terça-feira, 2 de junho de 2009

Mike Kelley / Mário Quintana


Cover for Sonic Youth’s Dirty, 1992



Recordo Ainda
de Mário Quintana
Recordo ainda (e nada mais me importa)
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta…
Mas veio um vento de desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…
Estrada afora após segui… Mas, ai!
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino – acreditai -
Que envelheceu, um dia, de repente…

Mike Kelley

Nasceu a 1954 em Detroit. Produziu desenhos, objectos, performances, vídeos
Criou os chamados ”Stuffed animals” (Cartoons).
Produziu capas de álbuns de bandas de rock alternativo (Sonic Youth, Nirvana).
Predominam nas suas obras as cores vivas.
É um dos artistas americanos contemporâneos mais importantes a reflectir / pensar sobre a cultura popular, a sua iconografia e os seus rituais. Colabora regularmente com outros criadores onde reside, na vizinhança de Paul McCarthy, Tony Oursler, Jim Shaw ou John Miller.


Mário Quintana

1906-1994
Natural de Alegrete, fez as suas primeiras letras na sua cidade natal, mudando-se em 1919 para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Militar, publicando aí as suas primeiras produções literárias. Trabalhou na Editora Globo e depois na farmácia paterna.

Considerado o "POETA DAS COISAS SIMPLES" trabalhou como jornalista quase toda a sua vida.
Em 1940 lançou o seu primeiro livro de poesias, A rua dos cataventos, iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. Em 1966 foi publicada a sua Antologia poética, com 60 poemas inéditos, lançada para comemorar os seus 60 anos.

É possível notar na obra do poeta uma forte influência de textos bíblicos, tais como semelhança a provérbios. Na sua obra tenta exprimir uma moral recorrendo à reflexão. As suas obras são marcadas pela ironia, profundidade, pessimismo, ternura em certos aspectos e perfeição técnica.
"Apreciador das coisas aparentemente irrelevantes da vida", Mário Quintana é um pensador, e sua filosofia é manifestada no verso.
Algumas relações intertextuais: Saudade dos tempos de criança (revolta), sentimento de ser eternamente criança, presença dos brinquedos, ligação afectiva, felicidade esvanecida.





Bibliografia
- DOSS, Erika, Twentieth-Century, Oxford History of Art


Sitiografia
- http://blog.sitedepoesias.com.br/poemas/recordo-ainda/
- http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp
- http://www.geocities.com/athens/acropolis/2776/quintana.html
- http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Quintana
- http://www.paulomendes.org/?pagina=noticias/noticias&accao=ver_noticia&id_noticia=63


Raquel Comprido, nº 38995

16 comentários:

  1. olá...
    Acho que escolheste um artista norte-americano interessante, confesso que estou com curiosidade em ver a tua apresentação. Queria apenas acrescentsar que o Mike Kelly tambem escreve para jornais de arte e musica.Boa sorte.

    Aurélio

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  2. Não me interpretes mal, não tenho nada contra "Saudade dos tempos de criança", mas parece-me um pouco irreflectido e ingénua a tua escolha de Mike Kelley. Podes ler em "O livro da Arte do Século XX" (Texto Editora, página 230) acerca de Kelley e precisamente um trabalho dele com peluches: «Os brinquedos macios e sujos desta obra (...) traz ao de cima (...) irritação pelo sentimentalismo por eles evocado.» Kelley demonstra antes uma atitude crítica e desconstrutivista.

