Chattanooga, Tennessee, 1995, Robert Frank
«These moments were not always quite spontaneous; as often as not they followed a subtle effort of vanity on his part, a form of masculine flirtation that was as skillful as any girl’s. Walking toward or away from her across a restaurant floor, for example, he remembered always to do it in the old “terrifically sexy” way, and when they walked together he fell into another old habit of holding his head unnaturally erect and carrying his inside shoulder an inch or two higher than the other, to give himself more loftiness from where she clung at his arm. When he lit a cigarette in the dark he was careful to arrange his features in a virile frown before striking and cupping the flame (he knew, from having practiced this at the mirror of a blacked-out bathroom years ago, that it made a swift, intensely dramatic portrait), and he paid scrupulous attention to endless details: keeping his voice low and resonant, keeping his hair brushed and his bitten fingernails out of sight; being always the first one athletically up and out of bed in the morning, so that she might never see his face lying swollen and helpless in the sleep. Sometimes after a particularly conscious display of this kind, as when he found he had made all his molars ache by holding them clamped too long for an effect of grim-jawed determination by candlelight, he would feel a certain distaste with himself for having to resort to such methods – and, very obscurely, with her as well, for being so easily swayed by them. What kind of stuff was this? »
YATES, Richard, Revolutionary Road, Vintage Contemporaries, 1989, USA: 218
O Corpo do Casal
Em 1955, o fotógrafo suíço Robert Frank parte numa road trip pelos Estados Unidos da América, país que habitava há quase 10 anos, com o objectivo de fotografar pessoas de vários cidades e estados, ao longo do rio Hudson. The Americans capta o quotidiano de cidadãos americanos comuns, através de o olhar de um estrangeiro, num género de fotografia documental, associado ao estilo do snap shot, (uma pequena máquina captava imagens numa sequência rápida) acentuando a singularidade dos momentos quotidianos. A polémica em torno deste trabalho de Robert Frank atrasou a sua publicação nos Estados Unidos, onde só em 1959 foi publicado, um ano depois de ter sido editado na Europa, mais precisamente em Paris.
Em 1961, Richard Yates publica o romance Revolutionary Road, que retratava a mentalidade da sociedade norte-americana precisamente no ano de 1955. O romance de Yates foca-se num casal que tenta, em vão, resistir à pressão social sobre a construção da família ideal dos subúrbios e do Sonho Americano: o homem trabalhador que sustenta a família e a mulher mãe e dona-de-casa. O livro teve bastante sucesso na época e ainda hoje é tido como uma referência para o retrato da mentalidade americana.
O excerto e a fotografia escolhida referem-se a um casal dos anos 50, o que na imagem de Robert Frank é visível pelo vestuário característico da época: o homem que usa um casaco de cabedal, popularizado pelos filmes adolescentes protagonizados por James Dean, o cabelo a fazer um género de poupa, como o cantor Elvis Presley e a rapariga maquilhada e vestida com muito cuidado e muito produzida, sendo o lenço também um toque da época, remetendo imediatamente para as estrelas femininas do cinema como Marilyn Monroe ou Audrey Hepburn. A combinação das suas posturas com o guarda-roupa revelam o modelo social dos anos 50; o herói masculino que tem de proteger a sua donzela indefesa. O rapaz coloca estrategicamente o braço em volta da rapariga, e esta aparenta ter um ar mais indefeso. No excerto escolhido esta pressão social é sentida e referida por parte do elemento masculino: “when they walked together he fell into another old habit of holding his head unnaturally erect and carrying his inside shoulder an inch or two higher than the other, to give himself more loftiness from where she clung at his arm.” O seu corpo parece aderir a uma ficção social em que ele sente que deve ser o herói, o elemento forte da relação. No excerto e na fotografia o corpo do elemento feminino também se mostra sujeito a esta idealização social, parecendo submeter-se à atitude corporal do herói masculino: “he would feel a certain distaste with himself for having to resort this methods (…) with her as well, for being so easily swayed by them.”
Apesar disto, a fotografia parece levantar uma questão de ambiguidade por parte do corpo do casal; ao separar o casal da multidão circundante, quase imperceptível ao fundo, parece sugerir que este casal se pretende afastar da norma social, caminhando noutra direcção. E também no excerto a dúvida final: “What kind of stuff was this?” parece querer recusar as imposições sociais, podendo ser lida como correspondendo à postura de afastamento presente na fotografia.
Existe na intertextualidade um contexto de época muito forte, a presença dos anos 50 reflecte-se nos corpos e na sua encenação social. É curioso constatar que podem ser criadas muito mais relações entre esta série de fotografias de Frank e o romance de Yates, visto ambos retratarem a mesma época e de maneiras algo semelhantes, reproduzindo os quotidianos mais triviais. É importante mencionar a adaptação cinematográfica do romance, realizada por Sam Mendes, em 2008 e protagonizada por Kate Winslet e Leonardo Dicaprio, a sua fidelidade à obra homónima permite que também se crie uma forte relação com a imagem de Frank.
Bibliografia (e sitiografia):
YATES, Richard, Revolutionary Road, Civilização, Lisboa, 2009: 91
SONTAG, Susan, On Photography, Penguin, London, 2008 (pg111)
WELLS, Liz (second edition), Photography: A Critical Introduction, Routledge, New York, 2002
http://www.cotianet.com.br/photo/great/robfra.htm
http://www.nga.gov/exhibitions/frankinfo.shtm
http://www.pacemacgill.com/robertfrank.html
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/2009/jan/29/robert-frank-america-photography
http://www.culturekiosque.com/art/exhibiti/robert_frank_theamericans_lookingin443.html
Ana Nunes, 37093
Estudos Artísticos - esp. em Artes do Espectáculo
Faculdade de Letras da UL
Muito bem, Ana:
ResponderEliminarValeu a pena empenhar-se no processo de revisão e melhoramento, o seu trabalho está muito interessante e promete polémica!
Retire repetição "referem-se a um casal dos anos 50, dos anos 50" acima. Acrescente lista da bibliografia consultada no final, incluindo referências das obras em análise.
Vemo-nos segunda-feira na aula sobre o F. L. Wright.
Diana Almeida
Ola, Ana
ResponderEliminarThe image really moves me. This couple is so typical for their times. The woman has clothes straigt from the 50' and she is the first to catch our attention as we look at the picture.
She seems to be so cold, but also so small close to a man. A man is embracing her his arm - it is just like it used to be. The social role (especially important in 50') are preserved.
Abracos,
Jagienka Szymańska