quarta-feira, 5 de maio de 2010

Walter De Maria & Sophia de Mello Breyner Andresen

Walter De Maria,
The New York Earth Room (1977)
141 Wooster Street, NY

250 cubic yards of earth (197 cubic meters)
3,600 square feet of floor space (335 square meters)
22 inch depth of material (56 centimeters)
weight: 280,000 lbs. (127, 300 kilos)


Walter De Maria nasceu no dia 1 de Outubro de 1935 em Albany, California. Estudou História e Arte em Berkeley, na University of California (1953-59). Entre 1959-60 organizou nessa Universidade e também na California School of Art (S.Francisco) uma série de happenings (forma de expressão teatral que surge no final dos anos 50 e início de 60). Em 1960 vai viver para Nova Iorque onde três anos depois realiza a sua primeira exposição individual. Foi baterista dos Velvet Underground em 1965, banda que "nasceu" do atelier de Andy Warhol da década de 60, The Factory (que era também um ponto de encontro de pintores, músicos e outros artistas) e actuou no Exploding Plastic Inevitable (66-67), um evento organizado também por Warhol.
Anterior ao The New York Earth Room (1977), existiram outras duas instalações: uma primeira em Munique (1968) e uma segunda em Darmstadt, no Hessisches Landesmuseum (1974).


Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inultimente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia (1944)


Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) é um dos nomes mais importantes entre os poetas contemporâneos. De origem dinamarquesa, pelo lado paterno, passou a sua infância na quinta do Campo Alegre (actualmente Jardim Botânico do Porto), no seio de uma família aristocrática. A adolescência foi passada entre o Porto e Lisboa. Em Lisboa frequentou o Curso de Filologia Clássica e após o casamento com o advogado Francisco Sousa Tavares, fixou-se nesta cidade. Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores pelo seu Livro Sexto (1962). Sobre a sua poesia, Sophia disse ser "(...) a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala de uma vida ideal mas sim de uma vida concreta (...)". (1)


Relação entre o poema e a instalação

No poema, o sujeito poético vê a cidade como um lugar vil onde se sente aprisionado ("E eu estou em ti fechada e apenas vejo/ Os muros e as paredes") e onde sente que a sua vida lhe é roubada ("Saber que tomas em ti a minha vida"). As paredes e muros à sua volta impedem-no de ver "o crescer do mar" e "o mudar das luas". A cidade surge como ideia de exílio não só do corpo físico como também do corpo espiritual ("E que arrastas pela sombra das paredes/ A minha alma"). O mar, as ondas, as praias, as montanhas, as planícies e as florestas são evocações de imagens da natureza.
Nova Iorque é a cidade que nunca dorme, cidade inquieta ("vaivém sem paz das ruas") e toda ela repleta de muros e paredes nos edifícios que se erguem imponentes. The New York Earth Room é uma instalação num apartamento "habitado" por terra fértil. O cheiro intenso do solo e a luz que entra pelas janelas faz-nos por momentos esquecer que estamos dentro de um apartamento em Nova Iorque e podemos imaginar-nos no meio da natureza, deitados na terra e com o sol a bater-nos na cara. No poema de Sophia há uma clara oposição entre o espaço urbano e o espaço natural e De Maria parece jogar com essa oposição na procura de uma espécie de convívio entre ambos no seu The New York Earth Room.


Bibliografia:

- Andresen, Sophia de Mello Breyner. Obra Poética I. Lisboa. Caminho, 1999. (1)
- Andresen, Sophia de Mello Breyner. Obra Poética III. Lisboa. Caminho, 1999.
- Naylor, Colin (ed.). Contemporary Artists. Chicago and London. St James Press, 1989.
- Phaidon Press (eds.). Phaidon Dictionary of Twentieth-Century Art. London. Phaidon, 1973

Web:
- http://artwelove.com/venue/-id/ca2d742d
- http://www.diaart.org/sites/main/earthroom
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofia_de_Melo_Breyner
- http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/05/19/AR2009051903443.html
- http://tate.org.uk/collections/glossary/definition.jsp?entryId=131
- http://en.wikipedia.org/wiki/The_Factory

Raquel Correia
nº34379

7 comentários:

  1. Deixo-vos 2 links,no primeiro estão os Velvet Underground a tocar no "The Factory" com uns meninos e meninas a dançarem e o segundo fala sobre o "Exploding Plastic Inevitable".
    Enjoy:)

    - http://www.youtube.com/watch?v=vgcuU_JWuQU

    - http://www.youtube.com/watch?v=eYOozSyKcUg

    Raquel Correia

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  2. Olá Raquel, parabéns pelas escolhas.