    Yves Berndt dos Santos

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  3. Alias, encontrei comentário dele que me parece demonstrar esta sua atitude:

    Popular culture is really invisible. People are really visually illiterate. They learn to read in school, but they don’t learn to decode images. They’re not taught to look at films and recognize them as things that are put together. They see film as a kind of nature, like trees. They don’t say, 'Oh yeah, somebody made that, somebody cut that.' They don’t think about visual things that way. So visual culture just surrounds them, but people are oblivious to it."
    - Mike Kelley

    http://www.pbs.org/art21/slideshow/?slide=831&artindex=16

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  4. Estas obras de Kelley com os peluches e coisas do género faz-me lembrar todos aqueles brinquedos super velhos que muitos de nós insistem em guardar, e há sempre um especial.
    Reparei imediatamente na cor super forte que o boneco tem, e isso leva-me a pensar que o boneco não é propriamente velho porque com o tempo as cores vão desgastando e isso não aconteceu com este.
    Acho bastante contraditório porque o boneco em si não é muito apelativo, é feio! Parece feito de retalhos, o que leva a pensar que pode ser velho, e depois a cor vai-se opôr à idade por ser tão viva.

    Milene Cardoso, n.º 37912

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  5. Espero que não me levas a mal o meu comentário crítico, mas gosto de ser sincero e directo. Acho os comentários, tipo: "Ai, que interessante..." pouco produtivos.

    Só penso que talvez seja injusto, pois, já podia ter dito o mesmo a outros textos, mas não tive acesso a computadores, não conhecia os autores e alguns até me deixaram incrédulos. Nem pensei que fossem aceites...

    "Desculpa"

    Cumprimentos

    Yves

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  6. Hmm... tanto a imagem como o excerto do texto produzem um certo sentimento de nostalgia "Sou um pobre menino - acreditai -\ Que envelheceu, um dia, de repente...", talvez um dia quando todos nós tivermos envelhecido, recordaremos o passado e as nossas memórias. Ambos elementos do teu trabalho têm uma grande carga emotiva, pelo menos é o que eu sinto.
    Não vou discutir aquilo que o Yves disse, acho que estás no teu direito de escolher o que quiseres.
    Fico à espera da tua apresentação. Já agora, o teu post não está assinado.

    Israel

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  7. A minha intensão não é alimentar uma possível discussão entre o que o Yves comentou, mas se calhar essa observação pode-se remeter para a última aula (dia 19) em que vamos abordar o tema "O que é a arte norte-americana?". Pelo menos fica uma reflexão da parte dele!

    Quanto ao teu trabalho:
    1) Mais uma vez desconhecia o autor e, ao pesquisar no google, vi que a imagem que vais apresentar pertence à capa do álbum dos "Sonic Youth - Dirty" (acho que devias ter feita essa referência).

    2) Infância - acho que esta palavra é um dos centros da inter-textualidade. Todo o poema remete para uma infância cheia de "saudade" por parte do sujeito poétoco. O boneco da imagem pode ser um símbolo dessa mesma infância longínqua.

