estados Unidos e desenvolve a sua filosofia transcendentalista, cujas raízes se encontram na filosofia transcendental de Immanuel Kant, patente, acima de tudo, na obra Kritik von der Reinen Vernunft, e que acabou por se materializar na revista The Dial, um periódico para o qual contribuíam, entre outros, Henry David Thoreau e Margareth Füller, membros, tal como Emerson, do Clube Transcendentalista.
Bibliografia
HUGHES, Robert, “American Visions: The Epic History of Art in America”, The Harvill Press: London, 1999.
GIBSON, Michael, “Simbolismo”, trad. Paula Reis, Taschen: Lisboa, 2006.
LARKIN, Oliver W., “Art and Life in America”, Holt, Rinehart and Winston: New York, 1960.
EMERSON, Ralph Waldo, “Nature”, Penguin: London, 2008.
EMERSON, Ralph Waldo, “Ensaios”, trad. José Paulo Paes, Editora Cultrix: São Paulo, 1966.
PAIVA, Maria Alice Marques de, “O Ideal Primitivo Romântico em Henry David Thoreau”, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: Lisboa, 1973.
http://en.wikipedia.org/wiki/Ralph_Waldo_Emerson, 24 de Março de 2009.
http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Cole, 24 de Março de 2009.
http://www.gbcnv.edu/~techdesk/NickStake/famousworks.html, 24 de Março de 2009.
Atenção: No dia da apresentação será entregue uma imagem do "Home in the Woods" mais perceptível.
Francisco Horta, 37132, Filosofia.
escolhas interessantes!
ResponderEliminarproponho que faça + leitura dos textos verbal e visual que escolheu.
atenção, não me parece que este quadro exalte a Natureza transcendentalista, será antes uma visão de um espaço domesticado, tornado habitável (vide título quadro.
amanhã falamos mais na aula.
Emerson, ao que me parece, confere um carácter semi-divino à Natureza; semi porque, ao mesmo tempo que a eleva ao nível dos deuses ("Aqui descobrimos ser a Natureza a circunstância que amesquinha todas as demais circunstâncias, e que julga, como um deus, todos os Homens que vêm a ela."), celebra a comunhão entre o sujeito e o espaço natural ("Aqui, nada se interpõe entre o céu divino e o ano imortal...").
ResponderEliminarA natura seria, assim, o lugar perfeito para o ser humano (sobre)viver onde o dia-a-dia fosse regido pela ordem natural das coisas e onde a memória construída ao longo do tempo em contexto citadino fosse apagada para dar lugar a novos pensamentos, agora pacíficos e deslumbrados pela calmaria selvagem.
É interessante quando Emerson, paradoxalmente, põe a hipótese de que o "Homem poluído" não seja, realmente, capaz de se introduzir na Natureza sem ser "julgado" por ela mesma.
O quadro de Thomas Cole que o Fransciso escolheu parece ir ao encontro desta ideia... Reparemos na aparente harmonia entre a família e o espaço que a rodeia. Tudo parece estar em "ordem": o "homem da casa" chega com um peixe para alimentar a família, a mulher espera-o à porta de casa, as crianças brincam... um quadro-reflexo daquilo que seria "normal" para a ordem social daquela época. Ao mesmo tempo, a pequena casa entra em contraste com as montanhas que se vêem lá ao fundo, à espera de serem desbravadas. Uma sensação de isolamento e de solidão. Uma sensação de pequenez perante a força imponente da Natureza. O enorme céu azul também contribui para essa sensação... um céu que se levanta sobre os pequenos seres que se situam em terra.
Mas se notarmos bem, vemos árvores destruídas, talvez utilizadas para a construção da casa de madeira... Estes troncos partidos, pintados em primeiro plano, não estão representados, de certeza, por mero acaso.
Será um prenúncio?
Talvez Emerson estivesse errado quando afirmou que a Natureza possuía a capacidade de juglar quem quer que fosse...
Não será "Home in the Woods" uma amostra subtil de que o Homem exerce a sua força devastadora para atingir a tão desejada magnificiência?
- Peço desculpa se me alonguei ou se disse muitos disparates. Tens um óptimo material de trabalho, Francisco. Boa sorte! ( :
Sara Santana, número 35175
De facto, a presença dos troncos partidos não parece de todo acidental; parece querer dizer-nos que se aquela casa ali está, está porque a floresta tem vindo a ser conquistada, o que quer dizer desbravada (uma ideia muito esquisita a de desbravar, se tivermos em conta que desbravar é amansar, o que também pode querer dizer "ter de brutalizar"), o que quer dizer destruída. Parece-me, também, que a colocação dos troncos, para além de estar na frente do quadro, está também por baixo, como se nos estivesse a dizer que aquela casa, aquela humanização, digamos, se impõe por cima da destruição da floresta.
ResponderEliminarHá também os pormenores, não muito claros na pequena imagem, do machado espetado no tronco, em frente à casa, e da árvore que parece ter sido atingida por um raio, do lado direito da imagem, o que nos mostra que, para além da destruição da floresta levada a cabo pelo Homem, também a Natureza a destrói. Mas, e isto pode já ser especulação, a verdade é que essa árvore se encontra muito próxima da casa, o que me leva a pensar que o raio podia ter caído um pouco mais ao lado, um género de “aviso”, se assim se pode dizer.
Como referiste, e muito bem, as montanhas que lá ao fundo assistem a tudo, sem poderem agir, parecem estar condenadas a serem substituídas por espaços habitacionais, o que nos leva à questão de a Natureza ser ou não capaz de julgar quem quer que seja, como Emerson dizia. Não sei. É verdade que os problemas ambientais nos alertam para um possível julgamento, mas também é verdade que no betão não vão crescer florestas.
Em relação à última questão, apesar da minha resposta ser Sim, guardo-a para o dia da apresentação, por ser uma boa forma de a finalizar.
Obrigado pelo comentário, cheio de sentido, que quase resume a minha apresentação. E digo isto no bom sentido.
Francisco Horta