quinta-feira, 18 de março de 2010

Hopper e Bukowski: unidos pelo que não nos contam

Edward Hopper
Hotel room, 1931

óleo sobre tela, 152,4 x 165,7cm

Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid
Edward Hopper (1882-1967): pintor realista, nascido no estado de Nova Iorque. Reservado e introspectivo, raramente falou da sua obra. Discípulo de Robert Henri, precisou de usar o seu talento como ilustrador até conseguir viver das suas obras, o que só aconteceu depois de ter mais de 40 anos de idade. Actualmente, é considerado um dos expoentes da pintura americana do séc. XX. Algumas das suas obras mereceram o estatuto de ícones americanos, tal é a maneira como retrata cenas quotidianas da vida naquele país.

I Am Visited by an Editor and a Poet

by Charles Bukowski
I had just won $115 from the headshakers and
was naked upon my bed
listening to an opera by one of the Italians
and had just gotten rid of a very loose lady
when there was a knock upon the wood,
and since the cops had just raided a month or so ago,
I screamed out rather on edge—
who the hell is it? what you want, man?
I’m your publisher! somebody screamed back,
and I hollered, I don’t have a publisher,
try the place next door, and he screamed back,
you’re Charles Bukowski, aren’t you? and I got up and
peeked through the iron grill to make sure it wasn’t a cop,
and I placed a robe upon my nakedness,
kicked a beercan out of the way and bade them enter,
an editor and a poet.
only one would drink a beer (the editor)
so I drank two for the poet and one for myself
and they sat there sweating and watching me
and I sat there trying to explain
that I wasn’t really a poet in the ordinary sense,
I told them about the stockyards and the slaughterhouse
and the racetracks and the conditions of some of our jails,
and the editor suddenly pulled five magazines out of a portfolio
and tossed them in between the beercans
and we talked about Flowers of Evil, Rimbaud, Villon,
and what some of the modern poets looked like:
J.B. May and Wolf the Hedley are very immaculate, clean fingernails, etc.;
I apologized for the beercans, my beard, and everything on the floor
and pretty soon everybody was yawning
and the editor suddenly stood up and I said,
are you leaving?
and then the editor and the poet were walking out the door,
and then I thought well hell they might not have liked
what they saw
but I’m not selling beercans and Italian opera and
torn stockings under the bed and dirty fingernails,
I’m selling rhyme and life and line,
and I walked over and cracked a new can of beer
and I looked at the five magazines with my name on the cover
and wondered what it meant,
wondered if we are writing poetry or all huddling in
one big tent
clasping assholes.

Charles Bukowski, escritor Norte-Americano (1920-1994), escreveu romances, contos e poesia. A sua obra transporta-nos directamente para a skid-row, principalmente da cidade onde viveu quase toda a sua vida: Los Angeles. Conhecido pelo seu estilo directo e cru, quase todos os seus textos são autobiográficos, tendo para tal criado um alter-ego, Henry Chinaski, tendo por base a sua própria vida. Tal como Hopper, a fama veio relativamente tarde. Teve empregos como carteiro ou estivador e os problemas com o álcool foram uma constante ao longo dos anos, bem como uma atribulada vida sentimental.

Esboço da reflexão:

o que me parece que liga o trabalho destes dois artistas é precisamente aquilo que eles não contam, e que é deixado a quem vê ou lê para imaginar, para preencher os espaços em branco. Tanto no quadro como no poema escolhidos existe sempre algo que fica por contar, quer, por exemplo, o papel em branco nas mãos da mulher,o que ela faz ali, ou o motivo da visita feita a Bukowski por um editor e um poeta, pois eles entram e saem e continuamos na mesma. Não sabemos, só podemos supor.

4 comentários:

  1. André:
    Volto a sugerir que delimite um excerto do texto literário e que aprofunde a leitura do texto visual, antes de elaborar um diálogo entre ambos que deverá ser baseado na temática do corpo.
    Diana Almeida

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  2. Este quadro parece-me extremamente “populado” para uma obra de Hopper. Como habitual o pintor capta um momento: a personagem está na vertigem/ no limbo de fazer qualquer coisa – com o papel talvez, como referes. É uma cena de interior. Estamos a ser voyeurs desta personagem feminina. São muitos os objectos que “desarrumam” a representação. Por outro lado a figura humana continua ordenada e imaculada (a cara escurecida, por sombras?) como habitual. A composição da pintura também causa algum estranhamento. A parede do lado esquerdo esconde uma parte da cama, assim como, a possível janela (penso vir luz desse fora de campo). Parece que esta mulher, dentro do seu tempo, está tão perdida na confusão como Bukowski escreve no poema. A mulher está afinal num quarto de hotel, espaço esterilizado, sem identidade, impessoal – está em viagem. Esta errância pode ser importante para a desarrumação que se verifica neste canto do quarto.

