terça-feira, 27 de abril de 2010

BARBARA KRUGER & ANA HATHERLY

Barbara KrugerUntitled (I shop therefore I am), 1987
Biografia de Barbara Kruger
Barbara Kruger (fotógrafa e artista conceptual) nasceu em 1945 em New Jersey. Estudou Arte na Universidade de Syracuse em Nova Iorque e o seu trabalho foi exibido no mundo inteiro.
No seu trabalho usa as cores Preto, Branco e Vermelho.
Kruger manipula a imagem (montagem de imagens e texto) e faz os seus comentários sobre as questões sociais.
O seu trabalho torna-se em ícones visuais demonstrativos da maneira como era construído o poder nos anos 1980 e 1990 altura em que o outdoor era considerado um suporte para divulgar apenas anúncios que incentivavam o consumismo e promoviam a competividade entre as empresas.
A ousada abordagem de Kruger tem como objectivo trazer uma discussão inquietante entre a sua obra e o espectador uma vez que critica a sociedade através do tema consumista num ambiente consumista.
A artista realiza nas suas obras uma crítica às relações sociais, ao estilo de vida do ser humano, às formas de dominação, aos estereótipos que o homem constrói e aos preconceitos.
A influência do feminismo é predominante, destacando e desafiando as normas patriarcais e as relações de poder usando um estilo de agitprop (propaganda política)
Por ser uma artista da geração pós-modernista, Kruger tenta induzir nas suas obras a reflexão dos observadores assim como trabalhar para que as suas obras tenham sempre uma essência crítica aos paradigmas da época.
Kruger teve exposições no Museu de Arte Contemporânea em Los Angeles, Whitney Museum em New York, Tate Gallery - Londres, Rhona Hoffman Gallery – Chicago, Yvon Lambert – Paris e Spruth Magers Berlin Londres.


O decifrador de imagens

O decifrador de imagens
persegue um fantasma de vestígios
como Ulisses amarrado
ao querer do conhecer
A descoberta é invenção provisória:
as vozes não se vêem
o que se vê não se ouve
A imaginação
ergue-se do arrepio da sombra
guerrilha entre parênteses
ergue-se da constante chacina
procurando outra coisa
outra causa
o outro lado do ver
Ana Hatherly
2003


Biografia de Ana Hatherly

Ana Hatherly (Porto, 1929) é poetisa, ensaísta, investigadora, tradutora, professora universitária e artista plástica portuguesa.
Membro destacado do grupo da Poesia Experimental Portuguesa nos anos 1960 e 1970, tem uma extensa bibliografia poética e ensaística. Dedicou-se também à investigação e divulgação da literatura portuguesa do período barroco tendo fundado as revistas Claro-Escuro e Incidências. Membro da Direcção da Associação Portuguesa de Escritores nos anos 1970, foi também membro fundador e depois Presidente do P.E.N. Clube Português e Presidente do Committee for Translations and Linguistic Rights do P.E.N. Internacional.
Em 1978 foi agraciada pela Academia Brasileira de Filologia do Rio de Janeiro com a medalha Oskar Nobiling por serviços distintos no campo da literatura. Em 1998 obteve o Grande Prémio de Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores; em 1999 o Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português; em 2003 o Prémio de Poesia Evelyne Encelot, em França, e o Prémio Hannibal Lucic, na Croácia.
Paralelamente tem uma carreira como artista plástica, iniciada nos anos 1960, com um extenso número de exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro. As suas obras encontram-se nos principais Museus de Arte Contemporânea de Portugal e em colecções privadas nacionais e estrangeiras.
Relação texto/obra

O decifrador de imagens seria a própria artista Barbara Kruger que tenta revelar através da sua arte o segredo que se encontra por detrás da política, da publicidade que incentiva ao consumismo.
Persegue e critica a política e a sociedade querendo dar a conhecer às pessoas a realidade para poderem ter conhecimendo de que estão a ser enganados.
A descoberta que seria a arte de Kruger é uma invenção provisória na sociedade porque ninguém quer encarar a realidade por muito tempo e deixa-se influenciar de novo pela sociedade em que vive. Uma sociedade consumista e politicamente injusta que inspira Kruger na sua arte, erguendo-se a imaginação “do arrepio da sombra” ou seja das mais profundas mentiras, enganos da sociedade.
A guerrilha que se ergue da constante chacina representa talvez a mesma sociedade consumista que é vitima da política, da economia, da publicidade tal como o gado que é morto para alimentar.
A artista procura o outro lado do ver mostrando-o na sua arte de uma maneira irónica e crítica.




