Ballet School
Fawns in the winter wood
Who feel their horns, and leap,
Swans whom the bleakening mood
Of evening stirs from sleep,
Tall flowers that unfurl
As a moth, driven, flies,
Flowers with the breasts of a girl
And sea-cold eyes.
The bare bright mirrors glow
For their enchanted shapes.
Each is a flame, and so,
Like flame, escapes.
Babette Deutsch
Imogen Cunningham (1883 - 1976) fotografou durante sete décadas. A autonomia artística da fotógrafa chegou sob a forma dos seus ensaios florais, singulares por uma representação excessivamente aproximada, que resulta numa abstracção do seu conteúdo.
Em 1932, já um nome conhecido no mundo artístico, Cunningham juntou-se a fotógrafos como Willard Van Dyke (1906 – 1986), Edward Weston (1886 – 1958) e Ansel Adams (1902 – 1984) para formar o Grupo f/64, que defendia uma imagem pura, focada e detalhada (tanto em foreground como em background), captada em sharp focus. Este movimento modernista, oposto ao Pictorialismo, advogava uma fotografia independente de narrativas, ideologias e contextos, e apenas limitada pelo meio de captação.
Imogen Cunningham conheceu Martha Graham (1894 - 1991) em 1931, num jantar em Santa Barbara. Seguiu-se uma sessão fotográfica em estúdio (por favor, sigam o link e façam scroll down até encontrarem as várias fotografias intituladas com o nome da bailarina), na qual a fotógrafa captou, em cerca de noventa negativos, uma série de imagens que tentava reproduzir os movimentos “ultracorporais” desta bailarina, figura pioneira na dança contemporânea.
A série capta com sucesso a essência da dança de Graham – um momento de ruptura com o cânone clássico, um momento de criação de uma nova “sintaxe gestual”. Este é, portanto, um “corpo modernista” que contrasta com o “corpo clássico”.
A fotografia que escolhi parece objectificar a ideia de ruptura no trapo vestido pela bailarina, e do qual ela se tenta libertar. O movimento de libertação, perpetuado nesta imagem, opõe um físico manifestamente orgânico e vivo, na sua nudez iluminada, a uma face congelada, na frieza das sombras e na fuga do olhar. É quase irónico constatar o modo como esta imagem, representante de um movimento estético que se opõe à fotografia narrativa, consegue transmitir tamanha subjectividade, apesar da aparente simplicidade do seu conteúdo.
Quanto à ponte intertextual, estabeleço-a através desta subjectividade das formas do corpo. Tanto no texto visual como no verbal, há uma possibilidade de transformação, de metamorfose. As bailarinas de "Ballet School" assumem uma fisicalidade que está para além do seu espaço corporal – são veados, cisnes ou flores. Já Martha Graham, fotografada sobre um fundo negro, parece flutuar na performance da arte que a liberta. O seu corpo transforma-se não num elemento de graciosidade natural, mas na “máquina” de excelência artística que a celebrou como a melhor bailarina do século XX.
Babette Deutsch (1895 – 1982) foi uma poetisa, romancista, tradutora e crítica norte-americana. A sua serenidade poética foi inspirada em temas artísticos, entre eles a pintura, a escultura, a música e, claro, a dança.
Ana Luís Pinheiro
nº37852
Bibliografia
CRAVEN, Wayne. American Art: History and Culture. Brown & Benchmark. Wisconsin: 1994.
DEUTSCH, Babette. The Collected Poems of Babette Deutsch. Doubleday & Company, Inc. New York: 1969: 25.
MARIEN, Mary Warner. Photography: A Cultural History. Lawrence King Publishing. London: 2006 (2nd Edition).
Sites Consultados
http://en.wikipedia.org/wiki/Imogen_Cunningham
http://en.wikipedia.org/wiki/Group_f/64
http://www.dptips-central.com/imogen-cunningham.html
http://quod.lib.umich.edu/cgi/i/image/image-idx?id=S-MUSART-X-1996-SL-1.78]1996_1.78.JPG
http://www.photographywest.com/pages/cunningham_bio.html
http://www.photoliaison.com/imogen_cunningham/Imogen_Cunningham.htm
http://www.poetryfoundation.org/archive/poem.html?id=172215
http://www.poetryfoundation.org/archive/poet.html?id=1754
O meu primeiro sentimento, depois de observar a fotografia, foi o da existência inata de movimento naquela figura, um desobstruir do silêncio e do quieto num movimento tanto cheio de fulgor, fúria e poder, como de cuidado e intencionalidade (imaginem, então, a minha reacção quando vi que era a fotografia de uma bailarina).
ResponderEliminarO que sublinho positivamente da tua apresentação, Ana, é sobretudo a ideia de ruptura delicada que sobressai tanto na fotografia como no poema, que se podem interligar com a tal ruptura - talvez mais pontuada - da dança contemporânea em relação àquela clássica. A forma como Martha rasga a camisola, deixando um seio visível, é toda ela delicada, como que um movimento de braço empurrando um ser inexistente durante um pesadelo. A imagem acaba por estar toda ela impregnada de subjectividade, ao meu olhar, não havendo uma narratividade inerente, mas sim uma referencialidade: não contando uma história, a imagem acaba por nos oferecer pequenos estímulos aqui e ali, cortando a própria simplicidade do objecto - que tu própria referiste.
(Espero ter ajudado,) Um bom trabalho, Ana ;)
Sérgio Ribeiro, 37109
Obrigada, Sérgio!
ResponderEliminarEsta é, de facto, uma imagem capaz de despertar mil leituras. Gostei do teu "desobstruir do silêncio" - que será, naturalmente, referido na minha apresentação! :)