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  8. A questão que o Yves levanta é muito interessante, e penso que fez bem em fazer esse reparo, porque também a mim me cheira que não estamos aqui para dar palmadinhas nas costas uns dos outros, embora isso seja muito lindo e também faça muito bem ao ego.
    Foi um reparo muito bem feito porque chamou, a ti e a nós, a atenção para a intencionalidade do artista ao criar essa peça, que, ao que parece, vai um pouco contra o diálogo que pretendes estabelecer entre a obra visual e o poema. Ainda assim, parece-me que a tua visão continua a ser perfeitamente legítima, desde que sustentada na tua percepção da obra. Quando um artista cria e expõe, sabe que não terá controlo sobre a percepção dos outros da sua obra. Há aliás vários artistas que dizem que, a partir do momento em que a sua obra entra no domínio público, a obra deixa de ser deles, passa a ser de cada um de nós, e deixa de haver uma obra, mas tantas quanto as sensibilidades às quais a obra é submetida.
    Esta tua leitura torna-se ainda mais interessante sabendo que é oposta (tu acabas por trazer para o teu trabalho esse sentimentalismo que ele considera irritante) à intenção do artista porque, sem o saberes, provaste aqui esse valor por vezes esquecido que é a autonomia da obra de arte. Se a obra poderá ser dissociada dos vários contextos que envolveram a sua produção, ou não, é uma questão complexa, e que dá pano para mangas. Na minha opinião, pode e deve. Dá flexibilidade e vida à obra, e a pluralidade de olhares promove necessariamente a reflexão e a discussão, que é do que de mais interessante há em relação à arte.
    Por outro lado, é outra característica de muita da arte contemporânea, essa qualidade meio hermética, em que se dificulta imenso o acesso directo às verdades que se pretende convergir no objecto artístico, sendo muitas vezes necessárias explicações acessórias como intermediários entre o público e a obra. Este teu trabalho também é uma prova disso. E note-se que estou a dize-lo sem fazer julgamentos. Não creio que seja boa ou má esta característica (que também não é exclusiva da arte contemporânea, como é óbvio). Parece-me bom, muito produtivo, se houver a capacidade de aceitação de que há sempre diversas formas de olhar um objecto artístico. Porque o objecto artístico não existe acoplado ao seu criador, mas para além dele.
    Tenho estado a dizer tudo isto porque são as reflexões que tenho tido após ler o teu texto e os comentários dos colegas. Concordo com o Yves, mas também não creio que isso seja um empecilho no teu trabalho. Parece-me é que, agora que tens acesso a estas informações partilhadas pelo Yves, poderás desenvolver ainda mais a tua visão da obra. Reflectir no que te levou a pensar da forma como pensaste a obra (e não de outra forma qualquer), e reflectir no que o Mike Kelley pensa sobre a sua obra, e depois, quem sabe, criar um diálogo entre essas duas reflexões, e chegar a conclusões fascinantes, ou talvez não. Também não é importante. Como dizia não sei quem, não interessa onde se chega, mas o caminho que se percorre.
    Força nisso e bom trabalho.

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  9. Ai que bom: uma "discussão" (em alemão esta palavra não tem conotação negativa, como me parece em português). Gosto de confrontar ideias, mas cada um tem a sua "razão". Pena a discussão na aula incentivada por Eurico não ter prosseguida...

    Esqueci-me de dizer que também só comentei para ter os meus quatro comentários obrigatórios. E pensei que fosse a minha última hipótese. :-) O meu comentário teria sido mais apropriado para a apresentação da Silvia acerca de Dorothea Lange.

    Concordo completamente com o Zé. A obra de arte é autónoma e cada um a pode interpretar como quiser. Também se diz que a obra de arte só começa a "existir" enquanto houver um espectador e que este está livre de a interpretar como quiser.

    Eu, com o meu trabalho artístico até prefiro muitas vezes os comentários das pessoas não ligadas às artes, quando ultrapassam o "não percebo nada disso", pois, são mais sinceros (e os outros normalmente também não dizem "nada" - do género "é interessante", e para mim muitas destas interpretações, que fazem leituras que eu não fiz, enriquecem o meu trabalho.

    É engraçado que viste a referência ao Mike Kelley no site do Paulo Mendes, uma pessoa que fez muito pelas artes plásticas em Portugal, sobretudo nos anos 90 (organizou e foi curador de muitas exposições, etc.), mas que é/foi mal amado em Portugal, pois não faz parte dos "Beautiful People" e também é bastante crítico e é mais neutro e não "simpático" (que por vezes parece-me o único que conta em Portugal. Podes fazer tudo o que quiseres, nas costas das pessoas, desde que sejas "simpático" e vestes fato e gravata :-) É uma sociedade muda. Somente os políticos atiram-se lama uns aos outros, a ver se pega. Bom, fico por aqui...

    So a Raquel ainda não disse nada :-)
    Espero não a/te ter "assustada", mas também penso que devemos defender os nossos pontos de vista. Força, não te deixes atrapalhar por mim. Também tenho saudades da infância, por vezes.

    Obrigado Zé.