Trabalho realizado por:
Ada Andreea Dirvareanu

9 comentários:

  1. Boa escolha de texto, Ada.
    Sugiro que reduza os dados biográficos de Ana Haterly (a enumeração dos prémios que recebeu ou das instituições que fundou, por exemplo, não tem qualquer relevância para o seu trabalho).
    Explore melhor a leitura do poema para a sua apresentação (tem muito tempo ainda!) e as sugestões que lhe apresentei via mail para ler a obra de Kruger.
    Por fim, será importante ter em conta que a temática unificadora é o CORPO.
    Diana Almeida

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  2. Olá Ada,

    achei as escolhas muito interessantes. Penso que a relação da imagem com o feminismo é muito forte e a Kruger como feminista parece ter feito as coisas de forma bastante consciente. A noção de consumismo é muito formatada e normalmente é mais associada às mulheres e pareceu-me que a imagem estava muito direccionada ao feminino, mas funcionando como chamada de atenção ( consciência) ou até como crítica social. Porém, a mão que segura a mensagem é uma mão masculina, que não deixa de ser interessante e levantar várias hipóteses de interpretações.
    Os meus comentários são mais direccionados para a imagem, mas foram mesmo os dois pontos que me surgiram logo na primeira impressão e achei que valia a pena partilhá-los. Espero ter ajudado, gostei mesmo das escolhas e do trabalho.


    Ana Raquel Nunes
    nº 37093

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  3. Cara Ada,

    Não deixa de ser curiosa a relação entre esta imagem de Barbara Kruger e o estilo (cromático e não só) da propaganda tipicamente comunista. A disposição da mão que sugere uma estrela de cinco pontas e as palavras de ordem a vermelho, são disso exemplos.
    Contudo, trata-se aqui de consumismo para se poder ser, e não de comunismo para se poder "atacar".
    O poema de Ana Hatherly refere, a dado momento, a guerrilha e a chacina, como por ti sublinhado.
    Estamos assim perante diferentes formas de guerrilha, publicitária e propagandista, que nos tomam de assalto, bombardeando-nos constantemente com palavras de ordem, indicandoras do "caminho para a salvação".
    Refira-se ainda, que em ambos os casos (imagem e poema), está implícita uma procura, ou incitamento, à descoberta e à imaginação individual, desconstrutora de convenções e mentiras sociais.

    Um abraço,

    Fernando Claudino
    Aluno n.º 36447

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  4. Ada,
    adoro a tua escolha, pela (tão verdadeira) provocação que representa.

    A relação intertextual que estabeleceste “iluminou-me” para uma nova leitura da mesma.

    Se o “decifrador” é a artista, talvez os “fantasmas de vestígios” sejam o objecto da sua crítica. Destes fantasmas, cujas “vozes não se vêem”, vemos apenas uma mão. Mas a mão faz parte de um todo – o corpo, claro!

    Curiosamente, este corpo representado não é uno. Pelo contrário, apresenta-se fragmentado (só vemos a dita mão), anónimo (neste fragmento corporal não há um traço de singularidade que permita identificar um indivíduo – característica assaz conveniente numa assumida crítica social) e, acima de tudo, profundamente manipulado na mensagem que transmite (I shop therefore I am. Palavras para quê?)

    Boa sorte, Ada!

    Ana Luís nº37852

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  5. Ada,Parabéns pelas escolhas. É interessante o papel do corpo nesta imagem, conforme referido pela Ana Luís, trata-se de um segmento do corpo, uma mão que exibe a mensagem. Faz lembrar as mãos que expõem jóias, nas montras das ourivesarias, sendo que a sua delicadeza, aqui, foi substituída por uma mão masculina...

    Catarina Ramalho
    nº37682

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  6. Olá Ada,

    Gostava de sublinhar o elemento pós-modernista na composição da imagem. Apesar de tal statement, que figura na colagem gráfica não consigo ficar indiferente à mão (já muito referida nos comentários). O meu foco é mais no fragmento que esta mão representa. Na verdade não individualiza ninguém. Esta alienação parece-me ir de encontro à voz apagada da sociedade, essa que a artista pretende despertar. Voz também invocada por Anna Hatherly. Neste binómio voz (linguagem) – imagem (visão) estamos na questão do espectador que diz alto o que vê escrito (muito da arte conceptual aqui também presente). O corpo representado, digo eu, não é exponencial nesta representação; não esquecendo o corpo do espectador que dará uma performatividade semântica à obra.
    O quadrado vermelho onde está inscrita a frase lembra-me um objecto: um íman (de colar no frigorífico!) ou uma placa a qual alguém comprou e agora exibe com orgulho. Li que esta imagem foi muitas vezes reproduzida em sacos de transporte (tot bags) muito trendy na altura.

    Bom trabalho!

    Maria Carneiro (nº35164)

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  7. Obrigada pelos comentários. Irei imprimi-los e mencioná-los na Quarta-feira na apresentação do trabalho.

    Um beijinho,
    ADA

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  8. E peço desculpa por não ter tido tempo de vir aqui comentar com maior profundidade os vossos comentários :S

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  9. Olá Ada,
    antes de mais quero felicitar-te pela escolha da imagem e do texto, que a meu ver estão muito bem relacionados.
    A imagem sugere-me o poder manipulador que a publicidade tem, a mão representará esse poder tal como um prestidigitador cria truques de ilusão de modo a convencer o público.
    Pegando na frase do poema escolhido:(...)as vozes não se vêem(...),estabeleço uma relação com a imagem na medida em que esta anuncia o que foi dito pela voz de alguém que não se mostra e que no seu anonimato revela um poder alienatório e quase mágico.
    Achei também muito interessante a forma como a artista direciona o seu trabalho numa perspectiva de alerta social.
    Boa sorte.

    Iolanda Batista
    nº 37683

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