    Na relação a outros quadros de Hopper penso que este coloca ainda mais e mais fortes fronteiras físicas e psicológicas. Em “A woman in the Sun” ou “Automat”, os quais figuram mulheres sozinhas, porém em situações e contextos diferentes, encontramos espaços arrumados. Acredito, com alguma força, que Hopper não queria contar histórias, mas um pouco á luz dos Impressionistas, pintar um “resumo”, uma “síntese” de um reconhecimento percepcionado ou imaginado da vida da América. As suas representações não são ingénuas. Ele queria dar a sua versão de_ .

    Continuação de bom trabalho!


    Maria Carneiro
    nº 35164

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  3. Ola,
    I agree with you that we could only guess, we don't know anything for sure. I like the Hopper's sense of colours and composition. But I think the most interesting thing in these two works is imagination. Our imagination? It could be. Anyway, it is about the power of it.

    Abracos,
    Jagienka Szymańska

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  4. Olá turma!
    Bom, como grande apreciadora que sou da obra de Hopper não podia deixar de vir dar uma opinião.
    Começo por dizer que acho muito arriscado (até ousado) afirmar peremptoriamente que Hopper era realista, é verdade que teve como mestre Robert Henri mas acho que a sua influência se deu apenas no que toca à temática, e não tanto no que concerne ao estilo e composição. Na verdade, Hopper admira imenso as obras impressionistas francesas (apesar de estas estarem já um pouco "ultrapassadas"), por outro lado despreza as correntes mais modernas como o Abstraccionismo mas é retribuído com admiração por parte destes pintores pela sua inigualável sensibilidade moderna.

    Em relação a esta obra tenho a dizer que não vejo "nada por dizer", considero que os seus quadros são bastante simplistas, directos e objectivos. Uma mulher sentada numa cama, a ler com um ar introspectivo, característico daqueles que lêem. É um isolamento pessoal, tão típico de Hopper (como referes), mas não passa disso, está ali apenas um corpo porque a mente viaja com a narrativa do livro. E inúmeras são as obras em que Hopper utiliza este mesmo estilo, tomem-se como exemplo "Hotel Lobby" (1943), "Second Story Sunlight" (1960)e "Chair Car" (1965), todos eles com um elemento em comum: uma figura a ler, isolada de um espaço físico. Estas personagens solitárias das suas obras lembram corpos "não falantes", evitando desta forma que surjam as conversas banais que Hopper tanto evita.
    O quarto está, de facto, "muito populado" (como refere a colega Maria) mas... haverá quadro com mais pessoas que "Noctívagos" (1942)? Este quarto não tem qualquer perturbação sonora, nem rádios, nem telefones, que possam desviar a atenção da personagem que "consome" o livro. É uma solidão propositada, provocada pelas personagens que nada têm a dizer.
    Já o poema é bastante "ruidoso", o barulho das latas de cerveja esmagadas pelo chão não nos sai da cabeça e mistura-se com a 1ª percepção que recebemos da obra. Aqui tudo é calmo... por enquanto.
    A efemeridade das suas imagens lembram frames de filmes colocados em "freeze" (o filme "Couraçado de Pontemkin" de Eisenstein tiha surgido à apenas seis anos), por isso quando carregarmos no "Play" elas voltarão à acção e o seu significado tornar-se-à claro.
    Como apreciador de cinema que era, Hopper terá sido influenciado por algumas técnicas cinematográficas como os contrastes de luz (Hopper é, para mim, um dos mestres da luz) e os ângulos de visão escolhidos tão "fílmicos".

    Para concluir, acho que fizeste uma boa aposta! A imagem fotográfica do poema coincide na perfeição com esta obra de Hopper.

    Bom trabalho!

    Abraço Revolucionário,
    Ana Duarte

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