    À semelhança de Eugénio (de Andrade), também Sophia era uma filha do Sol, do Mar, enfim, do mundo naturalmente belo. Basta comparar muitos dos poemas de ambos os autores.

    A meu ver, De Maria propõe nesta obra aquilo que podemos tentar trazer junto de nós, quando de tal privados. Uma vida essencialmente urbana tende, de facto, a privar a fruição de elementos e atmosferas pouco distantes. Numa grande cidade cosmopolita quase esquecemos a existência da Lua.
    Talvez seja este o aspecto fundamental em ambas as obras (De Maria e Sophia), isto é, a luta contra o esquecimento do belo /natural e da sua fruição /contemplação.

    A distância efectiva pode, afinal, residir apenas no nosso pensamento e opção de vida.

    Um abraço,

    Fernando Claudino
    Aluno n.º 36447

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  3. Raquel, as tuas escolhas são muito interessantes!

    Esta instalação de De Maria é fabulosa na sua sugestão de uma "reconquista" do espaço que em tempos foi natural, e que agora pertence ao domínio da cidade. Quanto ao poema de Sophia, recorda-nos a prisão urbana que estranhamente não conseguimos abandonar.

    A relação intertextual remete-nos, portanto, para a oposição entre espaço urbano e espaço natural que referiste. Neste jogo dicotómico, Sophia apresenta o problema ("E eu estou em ti fechada e apenas vejo / Os muros e as paredes, e não vejo / Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas."), e De Maria dá-nos uma possível solução, nesta invasão do corpo natural, fértil e indomável.

    Dinâmica melhor que esta, não há! :)

    Boa sorte!

    Ana Luís
    nº37852

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. E não poderia este "New York Earth Room" estar ligado à morte? Fiz de imediato essa associação também sugerida no poema:
    "E eu estou em ti fechada e apenas vejo
    Os muros e as paredes, e não vejo
    Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

    Saber que tomas em ti a minha vida"

    Catarina Ramalho
    Nº37682

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  6. Olá Raquel,

    achei as tuas escolhas muito interessantes, até pela complexidade da temática da cidade e do corpo na cidadde. Venho partilhar que quer o poema, quer a fotografia me transmitiram a sensação de corpo enclausurado, de um corpo que vive na agitação e nos limites da cidade e que não tem mais para onde se virar. Senti que o corpo da cidade muito limitado pelas características do espaço e do tempo citadino, para o mal e para o bem.

    boa apresentação amanhã e perdoa-me o comentário tardio, espero que ainda ajude.

    Ana Nunes
    nº 37093

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  7. Viva colega e parabéns pela escolha da obra do De Maria.
    Louvados sejam todos os capazes de nos proporcionar a sensação de bem-estar através de uma forma bela. É o que sinto com o trabalho deste artista. Toda a arte tem uma função crítica intrínseca e talvez a arte esteja em transformar aquilo que se critica em algo melhor, por intermédio do contributo que lhe é prestado pelo artista, que no caso de WDM, fá-lo com a já referida ironia – como a sua cereja no topo da colher – mas também explora os momentos belos que a natureza nos oferece – The Lightning Field. A obra escolhida, inserida no panorama de Land Art, ou seja, pressupondo o exterior, fora de portas e dos museus é tão subversiva como genial, já que é uma peça no interior apelando ao exterior. Sugerindo o oposto daquilo que se tem em Nova York mas que existe dentro das pessoas - ainda que, de formas diferentes – a sensação de ligação à Terra através da terra ou do cheiro da terra e do estado de espírito em que nos encontramos quando estamos no campo, ou pelo menos em contacto com a natureza de alguma forma. E é isso que sinto com este New York Earth Room, acredito que mesmo os nova-iorquinos mais urbanos, quando em contacto com esta instalação, serão capazes de perceber o sentido do apelo que o artista procurou transmitir. Mesmo aqueles que consideram o silêncio do campo ensurdecedor reconhecem a tranquilidade e o ritmo das pessoas que vivem fora dos grandes centros urbanos, como uma virtude.
    (…) – quando se gosta parece que fica sempre tudo por dizer, por mais que se diga…ou escreva.
    Obrigado por me linkares a este senhor e boa sorte para a apresentação.
    Saudações,
    Bruno Santos, nº 37675

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