Identical Twins, Roselle NY 1967, Diane Arbus
I am the poet of slaves,and of the masters of slavesI am the poet of the bodyAnd I am[Entire passage struck through]
I am the poet of the bodyAnd I am the poet of the soulThe I go with the slaves of the earth are mine andThe equally with the masters are equally [illegible]And I will stand betweenthe masters and the slaves, And I Entering into both, andso that both shall understand me alike.
Walt Whitman, Leaves of Grass, Notebook, 1857
Diane Arbus, fotógrafa Norte-Americana. Nasceu a 14 de Março de 1923 na cidade de Nova Iorque e morreu a 26 de Julho de 1971.
Conhecida pelos seus retratos, ganha destaque na história da fotografia por ter sido a primeira fotógrafa americana a ser escolhida para a Bienal de Veneza de 1972.
Arbus rompe com a representação realista da escola documental dos anos 30/40.
Segundo John Szarkowski, fotógrafo norte-americano (1925-2007), "a sua obra afastou-se das principais preocupações da geração anterior, valorizando a precisão psicológica acima da frontal, o particular acima do social, aquilo que era permanente e protótipo acima do efémero do fortuito e a coragem acima da subtileza."
A “verdade” da obra está na integridade pessoal do fotógrafo.
A sua opção, de fotografar pessoas incomuns, assina os seus trabalhos, mostrando ao mundo um outro olhar sobre os “freaks”.
Com o objectivo de realçar os objectos em relação ao fundo, Arbus utiliza o flash durante o dia esta dupla exposição à luz sublinha o essencial.
Período histórico; Segunda Grande Guerra, Guerra do Vietname, Guerra-fria.
Walt Whitman, poeta norte-americano. Nasce a 31 de Maio de 1819 em Long Island, e morre a 26 de Março de 1892.
Considerado um dos maiores poetas norte-americanos, rompe a ideia de imitação da arte europeia através do seu patriotismo.
Poeta democrata, marca os seus textos com referências à igualdade e, constrói, também ele, a história do país.
“He was the poet who dared to claim poetry for America as well as America for poetry”[1]
A sua principal obra, Leaves of Grass, foi editada pela primeira vez em 1855, continha apenas doze poemas e não era assinada. Ao longo da sua vida foi reeditando Leaves of Grass, construindo uma visão histórica da América baseada nas suas próprias experiências, como por exemplo” Drum-Taps”, que tem por base a sua vivência da Guerra da Secessão. Leaves of Grass foi reeditado oito vezes.
A utilização do verso livre marcou toda a literatura posterior como o caso do poeta e ensaísta português Fernando Pessoa.
Período Histórico; Expansão do território americano, crise económica de 1837, Guerra da Secessão, 1861-1865, Abolição da escravatura, 1863.
Numa leitura transversal ao retrato de Diana Arbus e ao poema de Walt Whitman, é clara a ideia de identidade.
O retrato, uma forma linear de imortalizar o momento, um congelamento do tempo, a questão dos gémeos, uma duplicidade da própria natureza como um sublinhar de que todos somos iguais. A utilização de roupas iguais, transformando dois indivíduos numa cópia fiel do outro. Contudo Arbus tenta mostrar que a identidade é marcada por muito mais do que simples marcas, como num jogo das diferenças. Aqui reside a verdadeira arte de Arbus. Perante o que parece ser um retrato simples de duas irmãs, neste caso gémeas, uma imagem que poderia ser um retrato inocente de família, é sublinhada a mensagem de que cada indivíduo tem a sua própria identidade. Ao observarmos o retrato vemos a diferença no sorriso, a diferença do olhar, que numa primeira leitura parece ser idêntico, referência ao título, Identical Twins.
A descentralização da fotografia é também uma marca dessa identidade, embora a gémea que se encontra à esquerda do enquadramento esteja mais centrada é na luminosidade da identidade, da singularidade, que somos imediatamente atraídos para a gémea à direita.
A frontalidade, conseguida através da utilização do ângulo recto, posição da câmara face ao objecto, torna o retrato, de alguma forma, num Raio X psicológico, em que não há subterfúgios, esta frontalidade, linearidade confere humildade à obra de Arbus. Salientando, para um olhar mais atento, democracia, igualdade, humanidade.
No poema de Walt Whitman, é na utilização do pronome pessoal “I”, utilizado pelo poeta que, como o Professor Mário Jorge Torres diz, Whitman utiliza como um pseudónimo que por acaso é o seu próprio nome, que encontro a primeira marca de identidade. É nesta familiaridade, nesta exposição, que Whitman se aproxima do leitor. De alguma forma, com a mesma humildade que Arbus imprime nos seus retratos, sublinhando a individualidade em relação ao colectivo. Por outras palavras, distingue o indivíduo dentro da sociedade, atribuindo-lhe ou salientando as marcas do seu carácter visíveis através da fotografia.
Ainda em relação ao poema, palavras como equally, between, alike, transcrevem a ideia de um plano único. Um mesmo mundo para pessoas diferentes onde todos podem e devem ser aceites. À parte da identidade, papel de cada um, uma democracia que promove igualdade” entering into both // so that both shall understand me alike”.
É neste paralelo que encontro o verdadeiro elo entre o retrato de Arbus e o poema de Whitman. A forma como ambos retratam uma América pessoal, uma América visitada por Americanos, que não apenas vêem, mas sentem as diferenças, as desigualdades, os esquecidos.
Assim como Walt Whitman resgatou para a poesia problemas como o da escravatura, Arbus trouxe a imagem dos que, na sua diferença, são os verdadeiros escolhidos.
Bibliografia / Sitiografia
Alves, Teresa, Teresa Cid (coord), Walt Whitman “Not only summer, but all seasons”, Ed Colibri
http://www.poets.org/
http://whitmanarchive.org/
http://bailiwick.lib.uiowa.ed/
http://www.youtube.com/
http://www.wikipedia.org/
http://www.americanpoems.com/
http://www.masters-of-photography.com/
http://www.artphotogallery.org/
www.ldesign.wordpress.com
Marisa Vieira
Nº 35663
[1] Walt Whitman “ Not only summer, but all seasons”, pag, 11