Arte Norte-Americana 09
Diana V. Almeida
American Visions, Vídeo 3
“A Natureza e o Oeste”
América como templo da Natureza
Identidade nacional = paisagem (orgulho nas dádivas divinas) = Parques Naturais vs. monumentos históricos da Velha Europa
América como protótipo da Natureza no seu estado virginal/adâmico. Vide Thomas Locke (1632-1704), filósofo que inspira liberalismo e princípios políticos da Constituição Americana (1787): “Thus in the beginning all the World was America” (Second Treatise of Government, 1689)
Pintura
Thomas Cole (1801-1848)
Influenciado por Romantismo europeu: Claude Lorrain (1600-1682) e William Turner (1775-1851) + Fundador Hudson River School (pinta sobretudo este rio e montanhas de Catskill, onde cataratas de Kaaterskill eram destino turístico para contemplar o sublime)
“View from Mount Holyoke, Northampton, Massachusetts, after a Thunderstorm” (1836): visão pastoral da Arcádia Americana
James Audubon (1785-1851)
Herdeiro realismo empírico de Singleton Copley
Birds of America (1828-1838): serializado (87 volumes com 5 gravuras cada), gravuras a cor, em tamanho natural a partir aguarelas e desenhos a pastel + 435 espécies de aves em tamanho natural
Frederick Church (1826-1900)
Discípulo de Cole + inspirado por John Constable (1776-1837)
Pintor como estenógrafo de Deus, reconcilia ciência e religião – pormenores naturalistas aliados a pintura paisagística com tonalidades morais
“Niagara” (1857): desafia e supera anteriores representações destas cataratas como imagem do sublime natural na América + “Heart of the Andes” (1859): compósito de excertos de paisagens observadas durante viagem à América do Sul, apresentada ao público (com imenso sucesso) numa encenação (enquadrada por uma janela, atrás de cortina, rodeada por plantas), como gesto de apropriação do território a desbravar, a civilizar (estilo sublime colonial) + “Our Banner in the Sky” (1861), os elementos naturais num hino patriótico, reproduzido em cromolitografia e distribuído por soldados da União e suas famílias durante Guerra Civil (1861-1865)
Casa Olana (c. 1870) – planeada e decorada por ele com motivos árabes (Terra de Cristo, pintor viajara Médio Oriente 1867) + decorada segundo lógica do museu enciclopédico
Albert Bierstadt (1830-1902)
Participa expedições (científica e jornalística, respectivamente) ao Oeste (1858, 1863), mas “compõe paisagens de excertos”, procurando obter máximo efeito na figuração idílica da imensidade primitiva do espaço a conquistar. Ex. “The Rocky Mountains, Lander’s Peak” (1836), tela dimensões panorâmicas (1,87 x 3 m.)
Barões da indústria (caminhos-de-ferro, minério, madeiras) apoiam este tipo de arte, que preserva natureza no estado edénico e incentiva turismo vs. impacto ecológico da expansão territorial
“The Last of the Buffalo” (1889) rejeitado por comissão avaliadora americana para representar país no Salon de Paris do mesmo ano: sinal de mudança enfoque imaginário colectivo
Thomas Moran (1837-1926)
Expedição geológica a Yellowstone e Rocky Mountains, dirigida por Ferdinand Hayden, 1871 – Moran pintor oficial (com viagem subsidiada pela Northern Pacific Railroad) + William Henry Jackson (1843-1942) fotógrafo
“The Grand Canyon of the Yellowstone” (1839-1901), dimensões 2,46 x 4,28 m: comprada para Capitólio, paisagem como herói, exposta entre retratos dos políticos americanos + coincide com criação do primeiro Parque Natural, Yellowstone (1872), área total de 8,983 km
Ilustrações do Manifest Destiny – mito expansionista que exime violência do sentido de culpa/responsabilidade + América como instrumento do Progresso + mote popularizado séc. XIX “Westward the course of Empire takes its way” (verso de George Berkeley, 1752)
Figura emblemática é Daniel Boone (1734-1820): sua autobiografia (ditada a John Filson, 1784) torna-se modelo das narrativas hiperbólicas (“tall tales”) dos posteriores heróis de fronteira (como Davy Crockett, 1786-1836) + visto como mediador entre estado selvagem e civilização + retratado como Moisés liderando povo escolhido para Terra Prometida
Ex. George Caleb Bingham (1811-1879), “Daniel Boone Escorting Settlers through the Cumberland Gap” (1851) + Emanuel Leutze (1816-1868), “Westward the Course of Empire Takes Its Way (Westward Ho!)” (1861), mural no Capitólio, 6 x 9 m
Fronteira encerrada oficialmente pelo Governo em1890 - popularidade paisagem épica declina; desde 1870s identidade americana ligada espaço urbano, máquina, crescente consciência das desigualdades sociais
Oeste torna-se objecto de culto nostálgico, imagem do cowboy (liberdade instintiva, masculinidade esforçada), rodeos e dramatizações de cenas históricas (Last Stand: derrota General Custer contra várias tribos índias, na batalha de Little Bighorn, 1876 + reencenada pela 1ª vez 1 ano depois!)