    Yves

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  10. Quando me referi à saudade dos tempos de criança, queria referir-me à lembrança que trazemos pela vida fora dos nossos brinquedos, alguns dos quais até gostamos de guardar, porque tiveram este ou aquele significado.
    Quanto à "discussão" Yves, concordo contigo, nem é aspecto negativo nenhum, pois é bastante positivo, a meu ver, visualizar os diversificados pontos de vista de pessoas diferentes e sobretudo em áreas distintas.
    Portanto, penso que nenhuma perspectiva pode ser desconsiderada, muito pelo contrário, todas elas devem ser valorizadas.
    Estou decerto um pouco nervosa a respeito da minha apresentação, mas correrá como tiver que correr.
    Obrigada a todos.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Obrigada à Ana Claúdia por me lembrar que faltava o "nome" e a descrição da imagem, que eu até a tinha, mas esqueci-me de as colocar.

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  13. Concordo ainda com a Milene pois o contraste entre a cor viva e a expressão "triste" do boneco, que nem é nada bonito, são bastante notáveis.
    Gostei bastante de todos os comentários e Zé, temos aqui mesmo "pano para mangas".
    Veremos como corre.

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  14. Por acaso ia-te dizer que te tinhas esquecido de mencionar que fazia parte da capa dos Sonic Youth (como fez a Ana Cláudia) pois ainda há pouco tempo a vi em casa do meu irmão xp

    A primeira coisa em que pensei ao ver a imagem e logo depois ler o poema que escolhes-te foi que Kelley é aquele homem que quer os seus brinquedos de volta e, por essa razão, sejam "peluches" a sua arte... Também acho interessante o facto do boneco não estar realmente a sorrir com a "cara toda"... ou seja, a boca dele esboça um sorriso mas as sobrancelhas não o fazem da mesma forma...

    Tentei publicar aqqui o comentário ontem mas não sei porquê não consegui... No entanto espero que tenhas tempo de o ver antes da tua apresentação =/

    Boa sorte!

    joana Melo 37142

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  15. Gosto muito de Sonic Youth e fiquei entusiasmada por a Raquel ter escolhido uma capa de um álbum deles. Os Sonic Youth sempre tiveram uma relação muito próxima com as artes plásticas, todos os membros da banda colaboraram com artistas plásticos, realizadores, etc. Kim Gordon, por exemplo é artista plástica e foi curadora de arte em diversas galerias.
    Tal como o Yves também penso que os comentários do espectador ingénuo são muito interessantes e válidos. No entanto, a meu ver, quando analisamos mais aprofundadamente uma obra de arte devemos ultrapassar esse olhar ingénuo e fazer uma análise o menos superficial possível.
    A interpretação da Raquel da obra e da relação de intertextulidade desta com o texto parece-me muito literal e demasiado óbvia.
    Seria interessante se tivesses colocado a imagem do álbum inteira, com o nome da banda e do álbum, visto que ela é toda obra de Kelley, grafismo inclusive. Não haverá uma relação entre o nome do álbum e a imagem? Talvez o excerto do livro de “ O Livro da Arte do Século XX”que o Yves colocou no post ajude: «Os brinquedos macios e sujos desta obra (...) traz ao de cima (...) irritação pelo sentimentalismo por eles evocado.»
    As fotografias no interior do álbum também são de Kelley, talvez te possam a ajudar a compreender melhor a imagem que escolheste.
    Lembro também, para quem conhece outros álbuns da banda, eles tendem sempre a dar a ideia de serem alienados do objecto em causa, a música.
    A banda surge na altura do nascimento de um movimento musical conhecido por Grunge. Os temas Grunge tinham um tom normalmente sarcástico, lembro Smells Like Teen Spirit, dos Nirvana, as letras demonstravam por vezes muita raiva e angústia o que contrastava com a melodia usualmente melódica. Pode-se relacionar isto com a imagem.
    Há um artista plástico e músico português que explorou nas suas obras este universo dos Sonic Youth. Chama-se João Paulo Feliciano. Ele colaborou também com a banda em projectos relacionados com as artes visuais e tem de momento um projecto musical, os The Blues Quartet, com Lee Ranaldo, guitarrista e um dos fundadores dos Sonic Youth.

    Sara Sardinha
    Nº 35176

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