domingo, 3 de junho de 2018

Charles James - Sexualizando o Vestir?

Boa noite,

   Deixo-vos abaixo um post que simultaneamente atenta à obra de um dos designers de moda mais influentes do século XX e menciona uma artista que recorrentemente mencionámos em aula. Escolhi, assim, falar de Charles James (1906-1978) e sumariamente introduzir uma ligação interpretativa entre a sua obra e a de Georgia O'Keeffe (1887-1986).



Fig. 1: Retrato fotográfico de Charles James, Cecil Beaton, 1936, reprodução cortesia dos curadores do MET.

   Charles James (1906-1978), de nacionalidade Inglesa, foi produtor ativo nos EUA entre os anos finais da década de 20 e os finais dos anos 50 do século passado - com raras exceções. 
   
   Demonstrando desde cedo uma afinidade pelo design de têxteis, este viria a adquirir conhecimentos formais das áreas de engenharia e arquitetura durante uma breve estadia no departamento arquitetónico de Commonwealth Edison, em 1924 (Koda, H; Reeder, J.G, Charles James: Beyond Fashion, p. 18). Seriam estes mesmos conhecimentos que,  traduzidos em tecido, confeririam às suas peças de vestuário - principalmente aquelas produzidas entre os finais da década de 40 e meados da década de 50 - uma estruturalidade excecionalmente complexa. As suas peças - algumas das quais abaixo figuradas - possuém assim silhuetas que, no seu construír e exacerbar de uma silhueta feminina idealizada, são também detentoras de uma presença e dramatismo difereciadores.


Fig. 2: Vestido Tree e estola PétalasCharles James 1955, fotografia cortesia dos curadores do Fashion Institute of Technology.

   Olho agora o ponto que une ambos os artistas em questão, isto é, as interpretações sexualizantes a que as suas obras foram sujeites. 

   Atentando às peças acima figuradas não se podem deixar de notar, em primeiro instante, a uma saia que segue, acentua, a linha das ancas - tidos geralmente como símbolo de fertilidade - apenas para se alargar e"enraizar" (interpretação para a qual o título do vestido se inclina) no solo onde a sua usuária caminharia. Se vertermos os olhos de seguida para o topo do vestido, bem como para a estola que lhe acompanha, presenciamos ainda um "brotar" de elementos sugestivos de organicidade. Ocorrendo esta última na zona dos seios da mulher que lhe veste, é-nos transmitido de novo uma sugestão de fertilidade feminina. 

   Assumindo o caráter performativo do ato de vestir, é passível que lancêmos sobre a obra de Charles James - de que as peças mencionadas servem apenas como exemplo - interpretações que assentem na ideia da mulher como portadora de papéis sociais fortemente aliados ao ato reprodutivo, idealogização de ato - recordando o uso anterior de "enraizar" - que seria instrumental na perpetuação da sociedade patriarcal da época. Refiro agora que não pretendo necessariamente salientar na obra de James qualquer intencionalidade a este efeito.


Fig. 3: Grey Lines with Black, Blue and Yellow, Georgia O'Keeffe, c. 1923, reprodução fotográfica cortesia dos curadores do MET.

   Fazendo agora menção à artista visual mencionada nos parágrafos inaugurantes deste post, digo agora que às ligações visuais que se podem estabelecer com a obra de Georgia O'Keeffe - em particular entre obras como Grey Lines with Black, Blue and Yellow de cerca de 1923 e vestidos como o abaixo figurado - se acrescem paralelos relativos às interpretações sexualizantes que ambas as obras receberam. Tomando como exemplos as obras figuradas imediatamente acima e abaixo, e seguindo a linha interpretativa acima mencionada, refere-se que ambas seriam passivelmente ligadas a interpretações que as tomariam como representando lábios (genitais). 


Fig. 4: Ball Gown de Charles James, 1948, fotografia cortesia dos curadores do MET.

   No caso da obra - falando agora em sentido lato - de O'Keeffe, tal como foi amplamente falado em aula, as interpretações acima referidas - aliadas à leitura "mulher-natureza" nela perpetuada por Steiglitz - foram pela artista mal-recebidas. Não encontrei, até agora, uma citação revelatória da posição de James em relação às interpretações sexualizantes da sua obra. Penso, aliás que estas sejam relativamente recentes - ou pelo menos, que a sua presença alargada o seja. No entanto, a fim de deixar esta questão em aberto, deixo a seguinte sua citação, "My dresses help women discover figures they didn't know they had." e a pergunta "Quais eram estas figuras que ele lhes sabia ser verdadeiras e como é que ele lhes assumia?".

   Feito isto, e como extensão da vossa própria interpretação, sugiro a leitura do artigo de Christopher Harrity - cujo link está abaixo incluído - e que faz um breve comentário a uma faceta da produção artística de Charles James que se manteve inexplorada neste post.

   Boa época de avaliações!


Referências webgráficas:
  • Beaton, C. Charles James. Disponível em: https://agnautacouture.files.wordpress.com/2013/12/3-charles-james-photo-cecil-beaton-1929-high-res.jpg Acedido a 1 de Junho de 2018;
  • Curadores de Fashion Institute of Technology. Tree Evening Dress and Petal Stole. Disponível em: http://www.fitnyc.edu/museum/images/forceofnature-p87.31.11.jpg Acedido a 23 de Maio de 2018;
  • Curadores de The Metropolitan Museum of Art. Ball gown. Disponível em: https://images.metmuseum.org/CRDImages/ci/web-large/54.141.94_CP3.jpg Acedido a 28 de Maio de 2018;
  • Curadores de The Museum of Fine Arts, Houston. Grey Lines with Black, Blue and Yellow. Disponível em: https://static.mfah.com/collection/45552.jpg?maxWidth=550&maxHeight=550&format=jpg&quality=90
  • Harrity, C. In the Galleries: The Erotic Tension of Charles James. Disponível em: https://www.advocate.com/arts-entertainment/art/2014/09/23/galleries-erotic-tension-charles-james?pg=2#article-content Acedido a 30 de Maio de 2018;
  • James, C. Quote. Disponível em: http://www.azquotes.com/quote/923648 Acedido a 28 de Maio 2018;
  • Koda, H; Reeder, J.G. Charles James: Beyond Fashion. Disponível em: https://books.google.pt/books?id=B22DAwAAQBAJ&pg=PA18&lpg=PA18&dq=charles+james+samuel+insull+architecture&source=bl&ots=hYiCmMzNYm&sig=Il_tdm5eXaMafo29AYs0mwA123Y&hl=pt-PT&sa=X&ved=0ahUKEwin8aX297fbAhVIWBQKHUXkDdsQ6AEITjAJ#v=onepage&q=charles%20james%20samuel%20insull%20architecture&f=false Acedido a 26 de Maio de 2018;
  • Smith, R. Charles James: 'Beneath the Dress'. Disponível em: https://www.nytimes.com/2014/10/03/arts/design/charles-james-beneath-the-dress.html Acedido a 1 de Junho de 2018;
  • Smith, R. Where Elegance Meets Eros. Disponível: https://www.nytimes.com/2014/05/09/arts/design/charles-james-beyond-fashion-a-retrospective-at-the-met.html Acedido a 29 de Maio de 2018.

   Post realizado por: Lily Farlan Kingston Chadwick - nº145710




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