Frederic Remington (1861-1909): “Fight for the Waterhole” (1903), violência defensiva (xenofobia declarada do pintor) + ansiedades homem branco face alteridade e tensões raciais (tribos índias + escravos negros + emigrantes europeus de baixa estirpe) + pinturas com sugestões narrativas influenciam filmes do faroeste (algumas sequências dos westerns realizados por John Ford baseiam-se em pinturas de Remington)
Charles Schreyvogel (1861-1912): “Defending the Stockade” (c. 1905) + fotografia anónima de 1903, cowboy posa para artista, no cimo de prédio
Luministas
Costa Leste. Realismo em diálogo com filosofia transcendentalista (Emerson, Thoreau), mar como veículo de transcendência meditativa e metáfora para eternidade
Fritz Hugh Lane (1804-1865): “Boston Harbour” (1855-58), retrato dos navios dos mercadores prósperos, ancorados em porto seguro
Martin Heade (1819-1904): influência de românticos europeus, em particular Caspar David Friedrich + “Approaching Thunder Storm” (1859), paisagem minimalista, clareza na definição de cada objecto
John Kensett (1816-1872): “Eaton’s Neck, Long Island” (1872), qualidade abstracta da costa marítima
Imagem do índio na arte
Bom Selvagem de Rousseau (vs. Thomas Hobbes) - Demónio - Caso Perdido
Charles Bird King (1785-1862): “Young Omahaw, War Eagle, Little Missouri, and Pawnees” (1821), enviados das tribos índias que vêm negociar com governo em Washington representados com a dignidade dos antigos romanos
George Catlin (1796-1872): viaja pelo Oeste para descrever costumes das Tribos da Planície (cerimónias religiosas, caça ao búfalo, Chefes resistentes Governo Federal) + imbuído consciência mudança histórica e perigo extinção cultura nativa propõe criação de reserva, Nation’s Park, para preservar índios (fora do progresso/do tempo) + 1840 visitara 48 tribos, mas seu projecto “Indian Gallery” não é comprado pelo Governo
Indian Removal Act de 1830, Presidente Andrew Jackson (1767-1845): 70 mil índios obrigados a deixar suas terras e deslocarem-se para oeste do Mississippi + resistência ao homem branco traduzida como histórias de atrocidade
Ex. John Vanderlyn (1775-1852): “Murder of Jane MacCrea” (1804), recuperação modelo narrativas de cativos (“captivity narratives”) . Charles Deas (1818-1876): “The Death Struggle” (1845), luta de cavaleiros branco e índio, caindo no abismo com suas montadas
1840s: consciência de que imparável lei do progresso condenara índios à extinção. Ex. Tompkins Matteson (1813-1884): “The Last of the Race” (1847)
Crazy Horse Memorial: escultura monumental (altura planeada de 172m) iniciada nos Black Hills, em 1949, por Korczak Ziółkowski (1908-1982) e hoje continuada por familiares seus + projecto inicialmente encomendado por vários Chefes Lakota, por contraponto a Mount Rushmore (com efígies dos Presidentes)