Caros colegas, no contexto da aula de quinta-feira (24 de Maio), decidi apresentar-vos a série Infra, do fotógrafo Richard Mosse.
Nascido
em Kilkenny, Irlanda, em 1980, Mosse vive e trabalha entre Nova Iorque e
em Berlim. A sua lente passou por locais de conflito como o Irão,
o Paquistão, o Haiti e a antiga Jugoslávia, mas ganhou renome com a série Infra,
sobre o conflito na República do Democrática do Congo, realizada com o objectivo de
alertar para a guerra que se passa neste país.
Iniciado com a fuga do grupo étnico dos Hutus ao Congo Oriental, no fim do genocídio em
Ruanda, 1994, o conflito dura há duas décadas, envolvendo 40 grupos rebeldes (com várias mudanças de lealdade) e o exército congolês. Entre 1998 e 2007 morreram 5,4 milhões de pessoas. A cada hora, 48 mulheres são violadas.
Para a
realização desta série, Richard Mosse foi a áreas isoladas da província do Kivu, para captar
esta ocorrência humanitária de proporções catastróficas. De forma a conseguir
as cores berrantes, que se podem observar nas fotos abaixo, aproveitou o Kodak
Aerochrome (filme infravermelho de reconhecimento, desenvolvido pelo exército
estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial). Para o exército, esta técnica
servia para se conseguir observar o inimigo, no caso da obra de Mosse, resulta
em paisagens e fotografias de aspecto surrealista, a rosa e vermelho – cores
ligadas à publicidade.
Assim, esta técnica cria uma certa ambivalência o que, segundo as palavras de Mosse, gera indignação por
parte do espectador. A utilização de um método usado para propósitos militares, nos inícios
dos anos 1940, e a beleza que transporta para a
fotografia podem ser o começo de uma percepção do contraste entre o “belo” e o horrível” — "the surreal quality of these images respond to our desire to be distracted
from trauma at the moment of engagement, to float near, but not be engulfed by
the reality" (MOSSE, 2018).
Richard Mosse, Madonna and Child, North Kivu, Eastern Congo, 2012 Digital al c-print DHC/ART Montreal |
Richard Mosse, Lost Fun Zone, 2012 Digital al-c print, 182.9 x 228.6cm Galeria Leyendecker, Santa Cruz do Tenerife |
Sites consultados
- https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=RKO5LbOFjXg (3 de dezembro de 2017)
- https://www.theguardian.com/artanddesign/2011/may/28/richard-mosse-infrared-photoscongo (3 de dezembro de 2017)
- http://enclavereview.org/richard-mosses-infra-conflict-art-and-the-regime-of-thedocumentaryimage/ (3 de dezembro de 2017)
- https://www.theguardian.com/world/2011/may/12/48-women-raped-hour-congo (3 dedezembro de 2017)
- http://enclavereview.org/richard-mosses-infra-conflict-art-and-the-regime-of-thedocumentary-image/ (3 de dezembro de 2017)
- https://www.canopycanopycanopy.com/contents/the_flash_made_flesh (7 de Janeiro de2018)
- https://www.thephoblographer.com/2013/01/30/what-is-kodak-aerochrome-a-beginnersguide-to-the-confusion-of-lomochrome-purple/ (7 de Janeiro de 2018)
- https://www.artsy.net/artist/richard-mosse ( 25 de Maio de 2018)
- http://www.richardmosse.com (25 de Maio de 2018)
Disponibilizo também o trabalho que eu e a Teresa Maia, juntamente com outra colega, Lauren Sendles White, fizemos para a cadeira de Introdução às Artes Africanas, dada pelo Professor Carlos Garrido Castellano, a quem dedico este post por tudo o que nos ensinou e ajudou.
Rafaela Ramos de Faria, nº 147497
É interessantíssimo como este jogo de cores pode transportar o observador para um mundo "surreal". Neste sentido, o artista cria propositadamente uma instabilidade no espectador. Isto leva-nos a perguntar: o que é real e quem é que o decide?
ResponderEliminarTeresa Maia, nº147188
Boa Tarde!
ResponderEliminarJá tinha visto noutra ocasião algumas fotografias do artista em questão, e devo dizer que acho interessante como a simples utilização do rosa como cor dominante em algumas áreas muda inteiramente o tom das imagens.
As imagens ganham assim um toque surreal, mas continuamos a reconhecê-las como retratos do nosso mundo, sendo que com estas cores, algo parece estar "slightly off".
Telmo Alves Nº 146086
Grata pela partilha, Rafaela, e pelos vossos comentários, Teresa e Telmo. Sim, é impressionante a nossa propositada cegueira face aos horrores do mundo, dos quais beneficiamos indiretamente, como cidadãos dos países mais ricos: a este propósito, podem ler "Children of the Congo who risk their lives to supply our mobile phones", um artigo do cineasta F.P. Poulsen, que nos faz pensar duas vezes antes de continuarmos a acumular gadgets de última geração.
ResponderEliminarhttps://www.theguardian.com/sustainable-business/blog/congo-child-labour-mobile-minerals